62ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 1. Oceanografia Biológica
AGRUPAMENTOS DE PEIXES NO CANAL DE SANTA CRUZ, PERNAMBUCO (BRASIL) COM BASE NOS ITENS ALIMENTARES
Antônio de Lemos Vasconcelos Filho 1
Enide Eskinazi Leça 1
Sigrid Neumann Leitão 1
Aida Maria Eskinazi de Oliveira 2
1. Departamento de Oceanografia - UFPE
2. Laboratório de Ciências do Mar - UFC - CE
INTRODUÇÃO:

No litoral do Estado de Pernambuco, um ecossistema que tem despertado o interesse de pesquisadores é o sistema estuarino de Itamaracá, reconhecido como um local de grande valor cultural, econômico e ecológico, em virtude da existência de um conjunto de habitats para espécies pesqueiras de importância comercial, como moluscos, crustáceos e peixes, representando uma unidade ecológica de grande significado sócio-econômico. O estudo do conteúdo estomacal dos peixes desse ecossistema é de grande importância, pois além de possibilitar o conhecimento dos hábitos alimentares das espécies, revela aspectos sobre a biologia e das relações tróficas sendo possível, ainda, reconhecer as alterações antropogênicas do ecossistema. A presença de várias espécies de peixes já identificadas no Canal de Santa Cruz permite confirmar ser esta uma área de importância biológica e pesqueira, além de representar uma área de interesse para a realização de estudos que ajudem a interpretar seu grande potencial biológico. Desta forma, estudos sobre os peixes do Canal de Santa Cruz, ecossistema inserido no complexo estuarino de Itamaracá, foram realizados visando conhecer as interações tróficas, a partir da análise do conteúdo estomacal.

METODOLOGIA:

O estudo baseou-se em coletas de peixes realizadas mensalmente no Canal de Santa Cruz, especificamente nas imediações da cidade de Itapissuma, durante os anos de 1995 e 1998, além do uso de trabalhos realizados na área desde 1979. Foram utilizadas embarcações do tipo "baiteira", e redes de arrasto do tipo "mangote", sendo este um modelo de armadilha próprio para peixes de fundo, com 50 metros de comprimento e malha de 15 mm. As coletas foram realizadas em turnos sempre diurnos e nas baixa-mares, levando-se em média 15 minutos para cada arrasto. Após as coletas, os exemplares foram fixados em formol a 10%. Em laboratório, os espécimens foram devidamente eviscerados e os estômagos preservados em formol a 4%. As análises quanto-qualitativas dos organismos encontrados em cada estômago/gastrointestinal realizaram-se em lupas e microscópios binoculares, através do Método Numérico e Freqüência de Ocorrência. A análise de agrupamento baseou-se nos itens alimentares de 27 espécies de peixes, as mais abundantes e de importância ecológica na área. O índice de similaridade utilizado foi o de Sorensen. Foi realizada em seguida uma análise cofenética para verificar o bom ajuste dos dados.

RESULTADOS:

No Canal de Santa Cruz a análise dos itens alimentares evidenciou a formação de 9 grupos de alimentos, entre os quais dois se destacaram: grupo 1, formado essencialmente por microalgas seguidos pelos poríferas e grãos de areia; e grupo 4, dominado por restos de vegetais, moluscos, crustáceos, nematodas, anelídeos e peixes. De acordo com as categorias ictiotróficas, o primeiro grupo caracterizou os peixes dos primeiros níveis tróficos, como os planctófagos (Opisthonema oglinum), herbívoros (Hyporhamphus unifasciatus e Hemirhamphus brasiliensis), detritivoros (Mugil curema, M. liza e Gobionellus oceanicus) e omnívoros (Chaetodipterus faber, Eugerres brasilianus e Diapterus auratus), sendo estes consumidores primários. O segundo grupo ou consumidores secundários reuniu os peixes carnívoros de primeira ordem, como Achirus lineatus, Arius parkeri, A. proops, Caranx latus, Chloroscombrus chrysurus, Conodon nobilis, Lycengraulis grossidens, Synodus foetens, Trichiurus lepturus, Sphoeroides testudineus, Citharichthys spilopterus, Symphurus plagusia, Eucinostomus gula, Oligoplites palometa. Os peixes considerados consumidores de terceira ordem ou consumidores terciários estiveram representados por Centropomus parallelus, C. undecimalis, Scomberomorus brasiliensis e Sphyraena barracuda.

CONCLUSÃO:

Foi registrada para o sistema estuarino de Itamaracá, uma diversidade de ítens alimentares constituídos por vegetais (microalgas, macroalgas, detritos de folhas de mangue e fanerógama marinha), zooplanctontes (copépodos, anfípodos, isópodos), anelídeos, moluscos (gastrópodes e bivalves), crustáceos e peixes, representando uma grande disponibilidade de alimento. Este conjunto de itens foram associados em 9 grupos, sendo o grupo representado pelos  consumidores primários os mais  relevantes na área. Embora a sustentabilidade tenha decrescido nos últimos anos o Canal de Santa Cruz ainda comporta peixes de várias categorias tróficas, sendo o Canal de Santa Cruz importante fonte de alimento aos peixes marinhos costeiros.

Palavras-chave: Peixes, Itens Alimentares, Estuário.