62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
MONITORAMENTO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UMA LAGOA URBANA DE FORTALEZA-CE (LAGOA MARIA VIEIRA).
Naiane Costa Lima 1
Ana Carolina Sousa Dinelly 1
Gabriel de Oliveira Monte 1
Kalyl Silvino Serra 1
Raimundo Bemvindo Gomes 1
1. Depto.de Química e Meio Ambiente - IFCE
INTRODUÇÃO:

O acelerado e desordenado processo de urbanização das grandes metrópoles levou à instalação de moradias e complexos industriais em áreas sem infra-estrutura adequada para recebê-los, ocorrendo, na maioria das vezes, próximos a recursos hídricos devido à necessidade de abastecimento, lazer e irrigação, acarretando a impermeabilização do solo, aterramento e/ou canalização de corpos d'água, além do desmatamento da vegetação nativa.

Entre as principais fontes de poluição destes ecossistemas destacam-se os lançamentos de esgotos domiciliares não tratados, a disposição de lixos nas margens das lagoas e açudes e atividades diversas nas áreas de influência direta. Entre as conseqüências destes impactos destacam-se a degradação da qualidade da água e a perda de biodiversidade aquática.

O presente trabalho visou avaliar a qualidade da água da lagoa Maria Vieira por intermédio de parâmetros físicos e químicos, no período de setembro a novembro de 2009, associando-a à influência das ações antrópicas, especialmente aquelas desenvolvidas irregularmente.

METODOLOGIA:

A Lagoa Maria Vieira, da Sub-Bacia B-2 do rio Cocó é alimentada por um riacho que aflui a este reservatório, através do Bueiro sob a Av. Paulino Rocha, na altura do Nº 215, confrontando com a Rua Zacarias de Frota (SEMAM, 2006).

O estudo constou de diagnóstico preliminar do entorno da lagoa baseado no banco de dados da Prefeitura Municipal de Fortaleza e atualizado em campo, com registros fotográficos, bem como de monitoramento sistemático da qualidade da água do ecossistema no período set-nov/2009.

Foram coletados três pontos (entrada do tributário principal-P1, centro-P2 e sangradouro-P3), freqüência quinzenal, entre 30 e 50cm de profundidade, utilizando-se frascos específicos para cada parâmetro analisado, previamente descontaminados. As amostras foram refrigeradas entre 4 a 10°C e encaminhadas LIAMAR/IFCE para processamento imediato ou adequada preservação.

Foram analisados os parâmetros físicos (pH, condutividade elétrica, turbidez, cor, frações sólidas e óleos e graxas) e químicos (DBO5 , DQO, OD, cloreto, frações fosfatadas, frações nitrogenadas e dureza). A base metodológica para amostragem, preservação e análises seguiram, de modo geral, as diretrizes do Standard Methods for Examination of Water and Wastewater, 21° Edição, 2005.

RESULTADOS:

No que se refere à qualidade de água, com base nos valores médios observou-se o pH manteve-se na faixa alcalina (9,44) e o teor de oxigênio dissolvido elevado (10,26mg/L), conseqüência da intensa atividade autotrófica. A condutividade elétrica (526µS/cm), relativamente elevada reflete a intensa movimentação de solo na área, confirmada pelo elevado teor de sólidos dissolvidos (70% dos sólidos totais, com maioria fixos). Destaque-se  que a turbidez (17,33 uT) e a cor verdadeira (19,67uH) apresentaram-se em conformidade com o padrão legal, mas a água apresenta elevado teor de sais recalcitrantes (dureza total=192,06mg/L), classificando a água como dura. Este comportamento também se refletiu no teor de cloretos (174mg/L), corroborado pelo aporte de esgoto doméstico bruto; embora não tenha ultrapassado o valor legal máximo (250mg/L).

O teor de matéria orgânica (DBO5 = 25,62 mg/L) é muito significativo pois ultrapassa o padrão legal em 5 vezes e corresponde a 30% do material oxidável presente. Há ainda a presença de óleos e graxas da ordem de 6,33mg/L.

Embora que as frações nitrogenadas tenham-se apresentado baixas, especialmente o nitrato (0,13mg/L) o teor de fósforo total é elevado e não atende ao padrão, evidenciando a acelerada autotrofia do ambiente pelo excesso de nutrientes.

CONCLUSÃO:

O diagnóstico ambiental mostrou que a lagoa está sob forte influência de atividades variadas no seu entorno, destacando-se: condomínios residenciais e atividades comerciais sem adequada estrutura sanitária, presença de lava-jato, lojas de venda de agrotóxicos, dentre outras, que geram resíduos líquidos que em parte chegam à lagoa através das galerias pluviais.

O ecossistema apresenta elevado teor de matéria orgânica que é aportado de forma contínua colocando-o em constante estresse, impedindo a autodepuração. A elevado teor de material dissolvido, incluindo aí a carga de nutrientes tem favorecido o crescimento excessivo de vegetação flutuante e fitoplâncton. Com isso o pH aproxima-se do limite superior da sobrevivência dos organismos aquáticos, que aliado aos demais poluentes tem causado eventos de mortandade de peixes.

Apesar da base de dados consistente já existente para subsidiar as ações de proteção e recuperação do sistema lacustre, pouco tem sido feito para minimizar o problema. A própria comunidade do entorno não se encontra articulada nesse sentido por falta de programas efetivos que contemplem a educação ambiental.

Instituição de Fomento: Laboratório Int. de Águas de Mananciais e Residuárias - LIAMAR/IFCE, Prefeitura Mun. de Fortaleza - PMF, Autarquia de Saneam. Amb. de Fortaleza -ACFOR
Palavras-chave: Lagoa Maria Vieira, Parâmetros físico-químicos, Qualidade da água.