62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
TRABALHO, SUBJETIVIDADE E MORTE: UMA ANÁLISE SOBRE A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DE PERITOS CRIMINAIS
Narah Cristina Maia Teixeira 1
Erasmo Miessa Ruiz 2
1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia - UFC
2. Prof. Dr./Orientador - Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira - UFC
INTRODUÇÃO:
As representações e atitudes em relação à morte passaram por diversas mudanças ao longo da história. Atualmente a morte é escamoteada do nosso cotidiano, sendo marca muito presente da sociedade ocidental. Uma breve revisão de literatura nos mostra que há certa escassez de produção em relação à temática, principalmente quando buscamos pesquisas que investiguem a morte no cotidiano de trabalho. Com base nisso, buscamos compreender as formas como a relação trabalho e morte é vivenciada por indivíduos concretos e, em que aspectos essas vivências constituem elementos significativos de suas identidades individuais.
METODOLOGIA:
Para isso, realizamos pesquisa bibliográfica buscando contemplar as categorias pertinentes ao estudo proposto, quais sejam: atividade humana, trabalho, identidade e morte. Realizamos a pesquisa de campo na unidade local de crime do Instituto de Criminalística, lócus onde estão lotados profissionais que realizam perícia técnica em cenas de crime. Como técnica para coleta de dados usamos a observação simples, registrada em diário de campo, e entrevista semi-estrutura baseada em um roteiro. Entrevistamos nove peritos criminais por estarem em atividades diretamente relacionadas com a morte e o morrer. Para análise dos dados utilizamos princípios teórico-metodológicos da análise de discurso.
RESULTADOS:
Os dados da pesquisa apontam que o lidar com o corpo morto foi o principal desafio encontrado pelo perito em suas primeiras atividades em campo, compondo um "ritual iniciático" para se manter no trabalho. Para o perito, o cadáver configura-se como objeto de trabalho, o que facilita a aproximação com os corpos. As percepções em relação à morte estão permeadas por concepções científicas, religiosas e técnicas; sendo tarefa de cada subjetividade pessoal oferecer algum sentido lógico a conceitos e sentidos mutuamente contraditórios em suas epistemes. Os enredos dos crimes permeiam os diálogos cotidianos, porém não há uma reflexão mais existencial sobre a finitude. O silêncio diante das perguntas relacionadas à morte e ao morrer foi marca presente nas entrevistas, ao mesmo tempo em que pensam sobre o assunto com mais freqüência que outrora. A morte é vista como acontecimento brutal, sendo a morte violenta a mais temida. O desejo de morte súbita esteve presente em todas as entrevistas, assim como o anseio pela cremação. Relatam que desejam rituais fúnebres os mais polidos possíveis, não desejando o mesmo para os entes queridos. Destacamos, ainda, que o trabalho com a morte permite ao perito uma maior consciência quanto à efemeridade da vida.
CONCLUSÃO:
Por fim, podemos dizer que, ao lidar corriqueiramente com o corpo morto, o perito configura uma forma particular de pensar, sentir e agir enquanto indivíduo social, ou seja, constrói uma identidade que lhe é própria. A pesquisa possibilitou responder às questões suscitadas, criar novas dúvidas, restando dar continuidade aos estudos através de novas abordagens acerca da temática.
Instituição de Fomento: Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - FUNCAP
Palavras-chave: Trabalho, Identidade, Morte.