62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem
AS SIGNIFICAÇÕES DA ESCOLHA PELO MAGISTÉRIO POR PROFESSORAS DE ENSINO FUNDAMENTAL
Renata Cristina Façanha de Meneses 1
Jonas Torres Medeiros 1
Ana Ignez Belém Lima Nunes 1
1. Universidade Estadual do Ceará
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Aprendizagem, Desenvolvimento e Subjetividade (LADES). A pesquisa, intitulada "Aprendizagem e Desenvolvimento: Concepções, Práticas e Interações no Espaço Escolar", visa ao resgate da trajetória de vida de docentes, buscando compreender as mudanças concretas que permearam seus trajetos e que influenciaram a escolha pelo magistério. Buscou-se, para análise dos dados, a comparação entre os discursos individuais e o cenário político, cultural e econômico no qual se inserem os pesquisados. Inicialmente, foi feita uma análise das mudanças históricas e culturais para entender as mudanças no discurso dos entrevistados, revisitando, para isso, a história da Educação no Brasil. Outros fatores investigados foram: o fenômeno da feminização do magistério, os fatores socioeconômicos que influenciaram a trajetória profissional, bem como a importância da mediação de outros sujeitos como referenciais de identificação na escolha da profissão. Nesse sentido, a Psicologia Histórico-Cultural foi tomada como suporte teórico central deste estudo, por se tratar de uma via importante para a compreensão de modo crítico e dialético do processo formativo da psique humana a partir de aspectos culturais, sociais e históricos.
METODOLOGIA:
A partir dos diferentes pontos de vista dos sujeitos pesquisados, optou-se, neste trabalho, por uma metodologia de natureza qualitativa, que permite indagar o problema central considerando-o em suas múltiplas perspectivas. A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas da Rede Pública Municipal de Fortaleza, por meio de entrevistas semi-estruturadas com nove professoras dos cinco primeiros anos do ensino fundamental. Optou-se, para fins de análise dos dados, pela classificação dos sujeitos em dois grupos: o primeiro constituído por professoras de formação em nível médio - com geração mais antiga - e as com formação em nível superior - geração mais recente. Esta escolha se deu pela percepção, já na primeira leitura dos dados, sobre a notória diferença nos discursos entre as duas categorias, no que se refere à escolha pela carreira docente. A presença unicamente de sujeitos do sexo feminino na pesquisa não ocorreu de forma intencional: nas escolas pesquisadas, havia apenas mulheres lecionando no ensino fundamental. Portanto, será importante considerar o processo de feminização do magistério no presente estudo.
RESULTADOS:
As entrevistadas apresentam diferenças etárias relativamente longas, com professoras de 59 a 21 anos. O depoimento da trajetória de vida de cada professora remete à história no contexto das políticas públicas, em que duas grandes reformas educacionais afetaram a significação do magistério por parte dos professores. Observou-se também o processo de feminização do magistério como fator marcante. Várias entrevistadas apontam a identificação com outra figura feminina na escolha da profissão. A psicologia histórico-cultural considera que os traços de personalidade são adquiridos por meio de fatores culturais e na prática social. Apesar disso, ainda há uma mistificação no que concerne à concepção da função da mulher como educadora nata, fortemente impregnada pelo mito da maternidade, da mulher com papel educativo associado ao ambiente doméstico. Algumas das entrevistadas consideravam o ensino como um "dom", outras remeteram a escolha profissional a questões familiares e culturais, como o conservadorismo patriarcal, a imposição familiar e o processo valorativo da profissão. Contudo, a formação constitutiva do sujeito não é fornecida apenas por fatores genéticos ou circunstanciais: o sujeito é ativo em seu processo de formação psíquica, nas tramas interativas da sociedade de sua época.
CONCLUSÃO:
O estudo ressalta a importância de se considerar a dinâmica cultural e a história de vida nos processos formativos dos professores. Para mobilizarmos mudanças significativas na prática pedagógica e, portanto, na aprendizagem dos alunos, os docentes precisam ser entendidos de modo contextualizado, integral e dinâmico. Portanto, à luz da psicologia histórico-cultural, o interesse em investigar as significações que os pesquisados deram à sua escolha profissional nasce da compreensão sobre a importância da subjetividade e da história de vida, no modo como o docente não apenas escolhe, mas se posiciona diante de sua prática profissional. Como sujeitos históricos e construtores de suas vidas, ao tomarem consciência de suas opções e percursos, os docentes podem buscar novos significados, refazer trilhas e avaliar melhor seu desenvolvimento pessoal e profissional. Por conseguinte, o trabalho docente, como situa Vigostki, é também um trabalho de natureza psicológica.
Instituição de Fomento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP)
Palavras-chave: Psicologia histórico-cultural, Magistério, Escolha profissional.