A investigação aqui proposta procurou entender, através da análise e interpretação de alguns rituais, suas cantigas e mitos relacionados a esses rituais a forma de pensar o "meio ambiente" ou, na categoria nativa, o pjê cunẽa para os povos Ràmkôkamekrá/Canela. Esses povos tornaram-se conhecidos na literatura antropológica, em particular pela monografia de Curt Nimuendaju (1946). Os resultados desta pesquisa foram obtidos através de pesquisa de campo e da análise de alguns autores, em especial as concepções teóricas construídas por Marcel Mauss (noção de fato social total), Eduardo Viveiros de Castro (perspectivismo ameríndio) e Philippe Descola (ecologia simbólica), os quais vêem a importância de compreender as classificações nativas para se entender determinadas concepções de mundos.

Na perspectiva de compreender a forma de pensar o pjê cunẽa, foram realizadas coletas e análises das cantigas dos amji kĩn (festas/rituais) do Jàt (batata) e do Põhy (milho). Este trabalho foi iniciado em 2006, período em que estive em contato com os Ràmkôkam mẽ krá/Canela durante trabalho na ONg Centro de Trabalho Indigenista - CTI, em viagens a aldeia Escalvado (Fernando Falcão - Maranhão)  e de forma mais sistemática e mais intensa através do trabalho de campo para coleta de mais dados para a dissertação de mestrado. Após as coletas de dados; de entrevistas mais sistemáticas com os renomados cantadores Ràmkôkam mẽ krá/Canela Francisquinho Tephot Canela e Abílio Tàmi Canela; de diálogos teóricos com os autores das ciências sociais, pude perceber a importância das cantigas para esses povos e o quanto elas (as cantigas) estabelecem uma relação direta do sujeito Ràmkôkam mẽ krá/Canela com as plantas e animais.

Através das cantigas, além do conhecimento sobre a fauna e a flora, pode-se perceber a intrínseca relação Homem-Natureza, onde o sujeito Ràmkôkam mẽ krá/Canela canta para alegriar plantas e animais e promover suas reproduções. Assim este estudo sobre as cantigas desses povos apontam-nas como elementos importantes para compreender a interligação entre essa sociedade e o pjê cunẽa.