62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística
O ATLAS LINGUÍSTICO DO MARANHÃO: O USO DA PERÍFRASE COMO ESTRATÉGIA PARA A EXPRESSÃO DE HIPÓTESE NO PORTUGUÊS FALADO NO MARANHÃO
Wendel Silva dos Santos 1
Conceição de Maria de Araujo Ramos 1
1. Departamento de Letras, Universidade Federal do Maranhão/UFMA
INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem por objetivo examinar, no português falado no Maranhão, o uso da perífrase verbal ir mais infinitivo como estratégia para a expressão de hipótese substituindo, neste caso, o futuro do pretérito, previsto pela gramática tradicional como a estratégia padrão. Um trabalho que estude a variação na expressão de hipótese no português falado no Maranhão se justifica uma vez que este fenômeno morfossintático tem-se mostrado bastante produtivo no português brasileiro, requerendo, portanto, mais estudos que possibilitem a comparação de dados de diferentes localidades, o que será de fundamental importância para o exame da abrangência dessa variação. Há estudos com dados do português contemporâneo falado e/ou escrito em Santa Catarina, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e no Espírito Santo, e ainda com corpora do século dezoito. Contudo, não temos conhecimento de estudos sobre esse fenômeno no âmbito do Maranhão.

METODOLOGIA:

Baseada nos princípios teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, esta pesquisa empregou a seguinte metodologia: 1) pesquisa bibliográfica no âmbito da Linguística e da Sociolinguística, com ênfase na Morfossintaxe; 2) delimitação e seleção do corpus com base nos trinta e seis inquéritos pertencentes ao banco de dados do Projeto Atlas Linguístico do Maranhão - ALiMA, realizados em oito localidades integrantes da rede de pontos do atlas - São Luís, Alto Parnaíba, Bacabal, Balsas, Brejo, Carolina, Imperatriz e Pinheiro; 3) transcrição grafemática da questão quarenta e dois do questionário morfossintático do ALiMA - o que você, o(a) senhor(a) faria se ganhasse na loteria? e 4) análise estatística dos dados e verificação de percentuais de ocorrência do fenômeno em estudo. Os informantes do ALiMA, em número de quatro por localidade, com exceção de São Luís, onde foram entrevistadas oito pessoas, são selecionados com base a atender o seguinte perfil: pessoas de ambos os sexos, distribuídas, igualmente, por duas faixas etárias - faixa um, de dezoito a trinta anos, e faixa dois, de cinquenta a sessenta e cinco anos;por dois níveis de escolaridade - Ensino Fundamental incompleto e Curso Universitário, este último nível apenas na capital; e naturais da localidade pesquisada.

RESULTADOS:

Das cento e vinte duas ocorrências de expressão de hipótese encontradas no corpus, setenta e uma são com o pretérito imperfeito, trinta e nove com a perífrase verbal ir mais infinitivo e vinte com o futuro, o que coloca a perífrase como a segunda estratégia mais usada. Dos quatro fatores sociais investigados - sexo, idade, escolaridade e localidade -, vale ressaltar que a variável sexo não se mostrou relevante, e que a correlação dos níveis de escolaridade falseia um pouco os resultados, uma vez que apenas em São Luís, capital do Estado, foram selecionados universitários. Os outros dois fatores, em uma escala decrescente, ficaram assim distribuídos: localidade (doze ocorrências na capital contra vinte e sete no interior) e idade. Merece destaque o fato de ser a geração mais idosa a maior usuária da estratégia investigada. Com relação à variável linguística, foi analisado o paralelismo formal, verificado entre falantes do sexo masculino, da primeira faixa etária e nível Superior, e falantes do sexo feminino, da segunda faixa etária e Ensino Fundamental incompleto.

CONCLUSÃO:

Ao estudarmos o uso da perífrase ir mais infinitivo para a expressão de hipótese no português falado no Maranhão, percebemos que o maior número de ocorrências da variante estudada se concentra no interior do Estado. No que concerne aos aspectos sociais, constatamos que são as pessoas da segunda faixa etária e do sexo feminino as que mais utilizam a variante em questão, o que nos leva a pensar que não é recente o avanço do domínio desta forma inovadora. Percebemos, também, que a variável linguística paralelismo formal é mais recorrente entre os jovens. Convém ressaltar que todo os falantes compuseram a perífrase com a forma do imperfeito do indicativo (ia).

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Expressão da hipótese, Perífrase verbal, Português falado no Maranhão.