62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública
As dificuldades de implementar no ESF um processo de trabalho baseado nos determinantes sociais do processo saúde-doença
Hanna Helen Matos Dourado 1
Leilson Lira Lima 1
Lucilane Maria Sales da Silva 1
Carliene Bezerra da Costa 1
Maria Verônica Sales da Silva 2
Francisca Andressa Lima Pereira 1
1. UECE
2. 1° CRES
INTRODUÇÃO:

 A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi criada em 1994 como forma de fortalecer o processo de descentralização, respeitar as diversas realidades locais, reafirmando as diretrizes e os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), além de se apresentar como um modelo de superação ao modelo assistencial biologicista e tecnicista hegemônico existente no Brasil. Constituindo-se esta como um  complexo ato de trabalho, permeado de problemas, incertezas, subjetividade e conflitos. Diante disso, surgem dificuldades de implementação de um processo trabalho que atenda as várias necessidades da comunidade. Percebe-se que o PSF, apesar de representar um avanço para a saúde pública no país e ser ele um meio de legitimar e fortalecer os princípios do SUS, ainda não consegue cumprir seu devido papel no que se refere a resolver os reais problemas de saúde da população, por isso, este estudo é relevante para entendermos quais as dificuldades existentes segundo os olhos dos próprios profissionais que atuam no ESF. Desse modo, objetivou-se verificar as dificuldades de implementação de um processo de trabalho baseado nos determinantes sociais do processo saúde-doença e analisar os problemas existentes que dificultam esta.

METODOLOGIA:

Estudo de caráter descritivo e abordagem qualitativa. Realizado em três Unidades Básicas de Saúde, em Fortaleza-CE. A pesquisa teve como universo 14 profissionais constituintes de equipes de saúde da família que estiverem presentes na unidade no momento da coleta e aceitaram participar da pesquisa. Ao todo foram entrevistadas 03 equipes de saúde da família: 2 médicos, 3 enfermeiros, 3 odontólogos, 3 auxiliar de enfermagem e 3 agentes comunitário de saúde. O estudo terá coleta de dados em três unidades de saúde da Secretaria Executiva Regional IV. Cada unidade conta com cinco equipes do Programa Saúde da Família em funcionabilidade. Utilizou-se para a coleta de dados um roteiro de entrevista semi-estruturada. Os dados foram categorizados e analisados com base na literatura e registro das falas, optando-se pela análise de conteúdo segundo Bardin. O processo de coleta ocorreu entre os meses de agosto e setembro de 2009, após aprovação do Comitê de Ética da Universidade Estadual do Ceará, em conformidade com a Resolução 196/96.

RESULTADOS:

Com as falas dos profissionais verificamos falta de preparo deles em lidar com os determinantes do processo saúde-doença, pois relataram que existem limites de intervenção devido as diferenças sócio-economicas e culturais, dizendo que é difícil a comunicação. Os problemas de saúde são suficientemente complexos, e requerem para a sua resolução, projetos terapêuticos igualmente complexos, sendo necessários atos assistências que perceba o sujeito em sua totalidade, não visando apenas a doença e o processo de cura, mas todo o biopsicossocial que o cerca, bem como reconhecê-lo como autor do seu cuidado, mas nas falas, os profissionais ressaltaram apenas que a comunidade tem muitos problemas além da doença e com isso muitos não possuem perfil para lidar com questões sociais, aparentando ser inertes aos problemas do sujeito e dizendo que não possuem suporte para resolver a complexidade de questões que abrangem este, mostrando, assim, que a assistência é incompleta e despreparada já que não consegue promover o real cuidado que visa o sujeito como um todo. Outros disseram que alguns enfermeiros tem o perfil necessário no ESF, por estes ter uma história na saúde pública, mas muitos médicos ainda estão ligado ao modelo tecnicista.

CONCLUSÃO:

É necessário reconhecer que o usuário que se apresenta na Unidade Básica de Saúde, portador de um problema qualquer, traz consigo, uma realidade sócio-econômica e sanitária, uma certa carga de subjetividade, produto de suas experiências pregressas e vivências atuais e portanto, necessita de uma abordagem completa do seu Ser. Isto pode ser feito numa combinação fina entre as ações programáticas e aquelas que se resumem aos necessários cuidados individuais. Portanto são necessários projetos terapêuticos eficientes e bem trabalhados que atendam as necessidades reais da comunidade. No nosso estudo percebemos que ainda se tem muito que avançar no processo de saúde-doença que tenha como relevância o contexto onde o sujeito está inserido.

Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família, Modelo assistencial em saúde, Processo de trabalho em saúde.