62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 7. Economia Regional e Urbana
ANÁLISE COMPARATIVA DE PREÇOS DOS ESCRAVOS DE GOIÁS VELHO EM RELAÇÃO A OUTROS ESTADOS POR MEIO DE LIVROS CARTORÁRIOS ENTRE 1863 - 1888.
Alisson Robert Gomes Peixoto 1
Flávio Rabelo Versiani 2
1. Departamento de Economia, Universidade de Brasília - UnB.
2. Prof. Dr/Orientador - Departamento de Economia - UnB.
INTRODUÇÃO:

O objetivo da pesquisa é investigar a relação entre o mercado de escravos em Goiás e no restante do país, buscando evidências de que a província participava de um sistema de tráfico interno de escravos, como já constatado para outras regiões. As transações internas de escravos ganharam força quando, em 1850, extingue-se definitivamente o tráfico africano para o Brasil. Existia, então, uma população escrava da ordem de 1,5 milhões, cuja metade vivia nas províncias do Nordeste. Neste período a economia cafeeira encontra-se em expansão no Sudeste, demandando mão-de-obra. Intensifica-se então um movimento de venda de escravos, especialmente daquela para esta região. Devido a isso, em 1887, dois terços do total de escravos estavam na região Sudeste. Um dos princípios que corroboram a existência do tráfico interno é a tendência de homogeneização dos preços de escravos entre regiões, devido ao principio da arbitragem. Assim, o foco da pesquisa é a comparação desses preços em Goiás e em outras províncias de modo a demonstrar que o principio da arbitragem de fato era praticado neste período, de modo a aproveitar a decadência do minério do centro oeste para obtenção de escravos a um preço mais baixo, até que este se iguale ao restante do país.

METODOLOGIA:

Para verificar a existência de um tráfico interno de escravos, foi necessário construir uma série de preços dos cativos na região de Goiás, até agora não disponível. Para isso, foram fotografados os registros de todos os livros existentes nos cartórios da cidade de Goiás Velho, relativos ao século XIX. A pesquisa, nesta etapa, concentrou-se nos dados referentes à década de 1860, de modo que foram pesquisados 879 registros cartorários, dos quais 129 eram lançamentos de vendas de escravos, sendo essa então, a série utilizada. Foram retirados os seguintes dados das transações registradas: preço, idade e gênero do escravo, nome do comprador, nome do vendedor e data da transação. Esses dados foram classificados de modo a possibilitar a análise das seguintes relações: sexo-preço, idade-preço, ano da transação-preço. Em seguida, lançou-se mão de dados disponíveis na literatura sobre preços de escravos em Pernambuco, Minas Gerais e Bahia, referentes ao mesmo período e procedeu-se a uma comparação dos preços, de modo a corroborar ou não a tese levantada de existência de arbitragem.

RESULTADOS:

Através dos estudos dos dados obtidos nos registros cartorários de Goiás Velhos, constatou-se que os preços praticados na região são em geral da mesma grandeza dos praticados nas outras regiões para o mesmo período e características de escravos. Foi verificado também, uma concentração de transações realizadas na região, de escravos na faixa etária de 15 a 40 anos. Essa faixa etária é a mais produtiva para os serviços demandados dos escravos, e conseqüentemente, a mais procurada para comercialização interprovincial desses cativos. Foi constatado também que na média, o preços dos escravos homens eram mais caros do que os das mulheres para a mesma faixa etária, assim como o maior preço praticado encontrava-se na faixa dos 16 aos 25 anos, tanto para homens quanto para mulheres. Em relação a outras províncias, foi-se observado uma pequena diferença nos preços, para categorias iguais, mas que não foi caracterizado como diferenças relevantes senão a custos diferentes de deslocamento.

CONCLUSÃO:

Os resultados obtidos por meio da pesquisa cartorária assim como a utilização dos estudos existentes para outras regiões sugerem que realmente a província de Goiás estava integrada em um mercado interprovincial de escravos, provavelmente como região exportadora. Isso vai contra a tese utilizada até então de que a região não possuía relevância no contexto nacional de mercado de escravos, cuja concentração situava no litoral do Nordeste ao Sudeste. O tráfico exercia a função de arbitragem de preços, trazendo-o a um nível aproximadamente uniforme entre as regiões, o que foi comprovado pelos estudos, mesmo estando a região de Goiás em decadência pelo fim do ouro. As pequenas diferenças observadas entre as províncias podem ser atribuídas a particularidades das economias locais, assim como a custos de deslocamento. Essas conclusões robustecem a idéia de um mercado nacional de escravos, cuja existência tem sido aventada na literatura; assim como a consolidação da interiorização do país já no século XIX.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Arbitragem, Comércio Escravista, Economia Regional..