62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 5. Odontologia Social e Preventiva
CONCENTRAÇÕES DE FLÚOR NA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO EM ÁREA RURAL DO SEMI-ÁRIDO PARAIBANO
José Ferreira Lima Junior 1
Maria Soraya Pereira Franco Adriano 1
Rosimeire de Farias Oliveira 2
Alexandre Pessoa da Silva 3
Franklin Delano Soares Forte 4
Fábio Correia Sampaio 4
1. Escola Técnica de Saúde de Cajazeiras, Universidade Federal de Campina Grande
2. Fundação Nacional de Saúde - FUNASA - PB
3. Ambios Engenharia, São Paulo - SP
4. Departamento de Odontologia; Laboratório de Biologia Oral - LABIAL / UFPB
INTRODUÇÃO:
A fluorose dentária é uma opacidade do esmalte que ocorre pela ingestão prolongada de fluoretos durante a formação dentária. Tal exposição pode provocar alterações tanto macroscópicas quanto microscópicas nos dentes. Microscopicamente, o esmalte fluorótico mostra superfície interna porosa que clinicamente apresenta aspectos variados, desde linhas esbranquiçadas pouco perceptíveis até áreas 'enevoadas' ou totalmente esbranquiçadas ou enegrecidas. A fluorose dentária se constitui como um problema de veiculação hídrica porque se estima que a água contribua com 80% do flúor (F) ingerido pelo homem. A dose-resposta que epidemiologicamente observa-se redução de cárie com o mínimo de fluorose é determinada pela temperatura local. Para a região Nordeste, estabeleceu-se como ideal a [F] de 0,7 mg/L. Além do comprometimento estético do esmalte, a fluorose pode causar distúrbios psicológicos irreversíveis em crianças e adolescentes. Enquanto agravo importante de saúde pública, vários têm sido os esforços no sentido de identificar áreas de fluorose endêmica na região nordeste. Frente ao exposto, o objetivo desta pesquisa foi verificar os padrões de potabilidade das águas para consumo humano na localidade de Brejo das Freiras, no município de São João do Rio do Peixe, alto sertão paraibano.
METODOLOGIA:
As amostras foram em 7 poços artesianos e 2 reservatórios de superfície da zona rural de São João do Rio do Peixe/PB em agosto de 2009. As fontes de coleta foram selecionadas pela comprovação de uso da água para consumo humano. Nas coletas foram usados tubos de poliestireno pré-lavados com água deionizada; a análise se deu no Laboratório de Biologia Oral/UFPB. As amostras foram analisadas para o flúor (F) pelo método direto, usando o eletrodo íon-específico combinado (Orion 9609), acoplado a um potenciômetro (Orion 720A) calibrado com soluções-padrão de flúor. Uma alíquota de 1 mL de cada amostra foi misturada com volume igual de TISAB II (tampão de ajuste da força iônica total). Daí se colocou a solução sob agitação em contato com o eletrodo. Construiu-se a curva de calibração a partir de soluções-padrão de F preparadas por diluição seriada de um estoque-padrão contendo 100 ppm F (Orion) contendo 0,05 a 6,4 mg/L. As leituras obtidas em milivoltagem foram convertidas para mg de F, através do Excel. A média das leituras obtidas a partir dos padrões foi inserida na planilha e calculada o percentual de variação entre a quantidade de F medida e a esperada pelos padrões. Somente curvas de calibração com percentual de variação de até 5% para todos os padrões e r³ =0,99 foram aceitas.
RESULTADOS:
As amostras de água de superfície apresentaram valores de [F] em 0,5 mg/L e, portanto sem risco de provocar fluorose. Entretanto, das amostras dos poços artesianos, apenas dois apresentaram valores inferiores a 1,5 mg/L. Portanto, do total de nove amostras cinco dessas (todas de poços) apresentaram-se inadequados para consumo humano quanto às concentrações de flúor acorde à portaria n° 518/2004. Observou-se que 67% das fontes locais de abastecimento público de água apresentam risco estimado para fluorose dentária para uma população estimada em quase 200 famílias. Duas dessas fontes possuem concentrações muito elevadas de flúor, quais sejam 5,35 e 6,34 mg/L, o que configura risco estimado de fluorose óssea, que é acima de 3,5 mg/L para metade da população consumidora das águas de poços na região. Frente aos resultados, é premente a necessidade de se adotar medidas para minorar o risco dos agravos em tela. Ademais de ofertar tratamento para os casos existentes de fluorose dentária, é necessário que pesquisas no sentido de investigar os riscos de fluorose óssea sejam desenvolvidas. Em adição, é mister que se promova políticas de desfluoretação da água utilizada pela população local, para reduzir os teores de F nas águas de consumo humano na Vila de Brejo das Freiras.
CONCLUSÃO:
Considerando o disposto no capítulo I da Portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, toda a água destinada ao consumo humano deve obedecer ao padrão de potabilidade e está sujeita às normas da vigilância da qualidade da água. Desse modo, verificou-se que na localidade de Brejo das Freiras a água da maioria das fontes individuais de abastecimento não está dentro dos critérios de potabilidade quanto à concentração de flúor. Mais da metade das amostras apresentaram-se impróprias para o consumo humano, sendo que em duas delas há o risco de fluorose óssea quando do consumo contínuo das fontes de água com teores acima de 3,5 mg/L. Diante do exposto, sugere-se a necessidade de implantação de um sistema que contemple um processo de desfluoretação das águas distribuídas, para que possam os requisitos estabelecidos pela legislação vigente.
Instituição de Fomento: CNPq (Processo: 576703/2008-7 - Edital CT-Hidro/CT-Saúde nº 45/2008 - Água e Saúde Pública e Edital CT-Hidro nº 22/2009)
Palavras-chave: Fluorose, Água para consumo humano, Comunidades rurais.