62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
INSTRUMENTOS ALTERNATIVOS DE PESOS E MEDIDAS UTILIZADOS POR RIBEIRINHOS DA REGIÃO DO BAIXO AMAZONAS NO ESTADO DO PARÁ  
Patrícia De Campos Corrêa 1
1. Mestre em Educação Matemática/SEDUC-PA
INTRODUÇÃO:

No final da idade da pedra os povos intensificaram a agricultura e procuraram um local para se estabelecerem onde tivesse água e terra fértil, como o que aconteceu ao longo do rio Nilo.

Os agricultores organizaram-se sociopoliticamente e, para sobreviverem precisaram desenvolver padrões de medidas definidas arbitrariamente utilizando as tecnologias das quais dispunham para solucionar problemas locais.

As evidências dessas afirmações históricas constam nos papiros Moscou e Rhind, posto que do total de 110 problemas, 26 deles são referentes a cálculo de área e de volume.

Zuin (2009) destaca em seus estudos trechos extraídos da Bíblia - velho e novo testamento que revelam algumas das antigas medidas antropométricas de uso corrente entre os povos.

Certamente, havia discordância quanto a esses sistemas de medidas nas práticas comerciais. Na Inglaterra, no século XII, medidas como a jarda, o pé revelam uma preocupação com a padronização.

De fato, antigas unidades de medidas não foram por completo abandonadas haja vista que aparelhos de TV são vendidos utilizando-se a medida polegada (2,54 cm). Considere ainda que a medida pé (48 cm) é amplamente usada na aviação e em países como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. Ressaltamos que o metro é a unidade internacional do padrão de medidas.

METODOLOGIA:

Neste sentido, procuramos identificar os Sistemas de Pesos e Medidas convencionados entre as populações tradicionais no Baixo Amazonas.

Os ribeirinhos utilizam maneiras próprias de resolver seus problemas relacionados a pesos e medidas por estarem distantes da área urbana e disporem de pouco acesso a instrumentos de pesos e medidas.

Deste modo, convencionam socialmente seus sistemas próprios, particulares de pesos e medidas criados a partir da criatividade na utilização de objetos que fazem parte de seu cotidiano. 

Assim, a venda de camarão tem como unidade de medida um prato fundo de plástico (diâmetro 22cm).

Encontramos uma situação de venda de camarão por litro (cilindro de 1l). O estranhamento se deu por sabermos que o crustáceo não se trata de um fluido e, portanto, deveria ser vendido a quilo. Na dificuldade de transportar uma balança para a praia, não hesitam em destinar novos usos para os padrões de medidas internacionais que lhes parecem ser fáceis de portar.

Os vendedores de peixes utilizam a cambada como unidade de medida, cerca de 5 peixes enfiados em um arco de arame, cada um medindo cerca de 45 cm  de comprimento que juntos compõe cerca de 3,5kg. O preço é estimado considerando o tamanho dos peixes em detrimento do peso. Daí desconsiderarem a balança no ato da venda.

 

RESULTADOS:

Tivemos como sujeitos de pesquisa 3 pescadores que vendiam o produto de sua pesca artesanal para garantir seu sustento na região do Baixo Amazonas.

Tivemos como propósito identificar os sistemas de pesos e medidas convencionados pelas populações tradicionais e tivemos como resultado 3 unidades de medidas aceitas socialmente, naquele contexto, sendo 2 - o prato e o litro para a venda de camarões e a outra - cambada para a venda de peixes.

Ao entrevistarmos os vendedores tivemos como resultado de que 100% deles conhecem o sistema padrão internacional de pesos e medidas, mas utilizam medidas alternativas por não disporem de recursos para a aquisição de balanças e, pelo fato de ser dificultoso transportá-las até a praia em função do peso e do tamanho das mesmas no momento da chegada das canoas.

Todos os pescadores afirmaram que os compradores são pessoas da comunidade e por passarem as mesmas dificuldades financeiras que eles, aceitam e jamais questionam os sistemas alternativos por eles utilizados que já fazem parte de sua cultura e, portanto, não se sentem lesados.

Não há geleiras nas proximidades, então os camarões são vendidos cozidos por serem perecíveis evitando a perda do produto e os peixes são vendidos 'in natura, porque demoram mais para estragar.

CONCLUSÃO:

As necessidades humanas promoveram a criação de um sistema internacional de medidas, entretanto, antigas unidades de medidas continuaram e continuam a ser utilizadas na atualidade, o que não implica em impeditivo para que o ser humano, na sua infinita sabedoria, na solução de seus problemas locais, imediatos continue a encontrar e produzir "novos" sistemas de pesos e medidas (para nós pesquisadores), revelando seu potencial criativo, seu pensamento lógico matemático.

A pesquisa realizada mostrou os sistemas de pesos e medidas alternativos utilizados por aqueles que sobrevivem da pesca, que têm no mar, nos rios, na Amazônia Azul sua sustentabilidade, sua fonte de riqueza.

A pesquisa nos faz refletir que o conhecimento matemático produzido e socialmente aceito e, portanto, convencionado deve estar a serviço da humanidade. O que a priori parecia ser uma ação arbitrária se revelou na capacidade de organização de um pensar matemático acordado socialmente na simplicidade dos ribeirinhos do Baixo Amazonas, no estado do Pará.

Palavras-chave: Ribeirinho, Sistemas de pesos e medidas , Amazônia .