62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana
OS MARACATUS-NAÇÃO PERNAMBUCANOS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
Jailma Maria Oliveira 1
Anna Beatriz Zanine Koslinski 1
1. Universidade Federal de Pernambuco
INTRODUÇÃO:
Sabemos que no mundo globalizado surgiu uma nova ordem de diversidade com diversos focos de resistência cultural. Muitos desses focos fazem questão de afirmar suas identidades pela diferença e legitimar seus valores pela tradição. Em Recife e arredores temos os maracatus-nação como exemplos desse fenômeno. Maracatu-nação é uma manifestação cultural afro-brasileira composta de um cortejo real com música e dança muito presente nas comunidades de periferia, sendo o ápice das suas apresentações o carnaval. Os primeiros registros da manifestação datam do século XVIII, o que dá margem para o surgimento de debates acerca de sua tradição, baseada na antiguidade e estrutura original dos grupos. O objetivo deste trabalho é analisar o contexto dos maracatus-nação pernambucanos no mundo globalizado. Para isso discutiremos o fenômeno da globalização e suas conseqüências no mundo contemporâneo, faremos um breve histórico dos maracatus-nação e como eles se apresentam nos dias atuais e por fim demonstraremos de que maneira os valores impostos pelo mundo globalizado interferem na organização dos maracatus-nação e em sua relação com a sociedade mais ampla.
METODOLOGIA:
Para que pudéssemos iniciar a pesquisa fizemos uma revisão bibliográfica acerca do fenômeno da globalização e consumo, do conceito de tradição e das pesquisas realizadas sobre os maracatus-nação pernambucanos nas áreas de antropologia, história e etnomusicologia. Também foi realizado um trabalho de campo com observação participante durante o período do carnaval, onde observamos como os desfiles e apresentações dos grupos eram organizados, ou seja, quem determinava o formato e local das apresentações e para qual público elas eram destinadas. Observamos também os ensaios dos maracatus-nação em suas comunidades no período que precedeu o carnaval e realizamos entrevistas semi-estruturadas e conversas informais não só com os líderes dos grupos como também seus participantes em geral. No trabalho demos um enfoque especial aos grupos de maracatus que se consideram mais tradicionais, como a Nação do Maracatu Leão Coroado e a Nação do Maracatu Porto Rico. Em ambos os casos em decorrência dos fenômenos relacionados com a globalização.
RESULTADOS:
Ao longo da pesquisa, percebemos que existe uma série de valores impostos aos maracatus-nação e outras agremiações pelas autoridades que organizam as políticas culturais da cidade do Recife e arredores. Esses valores são em parte resultados do fenômeno da globalização que trouxe consigo uma lógica consumista que acabou por transformar a cultura em mais um tipo de mercadoria, inserindo-a no contexto das relações de mercado. Nesse sentido, tais valores se entrelaçam e remodelam as estruturas da indústria cultural, ao mesmo tempo em que se conectam com as grandes demandas dos operadores do turismo, dado maior relevo para as manifestações classificadas como cultura popular.
CONCLUSÃO:
No caso dos grupos aqui citados, observamos dois tipos de situações decorrentes dos efeitos da globalização. Ambos se inserem na lógica da indústria cultural e comercializam sua cultura, mas, enquanto um, contrapõe-se as exigências de transformação, tentando manter suas tradições tidas como imutáveis pelas suas lideranças, o outro possui um diálogo mais aberto em relação a tais exigências sem negar sua tradição. Sendo assim, estes grupos afirmam sua tradição e obtém lucros com essa afirmação. Nesse sentido, a economia global ao mesmo tempo em que contribui para estabelecer novos tipos de hierarquias e relações sociais, desencadeia processos de lutas e tensões. Esta situação pode ser vista por dois ângulos. Por um lado, os grupos disputam quem é ou não tradicional, com rearranjos nas indumentárias, instrumentos e coreografias, que se desdobram na composição de novos símbolos de identidade, resultando em desigualdades entre eles. Por outro lado, os grupos competem entre si por espaços de poder nas instituições culturais e por maiores fatias de financiamento. Alguns deles tornam-se mais autônomos, enquanto outros se enfraquecem. Dentro dos grupos as assimetrias tendem a se acentuar distanciando as lideranças dos que estão na base e alterando a distribuição dos recursos conquistados.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Palavras-chave: Cultura popular , Globalização , Identidade.