62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
CARACTERIZAÇÃO DO HÁBITO ALIMENTAR DO PEIXE VOADOR Hemiodus parnaguae NO RESERVATÓRIO DE BOA ESPERANÇA, PI, BRASIL.
Maíra Nanashara Silva Santos 1
Vanessa Maria Silva Rodrigues 2
Simone Ferreira Teixeira 2
1. Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
2. Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Pernambuco/UPE
INTRODUÇÃO:

Uma das grandes colaborações do homem para a modificação do meio ambiente é a edificação de reservatórios para fins distintos. Os barramentos reproduzem ambientes que exprimem particularidades de transição entre rios e lagos. Do ponto de vista ecológico, os represamentos dos rios ocasionam variações nos aspectos físicos, químicos e biológicos no ecossistema. Os peixes ocupam, representativamente, todos os níveis tróficos da cadeia alimentar. Deste modo, os itens alimentares ingeridos possibilitam reconhecer, dentro da ictiofauna, diferentes grupos tróficos e compreender sua estrutura, sua importância e as correlações entre seus componente. Estudos relacionados com a atividade alimentar de peixes são capazes de fornecerem informações para uma melhor compreensão a respeito da relação entre a ictiofauna e os outros indivíduos da comunidade aquática. O peixe voador Hemiodus parnaguae Eigenmann & Henn, 1916 ocorre restritamente no Brasil, sendo originário do rio Parnaíba. O presente trabalho teve como objetivo determinar o hábito alimentar do peixe voador ao longo do Reservatório Boa Esperança, localizado no trecho médio do rio Parnaíba, nordeste do Brasil.

METODOLOGIA:

Foram amostrados 43 indivíduos em oito pontos amostrais, que abrangem os ambientes lacustre, de transição e fluvial. Estes indivíduos foram coletados bimestralmente, de outubro de 2004 a junho de 2006, através de redes de emalhe de malha 5 cm entrenós. Para cada amostragem, os indivíduos capturados foram sacrificados e submetidos à biometria, sendo mensurados o comprimento total (CT) e comprimento padrão (CP), medidos em centímetros (± 0,01 cm), e o peso total (PT) em gramas (± 0,01g). Posteriormente, os estômagos foram retirados para fixação interna com formaldeído a 4%, e externa com formaldeído a 10%. Os conteúdos retirados foram analisados sob microscópio estereoscópico, para identificação dos itens presentes nos estômagos. Para a caracterização da dieta alimentar foram utilizados os métodos de frequência de ocorrência (FO) e volumétrico (V), associados ao Índice de Importância Alimentar (IAi). Os itens alimentares foram dispostos numa placa de Petri, para obtenção do volume.  As categorias alimentares foram classificadas como principal (IAi ≥ 50%), secundária (25% ≤ IAi < 50%), e acessória (IAi < 25%).

RESULTADOS:

Durante o período amostrado, H. parnaguae consumiu vários itens alimentares. Os itens foram agrupados em 5 categorias, sendo estas detrito/sedimento, vegetal, matéria orgânica vegetal, inseto e zooplâncton. No Reservatório de Boa Esperança, H. parnaguae se alimentou principalmente de detrito/sedimento (IAi % = 87,99%). Para as outras categorias o IAi % foi menor do que 25%, indicando que as mesmas representaram itens acessórios na dieta da espécie. Em função de sua preferência alimentar, o voador foi considerado como uma espécie de hábito alimentar detritívoro. Peixes com este hábito atuam na fase de prémineralização da matéria orgânica presente no lodo, tornando-a mais facilmente degradável pelos microorganismos. Estudos anteriores indicaram, a partir do exame do conteúdo estomacal de cinco espécies de Hemiodus, na área de influência do reservatório de Balbina, que duas destas espécies, H. argenteus e H. microlepis, eram detritívoras, com dietas compostas por mais de 80% de detrito. As demais, H. immaculatus, H. atranalis e H. unimaculatus, apresentaram hábito alimentar herbívoro/detritívoro, zooplanctívoro/detritívoro e algívoro/detritívoro, respectivamente, indicando a importância do item detrito na dieta alimentar para as espécies deste gênero em áreas represadas.

CONCLUSÃO:

Por apresentar preferência alimentar por detrito, o peixe voador Hemiodus parnaguae do Reservatório de Boa Esperança, pôde ser considerado uma espécie de hábito alimentar detritívoro.

Instituição de Fomento: CHESF, PETCON
Palavras-chave: Hemiodus parnaguae, detritívoro, rio Parnaíba.