62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Turismo e Hotelaria - 1. Fundamentos Teóricos
TURISMO, LAZER E PESCA ARTESANAL NOS LITORAIS NORTE DE PERNAMBUCO E SUL DA PARAÍBA: POSSIBILIDADES E LIMITES DE COMPLEMENTARIDADES E CONFLITOS
Solange Fernandes Soares Coutinho 1, 2
Daniel Campello de Oliveira 4, 5
Patrícia Alves da Silva 3, 4
1. Fundação Joaquim Nabuco - Dipes - CGEA (Pesquisadora)
2. Universidade de Pernambuco - FFPNM - CCG (Professora)
3. Fundação Joaquim Nabuco - Dipes - CGEA (Estagiária)
4. Universidade de Pernambuco - FFPNM - CCG (Alunos)
5. Pibic/CNPq/Fundaj (Bolsista)
INTRODUÇÃO:
A expansão das atividades turísticas e de lazer tem possibilitado a geração de emprego e renda, mas também vem gerando problemas ecológicos e sociais em vários espaços litorâneos e suas circunvizinhanças, por interferir nas dinâmicas das áreas estuarinas, das praias, dos ambientes recifais, do mar aberto e da vida das pessoas que neles residem. Nesse sentido, o turismo e o lazer atuam de forma negativa e positiva na pesca artesanal, pois se podem levar à diminuição da biota, e conseqüentemente da sua captura, e absorver mão-de-obra local subtraindo pessoal da atividade pesqueira sem verdadeiramente oferecer condições adequadas de trabalho, garantia de emprego e renda suficiente, também podem dinamizar a pesca artesanal atuando como fator de agregação de melhor qualidade ao produto ofertado, de aumento das vendas e de adoção de práticas que garantam a sua sustentabilidade, oportunizando um ganho positivo na qualidade de vida dos que dela participam. Neste contexto, o presente trabalho tem como objeto de estudo a relação entre turismo, lazer e pesca artesanal, buscando discutir complementaridades e conflitos entre essas atividades. Deriva-se de uma pesquisa desenvolvida na Coordenação Geral de Estudos Ambientais (CGEA) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
METODOLOGIA:
Para realizar o trabalho optou-se pelo método qualitativo priorizando a análise de conteúdo do material obtido na revisão bibliográfica e cartográfica, nas visitas de campo, nas entrevistas abertas com gestores públicos e empresários e nas sete oficinas realizadas no âmbito da pesquisa da Fundaj/CGEA "Dinâmicas Ecológicas em Ambientes Estuarinos do Nordeste Brasileiro: interações e intervenções", entre maio e outubro de 2009 envolvendo pescadores e professores, visando construir um quadro dos problemas ambientais e outro das potencialidades e oportunidades dos municípios de Goiana, Igarassu, Ilha de Itamaracá e Itapissuma - Litoral Norte de Pernambuco -, Caaporã e Pitimbu - estes do Litoral Sul da Paraíba. Destaca-se que no Município de Goiana, devido à significativa presença de comunidades ligadas à pesca artesanal, foram realizadas duas oficinas e que ainda se contou com dados derivados de um seminário sobre Pesca Artesanal e Unidades de Conservação, realizado em dezembro de 2009, que teve como objetivo socializar as discussões e produtos das oficinas. A escolha da área de estudo se deu pela importância que nela tem a pesca artesanal, a expansão do turismo e do lazer e a recente criação de duas Unidades de Conservação - a Resex Acaú-Goiana e a APA do Canal de Santa Cruz.
RESULTADOS:
A área estudada é detentora de características ecológicas, socioeconômicas e histórico-culturais diferenciadas e apresenta dinâmicas que incluem os fatores que lhes são próprios e outros que estão além dos seus limites geográficos. Possui centros com altas densidades demográficas que contrastam com áreas ainda pouco povoadas e populações que têm a pesca artesanal como fonte principal de alimento e renda. Das questões ambientais relacionando turismo e lazer à pesca artesanal foram destacadas: a destruição dos manguezais, o desmatamento de diferenciadas coberturas vegetais naturais, as construções civis irregulares, o aumento e a disposição inadequada de resíduos, as perturbações derivadas do tráfego excessivo de veículos náuticos motorizados e a obstrução de acessos da população local às áreas de lazer e de trabalho, por impedirem os serviços ecossistêmicos e promoverem exclusão social. Quanto às potencialidades ou oportunidades, o destaque foi a complementação de renda dos habitantes do lugar, e não só dos que têm como atividade principal a pesca artesanal. A possibilidade de a população local poder usufruir da infraestrutura direcionada a turistas, visitantes, excursionistas e ocupantes de segundas-residências também foi apontada, mas em relevância significativamente menor.
CONCLUSÃO:
As relações das atividades turísticas e de lazer com a da pesca artesanal podem ser, como discutido no decorrer do texto, harmônicas ou desarmônicas. O turismo e o lazer quando bem conduzidos - respeitando a capacidade de suporte do meio, os costumes e as necessidades das pessoas do lugar -, são capazes de trazer bons resultados para a economia local, para o bem-estar dos habitantes e contribuir para proteção do meio ambiente natural e construído. Porém, quando não se dão através de planejamento, gestão e monitoramento adequados podem vir a degradar o meio em que ocorrem. E não só seus recursos e paisagens naturais, também elementos da cultura da população local, além de aumentar o custo de vida e até chegar a eliminar atividades que as pessoas do lugar costumam realizar, inclusive aquelas que propiciam renda e qualidade de vida satisfatórias. A realidade que se revelou aponta conflitos de interesses diferenciados relativos a disputas por territórios, especialmente aqueles que foram ou estão sendo subtraídos dos pescadores artesanais e perdas de oportunidades que, ao mesmo tempo, poderiam trazer benefícios ao turismo, ao lazer e à pesca artesanal. É neste sentido que se reconhece as possibilidades e os limites de complementaridades entre tais atividades.
Instituição de Fomento: MEC/Fundaj e CNPq
Palavras-chave: Turismo e Lazer, Pesca Artesanal, Litorais Norte de Pernambuco e Sul da Paraíba.