62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 4. Línguas Indígenas
ESTUDO COMPARATIVO DO PROCESSO DE NOMINALIZAÇÃO ENTRE OS POVOS XERENTE E XAVANTE
Maisa Coelho Parente 1
Odair Giraldin 1
Juscéia Aparecida Veiga Garbelini 1
1. Universidade Federal do Tocantins/UFT
INTRODUÇÃO:

O povo Akwẽ-Xerente localiza-se no município de Tocantínia no estado do Tocantins. É falante da língua akwẽ, do tronco lingüístico Macro-Jê, e pertencente à família Jê (Central). Já o povo Xavante localiza-se no estado de Mato Grosso, sendo falante da língua Xavante, também pertencente à família Jê (Central) e ao tronco lingüístico Macro-Jê. Esses dois povos compartilharam o mesmo território entre o Tocantins e Araguaia, até meados do século XIX, quando o povo Xavante decidiu abandonar a região e migrar para o oeste evitando assim o contato com os não-índios. As línguas akwẽ-Xerente e xavante modificaram-se ao longo dos anos, porém sabe-se que este é o aspecto cultural que mais demonstra a identidade destes povos. Objetiva-se, neste trabalho, comparar o processo de nominalização nas línguas dos povos Akwẽ-Xerente e Xavante. Esta pesquisa é relevante, pois, a partir da mobilização de aspectos da análise mórfica, poderemos entender um pouco mais sobre as diversidades lingüísticas presentes em nosso país, dando visibilidade às línguas dos povos indígenas nos espaços acadêmicos, principalmente na Universidade Federal do Tocantins (UFT).

METODOLOGIA:

A pesquisa deu-se através da consulta bibliográfica de pesquisas lingüísticas existentes sobre os dois grupos e também de trabalho de campo com o povo Xerente, através do projeto de pesquisa "Ouvir, Fazer, Aprender: Estudo Comparativo dos Processos Próprios de Ensino e Aprendizagem para os Akwẽ-Xerente, Krahô e Javaé" coordenado pelo prof. Dr. Odair Giraldin, do qual sou bolsista de Iniciação Científica. O corpus constituiu-se de itens lexicais de teses e dissertações e foram comparados com o uso cotidiano nas aldeias Xerente, enfatizando os processos de nominalização. Houve também a utilização de equipamentos como computador e gravador de voz, com o qual registrei falas dos anciãos, as quais serão posteriormente transcritas, ampliando, assim, o corpus do trabalho.

RESULTADOS:

Como resultado desta pesquisa vemos que, existem algumas diferenças no que se refere ao processo de nominalização entre as línguas akwẽ-xerente e xavante. Os morfemas nominalizadores explícitos na língua xavante são -dzé e -wa: hötsi > hötsi-dzé (beber > bebida); romhö > romhö-wa (atirar > atirador). Sendo que -dzé indica instrumento ou  lugar e o morfema nominalizador -wa indica agente. Vale ressaltar que ocorrer também a formação de nomes em xavante diretamente de uma raiz verbal, ou seja, a partir de um categorizador fonologicamente nulo, sendo que este pode expressar lugar, parentescos, partes do corpo e objetos pessoais. Exemplos: atsipri-ø (sua casa); aimama-ø (teu pai); dato-ø (olho); umnhiã-ø (arco). Já na língua xerente, temos os morfemas nominalizadores -ze e -kwa; hemba > hemba-ze (existir > existência); kuĩkre > kuĩkre-kwa (escrever > escritor). Sendo que o primeiro não tem semântica específica e funciona apenas como nominalizador deverbal, e o segundo atua como um deverbal agentivo. Sabe-se também que partícula -kwa tem outras funções na língua akwẽ-xerente, tais como indicar relações de parentescos  e para se referir as pessoas diferentes da 1ª.

CONCLUSÃO:

Após essa análise pode-se dizer que, apesar de pertencerem ao mesmo tronco lingüístico e à mesma família, as línguas akwẽ-xerente e xavante possuem distinções entre si. Fica claro também que na língua xavante a formação de nomes não ocorre apenas com morfemas fonologicamente explícitos, mas também com morfemas fonologicamente nulos. Na língua akwẽ-xerente a formação de nomes ocorre apenas com a junção dos nominalizadores sufixados aos verbos, mudando assim a estrutura verbal para nominal.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Akwẽ-Xerente, Xavante, Nominalização.