62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
MATERNIDADE ADOLESCENTE NO MÉDIO SOLIMÕES
Maria Creusiane de Souza Moraes 2, 1
Maria de Fátima Ferreira 1
Eunice Cesário da Silva 2, 1
1. Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas/FAPEAM
2. Universidade do Estado do Amazonas/UEA
INTRODUÇÃO:
As lutas feministas começaram nos anos 70 e logo chegaram ao Brasil com força total, com muitos debates emergentes sobre a saúde das mulheres e direitos reprodutivos. A saúde reprodutiva feminina passou a abranger: a contracepção, o aborto, o pré-natal, o parto, o câncer de mama e de colo do útero, doenças sexualmente transmissíveis, e também a gravidez na adolescência, entre outros. Estudos indicam que para os adolescentes, mesmo que eles tenham informação sobre os riscos, qualquer planejamento pode tirar o encanto do sexo, o que os leva a praticar o ato sem pensar nas consequências. Outro problema é que os postos de saúde não atraem os jovens, eles têm medo de ser repreendidos pela decisão de iniciar a vida sexual e não confiam no Sistema Único de Saúde (SUS). Só quando os adolescentes passam por uma situação de risco é que eles vão pensar em se prevenir. O presente trabalho de Iniciação Científica teve como objetivos estudar a gravidez e o parto na adolescência, focando também as desigualdades sociais de sexo, no município de Tefé/AM no período de 2006-2008, através das teorias de gênero, saúde e direitos reprodutivos, já que a maternidade adolescente no Médio Solimões é frequente na cidade e é grande a carência de estudos voltados para essa problemática.
METODOLOGIA:
Para a realização deste trabalho, os dados quantitativos considerados foram dos anos de 2006, 2007 e 2008 das mães Tefeenses, obtidos através dos registros da Secretaria de Saúde de Tefé-SEMSA. Foram tabulados os seguintes dados das mulheres do Médio Solimões: número de partos por idade de mães adolescentes, raça/cor, escolaridade, estado civil, tipo de parto, local de ocorrência do parto, consultas de pré-natal e nascimentos por sexo. Posteriormente com o uso do programa Excel os mesmos foram transformados em gráficos, para melhor entendimento do leitor. Para obtenção dos dados qualitativos com intuito de comparar as histórias de vida de três gerações de mulheres tefeenses, foi escolhida uma jovem mãe de 18 anos; já conhecida, que estava no Centro de Saúde Irmã Adonay, sua mãe e também sua avó. As entrevistas ocorreram no período de maio a junho de 2009, somando um total de duas entrevistas com cada uma das mães escolhidas. Utilizou-se para os registros das imagens máquina fotográfica digital para melhor transcrição de fotos e vídeos. Após aos encontros foram feitas as transcrições das diferentes imagens adquiridas.
RESULTADOS:
O estudo sobre partos na região do Médio Solimões, no período de 2006-2008 resultou em 5.420 (cinco mil quatrocentos e vinte) partos. Esses partos foram realizados no hospital municipal de Tefé (93%); a maioria por parto vaginal 85%. Essas mulheres fizeram de quatro a seis consultas de pré-natal. A idade variou de 10 a 50 anos, sobretudo na idade entre 10 a 30 anos (88%). Quanto à escolaridade, a maioria tem de 8-11 anos de estudo. A maioria das mulheres é solteira (76%) e se declaram de cor/raça parda. Ao aproximar o foco das mulheres envolvidas nessas relações encontramos o seguinte quadro nas entrevistas realizadas com a filha, mãe e avó: Filha: início da vida sexual aos quatorze, ficou grávida aos quinze e estava no momento da pesquisa, com dezoito anos e com dois filhos, os pais de ambos os filhos, precisaram ser acionados na justiça para pagar a pensão alimentícia, ela frequenta a escola, mas tem dificuldade para trabalhar. Mãe: início da vida sexual e gravidez aos treze anos, tem doze filhos, estudou três anos, trabalhou vinte e dois anos na agricultura. Avó: início da vida sexual e primeira gravidez aos doze anos, teve doze filhos com um parceiro e dois com outro, nunca estudou e vive doente devido o longo período que trabalhou na agricultura.
CONCLUSÃO:
Os dados e histórias de vida acima nos permitem concluir que as mulheres do Médio Solimões iniciam a sexualidade e tem sua primeira gravidez ainda meninas, as gerações de mãe e avó desconhecem a contracepção e como resultado tiveram uma prole grande e não possuem escolaridade, enquanto a filha de dezoito anos mesmo conhecendo contraceptivos e tendo acesso à vida escolar, já tem dois filhos. Nas questões de gênero registramos que mãe e filha tiveram a mesma história, com relação aos seus primeiros maridos e pais de seus filhos, foram abandonadas pelos mesmos que nunca quiseram saber das crianças. Podemos assim afirmar que as três gerações de mães entrevistadas não tiveram seus direitos sexuais, de saúde e escolaridade garantidos pelo Estado. Além de nas relações de gênero existir desigualdades, porque tanto a contracepção quanto os cuidados com os filhos foi responsabilidade apenas das mulheres. Os dados obtidos da população de mulheres do Médio Solimões, que engravidam com idade de dez a cinquenta anos reforçam e confirmam os resultados registrados das três gerações de mulheres entrevistadas, que também isolaram-se da sociedade em geral e ainda se viram obrigadas à assumir sozinhas todas as responsabilidades da nova família.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas/FAPEAM
Palavras-chave: Maternidade Adolescente, Relações de gênero, Saúde e direitos reprodutivos.