62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 7. Serviço Social
"MÃES MÁS": O OLHAR DA MÍDIA BRASILEIRA SOBRE OS CASOS DE ABANDONO DE BEBÊS.
Auricéa Xavier de Souza Lima 1
Suyane Campos Perez 1
Rita de Cássia Santos Freitas 1
1. Programa de Estudos Pós-graduados em Políticas Sociais/ UFF.
INTRODUÇÃO:
Em meio às notícias veiculadas pela mídia nos deparamos, ultimamente, com vários casos de bebês recém-nascidos abandonados em ruas, latas de lixo, terrenos baldios e até rios, diante dessas notícias, a primeira sensação é a de indignação: - como pode uma mãe abandonar seu próprio filho e em condições tão precárias e perversas? Onde está o instinto materno que leva as mulheres a protegerem seu filho a qualquer custo? Que ser humano tão mal é este que abandona o filho do seu próprio ventre? E várias outras indagações carregadas de indignação, revolta, desprezo e acima de tudo, pré-conceito. A comoção da sociedade ao ver um bebê abandonado impede, talvez, que se busque a fundo as razões deste abandono, o debate fica apenas na situação do abandono e não se aprofunda nas circunstâncias do mesmo, de forma a encontrar explicações relevantes que não necessariamente a pura e simples definição: MÃE MÁ, mulher desprovida do amor materno. Por essa razão, vejo a relevância desse estudo, enquanto proposta de debate e análise, de acordo com o compromisso acadêmico, das questões culturais, sociais e históricas que perpassam esse cenário.
METODOLOGIA:
Para esta análise, além de outros recursos, foram utilizadas reportagens colhidas entre o período de jan./2007 a jan./2008 encontradas através de sites de busca, aleatoriamente, através das palavras "bebê abandonado", dando preferência às que direcionavam para sities de jornais veiculados também por meio impresso e televisivo como por exemplo: "O Globo". Estas reportagens configuram exemplos de todo o país e retratam uma realidade muito discutida atualmente, porém, pouco aprofundada no que concerne ao contexto e dimensões da questão social que nela se expressa. Para introduzir o tema, dispõe-se de autores já conhecidos, que discutem questões como no exemplo: "A construção do amor materno", retomando a discussão acerca do "mito do amor materno", de Elisabeth Badinter e sua pesquisa sobre a condição das crianças e as relações familiares na França e na Inglaterra do século XVIII, como referência para os dias atuais .
RESULTADOS:
O abandono de bebês é um tema hoje, recorrente na mídia, apesar de ser tratado como algo novo, tem sua origem, segundo Motta (2001), já no século IV junto ao conceito de ilegitimidade. As mulheres solteiras que engravidavam, recorriam desde então, ao infanticídio ou o abandono da criança para fugir da marginalização que a sociedade lhe impunha, pois, quando resolviam ficar com seus filhos sofriam o preconceito e a rejeição social. Devido a vários fatores na atualidade, mas inicialmente, ao estigma social do filho ilegítimo, desde o Brasil colônia o abandono de bebês em situações deprimentes é algo recorrente, chegando a serem criadas instituições onde essas crianças poderiam ser deixadas anonimamente, para amenizar a questão do abandono em calçadas e florestas, onde na maioria dos casos não sobreviviam, conforme cita Venâncio (1997). Ao analisar muitas reportagens de abandono de bebês a socióloga Ana Liési Thurler (2008) chama atenção em um artigo publicado no "Correio Brasiliense" para o cuidado que se deve ter com a possibilidade de uma construção de verdades que o foco escolhido pela mídia é capaz de criar, relata que a maioria dos jornalistas que escrevem essas notícias são homens, demonstrando um olhar parcial e carregado de violência de gênero sobre as mulheres que, por alguma razão, não desenvolvem ou escolhem esse "amor materno" tão mitificado e reafirmado pela sociedade burguesa capitalista. Também não demonstrar nenhum interesse com questões simples como: - em que condições sociais, econômicas e psicológicas essa mulher se encontra? Onde está o pai do bebê? Qual o "caminho" percorrido até o momento do abandono de seu filho em condições tão adversas?A violência de gênero, intrínseca nessas reportagens, pode servir, de forma silenciosa e respaldada no apelo emocional, como uma tentativa de reafirmar os papéis estabelecidos como masculinos e femininos na sociedade atual. De certa forma, a capacidade de "reprodução humana" da mulher, lhe impõe "um certo poder" que, a todo custo, as sociedades passadas e atuais têm procurado lhe impedir de exercer, pois seria subordinar o homem, que quisesse a paternidade, ao desejo feminino de gerar um filho.
CONCLUSÃO:
As conclusões a que chegamos, ao analisar o olhar da mídia em relação aos casos de abandono de bebês são: a violência de gênero, intrínseca nessas reportagens, pode servir, de forma silenciosa e respaldada no apelo emocional, como uma tentativa de reafirmar os papéis estabelecidos como masculinos e femininos na sociedade atual, de certa forma, a capacidade de "reprodução humana" da mulher, lhe impõe "um certo poder" que, a todo custo, as sociedades passadas e atuais têm procurado lhe impedir de exercer, pois seria subordinar o homem, que quisesse a paternidade, ao desejo feminino de gerar um filho; num segundo momento, o poder que a mídia possue no que concerne às representações sociais do feminino e do masculino, é hoje, mais um mecanismo pelo qual a "dominação simbólica" se constitui e violência de gênero se expressa; num terceiro momento, concluo que a condição da mulher na sociedade atual, apesar de muitas conquistas, ainda é uma condição de luta, não por igualdade em relação ao homem, mas em igualdade de condições em relação ao sexo oposto. Bem como, conclui-se, que faz-se necessário que o Estado se pronuncie acerca dos casos de abandono de bebês, bem como das outras questões que envolvem as várias formas de violência sofridas pelas mulheres, com soluções eficazes que, certamente, estão no âmbito das políticas públicas para mulheres, com característica não-assistencialista e/ou de transferência de renda, mas sim, com o propósito da universalização dos direitos, emancipação feminina e igualdade social, respeitando aquilo que realmente corresponde aos papéis desejados pelas mulheres e não impostos ou cobrados pela sociedade, buscando democratizar a relação entre os sexos e finalmente romper com a hierarquia que existe entre eles.                            
Palavras-chave: Abandono de bebês, Mídia, Violência de gênero..