62ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 5. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca
A CAPTURA DO CARANGUEJO-UÇÁ (Ucides Cordatus) EM PERÍODOS DE ECDISE E DE REPRODUÇÃO NO MUNICÍPIO DE MACAU/RN
Willyana Delange Teodósio de Freitas 1
Aline Cristina Ribeiro Pessoa 1
Marcos Antônio Dantas Pessoa 1
Laís Dayara Teodósio Silva 1
Rayne Tuyze Oliveira de Melo 1
Marcos Antônio Alves de Araújo 1
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte/IFRN
INTRODUÇÃO:
O município de Macau, localizado no litoral setentrional do estado do Rio Grande do Norte, com aproximadamente 28.000 habitantes, tem na pesca predatória uma de suas principais atividades econômicas. No desenvolvimento dessa atividade, a captura do Caranguejo-uçá (Ucides cordatus), conhecido popularmente como Caranguejo-canoé ou Caranguejo-sapateiro e encontrado nos manguezais da região, se constitui em uma prática que vem causando intensos impactos ambientais para os ecossistemas locais. Tais impactos vêm ganhando proporções alarmantes, graças à captura desse crustáceo em períodos de ecdise e reprodução, ou seja, em períodos em que a pesca desta espécie é proibida por Lei. Diante disto, tivemos como objetivo no presente trabalho, investigar de que maneira vem ocorrendo a captura do Caranguejo-uçá em períodos de ecdise e de reprodução no município de Macau, destacando as consequências dessa prática para os desequilíbrios ambientais da região. A realização desse trabalho justifica-se pelo fato de que essas práticas insustentáveis vêm contribuindo para a diminuição do Caranguejo-uçá no município, gerando consequências desastrosas para tal crustáceo e para a sociedade local que depende diretamente da captura desse organismo para sobreviver.              
METODOLOGIA:
Para o desenvolvimento deste estudo, utilizamos como estratégias metodológicas de pesquisa o reconhecimento da existência da problemática local e do campo investigativo; o levantamento de referenciais bibliográficos especializados em temáticas sobre captura predatória e desenvolvimento sustentável; a realização de leituras, discussões e reflexões teóricas realizadas em grupo; bem como o desenvolvimento de pesquisas em sites de buscas e de consultas. Além disso, o trabalho foi realizado por meio de observações in loco, registros fotográficos e entrevistas com os catadores de caranguejo do município de Macau, e com os representantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e da Colônia de Pescadores e Maricultores de Macau. No desenvolvimento das entrevistas, realizadas ao longo dos meses de dezembro de 2009 e janeiro de 2010, procuramos estabelecer um contato inicial com os catadores, fazendo observações gerais, conhecendo os sujeitos da pesquisa e realizando entrevistas livres e informais com tais sujeitos. As entrevistas foram registradas por escrito e, quando autorizadas pelos entrevistados, transcritas. Ademais, utilizamos ainda como suporte da pesquisa uma câmera digital 8.1 mega pixel.       
RESULTADOS:
O Caranguejo-uçá tem seu ciclo de vida dividida em três fases: ecdise (muda), acasalamento (andada) e desova. A ecdise se constitui na etapa de crescimento dessa espécie, ocorrendo em organismos jovens e adultos uma vez por ano e com duração estimada de 15 a 20 dias. Durante 10 dias dos meses de janeiro, fevereiro, março e início de abril, a captura do Caranguejo-uçá é proibida por Lei regulamentada pelo IBAMA. O acasalamento e a desova, conhecidos como períodos de defeso ou de andada, se caracterizam como o momento em que os caranguejos machos e fêmeas saem de suas tocas para acasalarem e reproduzirem-se. No município de Macau, esses períodos não vêm sendo respeitados pelos catadores locais. A captura ilegal e prematura do Caranguejo-uçá, caracterizado como a única fonte de renda da população que sobrevive dessa atividade, vem causando a diminuição da espécie e do seu tamanho adequado para a comercialização. No que concerne a captura insustentável desse crustáceo, esta tem uma duração de 1 a 3 horas diurnas. Em média, um catador captura, diariamente, em torno de 70 a 200 caranguejos, utilizando, principalmente, os métodos da "redinha" e do "braceamento", já que, através de tais métodos, existe uma maior possibilidade de ser encontrada mais de uma espécie de caranguejo na toca.
CONCLUSÃO:
No município de Macau, a captura do Caranguejo-uçá é praticada de forma indiscriminada, ilegal e demasiada, sendo realizada de maneira insustentável, sem a mínima preocupação com a sobrevivência dos crustáceos e sem nenhum tipo de investimento por parte das instâncias governamentais municipais, estaduais e federais em políticas públicas sociais que possibilitem a sobrevivência dos catadores nos períodos de ecdise e reprodução de tal organismo natural. A ação predatória sobre esses organismos vem provocando desequilíbrios ambientais intensos e contínuos nos territórios macauenses, pondo em risco a continuidade dessa espécie e de outros crustáceos nos manguezais locais. Neste sentido, a realização deste trabalho de pesquisa possibilitou conhecer uma realidade ainda oculta no município de Macau, ou seja, a diminuição de uma das espécies mais importantes para a região salineira e que tanto vem contribuindo para a continuidade da riqueza natural de nossos manguezais e o sustento de várias famílias macauenses. Diante disso, faz-se necessária a criação de alternativas viáveis e eficazes que possibilitem a realização da captura de caranguejos de maneira sustentável, assegurando e garantindo a permanência dessa espécie atrelada ao desenvolvimento social local.
Palavras-chave: Captura ilegal, Desenvolvimento sustentável, Caranguejo-uçá.