62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
VER - O - PESO, DE MUITOS PESOS E MEDIDAS  
Roberto Anderson de Oliveira 2
Patrícia De Campos Corrêa 1
1. SEDUC/PA
2. Turismo/ESAMAZ
INTRODUÇÃO:

O mercado Ver-o-peso é um dos pontos turísticos mais importantes de Belém, Pará, compondo uma área de 35 mil metros quadrados. Foi tombado pelo Instituto Histórico e Arquitetônico Nacional. Foi reconhecido como uma das Sete Maravilhas Brasileiras (placa CARAS 7 Maravilhas), funciona 24 horas diariamente e abriga 5 mil trabalhadores, distribuídos em um total de 2 mil barracas.

O mercado foi construído em 1625 com a finalidade de conferir o peso exato das mercadorias para cobrar o respectivo imposto.Um posto fiscal - lugar de ver o peso. Assim funcionava a casa de Haver o Peso, em 1687, com uma balança e um funcionário público para estabelecer um rígido controle alfandegário.

Com o tempo tornou-se mercado, feira, porto e, portanto, um importante espaço social, econômico, histórico e simbólico da cidade de Belém. Solidificou-se como um museu vivo de práticas culturais, elo entre o urbano e a floresta Amazônica. 

Ainda que estando localizado na maior capital da Amazônia, encontramos neste mercado sistemas de medidas que por não comporem o sistema internacional de medidas, precisam ser inventariados uma vez que fazem parte da cultura popular do amazônida paraense.

Neste sentido, nos propomos a conhecer os sistemas alternativos de pesos e medidas praticados no Ver o Peso.

 

METODOLOGIA:

Assim, tivemos como sujeitos dessa pesquisa vendedores: 3 de camarão, 5 de açaí , 2 de verduras e 3 de farinha de mandioca que foram entrevistados no mercado. 

Os vendedores de camarão comercializam seu produto por quilo e por litro.

Os vendedores de açaí o vendem utilizando como unidade de medida o paneiro (cesto da palha do açaizeiro capacicade 15 kg).

As vendedoras de verduras comercializam couve e coentro por maço. O tamanho do maço depende da safra, pois quando a safra está boa o maço fica mais volumoso e quando está escassa o maço torna-se menos volumoso. Ressaltamos que o preço não modifica, permanecendo apenas 1 real, a variação está no volume do maço.

A farinha de mandioca é vendida por saca (60 kg) e por litro (pequena porção). A farinha é um sólido, mas não é vendida a quilo nas feiras de Belém.

Constatamos que há presença de órgãos públicos no Ver o Peso (economia e PROCON).O mercado disponibiliza uma balança aferida pelo IMETRO para que o consumidor possa se certificar, evitando desacertos.

Para nós pesquisadores está visível que existe um sistema alternativo de medidas sendo utilizado que não é questionado pelo comprador, tampouco pelo poder público. Assim, inventariando esses sistemas alternativos, nos perguntamos os motivos que concorrem para que esse fenômeno ocorra.

 

RESULTADOS:

Todos os vendedores afirmaram conhecer o sistema internacional de medidas e ter ciência da existência desse sistema como de uso oficial no Brasil, contudo, eles revelaram nunca terem sido questionados pelos compradores ou poder público.

Uma das vendedoras de verduras disse que "sempre foi assim que vendemos e ninguém nunca reclamou" e continuou dizendo que se o preço permanece o mesmo o cliente não reclama ainda que o maço diminua de volume.

O fenômeno mais intrigante se revelou na particularidade da venda de camarão acontecer por quilo e por litro (cilindro de alumínio com capacidade de 1l). Como camarão não é um líquido, tal uso do sistema internacional de medida causa estranhamento. De fato, os compradores preferem adquirir o produto por litro (porção pequena). Entendemos esse fenômeno como cultural. O mesmo acontece com a farinha de mandioca.

A fruta açaí é vendida tendo como unidade de medida o "paneiro" em detrimento do quilo também se revela como um fenômeno cultural, posto que, na capital os feirantes tem acesso a balanças digitais ou convencionais. O sistema de medida alternativo é mais forte e a balança é desprezada. O feirante quando perguntado por que vendia daquela maneira nos respondeu "sempre foi assim", mostrando-se muito surpreso com nossa pergunta.

CONCLUSÃO:

Nesta pesquisa não procuramos o poder público para perguntar a respeito do uso desses sistemas alternativos de pesos e medidas utilizados no Ver-o-Peso, mas podemos afirmar que o fenômeno se repete em todas as 42 feiras de Belém.

Sabemos que os compradores não questionam os sistemas alternativos de pesos e medidas utilizados pelos feirantes, pois o naturalizaram.

A cultura se mostra fortalecida com ares de tradição nas palavras do feirante "sempre foi assim" mostrando que o antigo e o novo coexistem. O uso dos sistemas alternativos de pesos e medidas independe de área rural ou urbana, de acesso ou não aos instrumentos de medidas, de conhecer ou não sistema oficial de pesos e medidas do Brasil, de ter mais ou menos escolaridade, pois o mercado é freqüentado por pessoas de todas as classes sociais além dos turistas.

A pesquisa nos proporcionou uma reflexão a respeito das tradições e da cultura tão arraigada no povo paraense, da sua criatividade em destinar novos usos ao sistema internacional de medidas e ao criar e continuar a utilizar seus tradicionais sistemas alternativos de pesos e medidas, que uma vez inventariados darão margem a novas pesquisas.

Entendemos esse sistema alternativo de pesos e medidas como um patrimônio cultural do Pará e como um pensar matemático particular.

Palavras-chave: Cultura , Sistema alternativo de pesos e medidas, Amazônia.