62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
UM ESTUDO SOBRE O PROEJA BASEADO NO REFERENCIAL DE PAULO FREIRE
Ernesto Macedo Reis 1
Marília Paixão Linhares 2
Maria Helena Pamplona Beltrão da Fonseca 2
1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense
2. Universidade Estadual do Norte Fluminense
INTRODUÇÃO:
O edital 003/2006 do consórcio CAPES/SETEC/MEC propôs a nove projetos de pesquisas contratados uma questão desafiadora: como agir para implantar e consolidar políticas educacionais no âmbito do Programa de Integração da Educação Profissional Técnica de Nível Médio ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos - PROEJA? Como pesquisadores e responsáveis por um dos projetos identificamos na Pesquisa-Ação (P-A) uma possibilidade efetiva de atuar no campo e investir num tipo de pesquisa participante nas salas de aula visando o desvelar de novos conhecimentos, partindo do questionamento: quem são os sujeitos do PROEJA? Nesse sentido, para Barbiér (2007), P-A é um processo que remete a sistematizações, inseridas em um quadro teórico, epistemológico e metodológico articulados, cuja consistência favorece aproximações aos dilemas das salas de aula. A visão de pesquisa assumida é dialógica, visto que o diálogo liberta e o pesquisador não é o único responsável pela pesquisa. A identificação obtida com a intervenção pedagógica está alicerçada na obra de Paulo Freire, desde A Pedagogia do Oprimido, passando pela Pedagogia da Esperança, Pedagogia da Pergunta e a Pedagogia da Autonomia e nos revela um quadro específico do PROEJA na região sudeste.
METODOLOGIA:
A Pesquisa-Ação empírica numa perspectiva metodológica do tipo etnográfica considerou a necessidade de formar professores de Biologia, Física e Química na ação de campo, construindo metodologias, pesquisando conceitos e teorias que deveriam ser ensinadas, construindo ações didáticas, testando, ensinando, mas, sobretudo, aprendendo. Na Aprendizagem Baseada em Casos (ABC) focamos a proposta pedagógica de integração disciplinar no Curso Técnico de Eletrônica a um ambiente hipermídia para aprendizagem com suporte na Internet. A intenção, potencializar o ensino através da Educação a Distância. O sistema acessível em [http://www.uenf.t5.com.br] propõe interatividade: Fórum, Chat, Portfólio, Estudos de Caso, disponibilizam materiais para ensino. Estudos de Caso definem uma concepção curricular inovadora em um conjunto de conhecimentos a serem construídos, interligados com a área da profissionalização. Na prática objetiva-se: 1 - identificar as idéias prévias dos estudantes, 2 - favorecer interações com materiais ricos em informações, promover diálogo-cooperação, valorizar argumentação-defesa de idéias, 3 - potencializar avanços conceituais. Durante o processo fez-se uso da observação participante, de questionários, entrevistas e da análise documental acionando-se 176 estudantes do PROEJA.
RESULTADOS:
Na Análise de Conteúdo (Bardin, 2004) e Análise do Discurso (Bakhtin, 2005) encontrou-se flexibilização do processo de avaliação da aprendizagem e um elemento de interpretação da análise documental. Através de observação participante, de questionários e entrevistas, identificam-se os sujeitos do PROEJA na região do norte fluminense em relação a três categorias de análise: Público-alvo - preferencialmente homens (77%), idade média de 29 anos, equilíbrio entre empregados e desempregados, articulam saberes da área de Ciências básicos a partir da vivência, 93% vivem na cidade, são informados pela mídia, desejam melhorar de vida. Escolarização - Lêem e interpretam com dificuldade, estão afastados da escola em média há 8 anos, não gostam da maior parte das aulas que assistem, não conseguem ter bom relacionamento com os professores, não são assíduos nem pontuais, não aceitam bem metodologias mais tradicionais. Contudo, a maior dificuldade observada foi a escrita. Socialização - estão inseridos socialmente, mas não profissionalmente, nem cientificamente ou tecnologicamente, rejeitam de imediato relações cooperativas se não forem convencidos do contrário, demonstram intencionalidade em aprender, quanto ao uso da informática, em particular da Internet. Desejam acima de tudo inserção profissional.
CONCLUSÃO:
Pesquisa-Ação tem potencial para fazer frente às necessidades de conhecimento sobre o PROEJA, porém é preciso contar com maior participação dos professores formando-os com competência para a pesquisa educacional. Quanto à metodologia adotada, o uso de ferramentas cognitivas revela a necessidade dos professores do PROEJA dominarem esse aspecto, pois os estudantes se mostraram receptivos. Em acordo com a teoria de Piaget, o referencial de Freire concebe aprendizes como produtores de cultura, o que é o caso do PROEJA e seus saberes populares. Para nós, ensinar Ciências no PROEJA deve significar voltar-se para desigualdades socioeconômicas que se abatem sobre parte significativa da população brasileira, é possível desvelar o mundo e ampliar os significados de autonomia, como nos ensina Freire. O referencial adotado é útil para nos ajudar na aproximação dos estudantes do PROEJA. Também nos diz que os mecanismos de escrita e leitura do mundo da Ciência não podem ser utilizados para simples verificações, mas para questionar, recriar, revisitar realidades de vida, em leituras próprias, e não com interpretações de outros. Na concepção freireana o entendimento é que não existe conhecimento pronto e acabado. Para nós, muito menos nas Ciências que é a base dos cursos técnicos do PROEJA.
Instituição de Fomento: CAPES/SETEC/MEC
Palavras-chave: Pesquisa-Ação, Ambiente Virtual, PROEJA.