62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 9. História Social
SILHUETAS CULTURAIS DA LOUCURA: OS DISCURSOS PSIQUIÁTRICOS COMO NORMATIZADORES DO COMPORTAMENTO FEMININO EM TERESINA NA DÉCADA DE 1950
Auriane Gomes de Melo 1
Larisse de Area Leao Costa 1
Márcia Castelo Branco Santana 1
1. Universidade Estadual do Piauí - UESPI
INTRODUÇÃO:

No século XX a historiografia irá buscar novos objetos e discussões, tanto no âmbito acadêmico como no social, priorizando as minorias marginalizadas pelos historiadores tradicionalistas. Uma dessas minorias que passará a ser analisada, a partir dos Annales, foi a imagem da mulher e sua relação com a loucura. Nesse sentido, a psiquiatria constituiu-se como um dos aportes de construção de discursos normatizadores do comportamento feminino, bem como a necessidade de locais especializados para o tratamento dessas mulheres tidas como loucas. Em Teresina, esse contexto se intensificara com a criação do hospital psiquiátrico Sanatório Meduna e as impressões que essa instituição causou na sociedade teresinense da década de 1950. Assim, analisamos como a construção da imagem da loucura, sobre tudo a feminina, foi formulada pela psiquiatria, sobretudo, no Sanatório, identificando o perfil dos pacientes internados nos quatros primeiros anos de existência da instituição no que concernia a idade, sexo, procedência e grau de instrução. Foi nosso objetivo, também, compreender o grau de importância atribuído ao Sanatório pela sociedade teresinense. Dessa forma, a pesquisa contribuirá para ampliar as discussões sobre a história das mulheres e sua relação com a loucura.

METODOLOGIA:

As investigações feitas sobre os discursos a cerca da loucura feminina pela psiquiatria e a necessidade de ação normatizadora das mulheres que apresentasse comportamentos desviantes, foi possível com a compreensão de conceitos e teorias sobre questões de gênero (LOURO,1997). Outro referencial importante para o trabalho foi a discussão da história cultural, já que a idéia de loucura para alguns historiadores será entendida como um conceito cultural. A partir dessas leituras foram coletados no Arquivo Público noticias vinculada nos jornais Diário Oficial e O Piauí da década de 1950, bem como nos documentos oficiais (mensagens governamentais) que nos permitiram compreender a defesa realizada pela psiquiatria de locais apropriados para o tratamento de pessoas que possuíam desvios de comportamento. Foram coletadas e analisadas as fichas médicas dos pacientes internos entre 1954 e 1957 com o objetivo de fazer um mapeamento do perfil social dos pacientes que foram internados no hospital. Das vinte e uma informações registradas na ficha dos pacientes foram analisados, para uma primeira etapa do trabalho, 6 questões: Sexo, idade, tempo de internação, nível de instrução, profissão e proveniência dos pacientes, evidenciando qual seria o perfil de uma pessoa louca.

RESULTADOS:
A partir das leituras e empirias constatamos que a construção do discurso da loucura na sociedade teresinense da década de 1950 tem seus pilares na opinião pública que reafirmava os valores e convenções da sociedade vigente, enquanto o saber médico psiquiátrico legitimava a necessidade de normatização de ações que fugissem das convenções tradicionais, o que é possível de observar em alguns artigos presentes nos jornais que circulavam na cidade e as ressonâncias deste na construção do perfil da loucura. De acordo com as fichas médicas de 1954 à 1957 constatamos que no universo de 320 internos 66% eram do sexo masculino e 34% do sexo feminino, com 38% na faixa etária de 31 a 50 anos para ambos os sexos. Analisamos que nesse mesmo período o tempo de internação era na média de 1 mês para os pacientes masculinos e femininos nos anos de 1954 a 1956, alterando em 1957 para 2 meses no que se refere os pacientes do sexo masculino. Apesar de o discurso psiquiátrico ser mais intenso para as mulheres, as fichas médicas do Sanatório aponta que o número de pacientes masculinos era em maior número, bem como sua permanência. Ou seja, mesmo sendo minorias e passando um tempo menor internada as mulheres eram alvos de um discurso normatizador que não condizia com a sua real situação de doentes.
CONCLUSÃO:
No século XX era visível em Teresina a presença de um discurso sobre a necessidade de um espaço moderno para abrigar os alienados, assim nascia o hospital psiquiátrico Sanatório Meduna que tem sua sede inaugurada em 21 de abril de 1954 e foi visto como uma alternativa inovadora no tratamento de doenças mentais. Mesmo havendo outro local especializado nesse tipo de tratamento esse não supria as necessidades da região, pois as técnicas adotadas no tratamento dos internos eram ultrapassadas como observamos isso através da uma matéria vinculada no Diário Oficial do dia 23 de abril de 1952. Desse modo, a inauguração do Meduna foi recebida com entusiasmo pelas autoridades políticas, intelectuais e pela sociedade teresinense (DR.CLIDENOR DE FREITAS SANTOS. Diário Oficial, ano XXIV, n.28, p.1 22 abr. 1954). A instituição foi considerada um novo símbolo de modernização do saber médico psiquiátrico e do próprio espaço físico da cidade de Teresina o que nos leva a concluir que o discurso médico foi um dos vetores de construção de uma cidade moderna e de como as mulheres deveria agir nesse novo meio.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, Programa Institucional de Iniciação Científica - PIBIC/UESPI
Palavras-chave: Loucura, Psiquiatria, Mulheres.