62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
CIÊNCIA E SOLIDARIEDADE ENTRE JOVENS ENGENHEIROS: A ESCOLA DE MINAS DE OURO PRETO
Bruno Lucas Saliba de Paula 1
Lucas Barbi Costa e Santos 1
Maria Amália de Almeida Cunha 2
1. Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
2. Profa. Dra. (Orientadora) - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
INTRODUÇÃO:
Nosso trabalho tem por objetivo principal investigar o chamado "espírito de corpo" presente na Escola de Minas de Ouro Preto, desde os seus primeiros anos, no período em que era dirigida por Henry Gorceix (1876-1891), seu fundador, até os dias atuais. Ao incorporar alunos egressos da própria Escola em seu corpo docente, Gorceix desenvolveu um caráter endógeno na Instituição. Acreditamos que essa prática contribuiu para o surgimento do "espírito de corpo" da Escola, dinâmica que será avaliada pelo instrumental teórico de Pierre Bourdieu (1989). Essa lógica de grupos trouxe certas dificuldades aos professores vindos de outras instituições. Por isso, interessa-nos investigar se haveria um conflito entre os professores que se formaram na própria Escola e os "de fora", constituindo uma configuração estabelecidos/outsiders tal como descrita por Norbert Elias (2000). Finalmente, a importância do nosso trabalho reside na tentativa de analisar como socializações restritivas e endógenas repercutem sobre as práticas profissionais de sujeitos dentro e fora da Instituição em que eles foram formados. A EMOP será tomada, portanto, como o paradigma empírico para entender as estratégias de reprodução de grupos que disputam a permanência do lugar conquistado pelo viés da ancestralidade.
METODOLOGIA:
A primeira fase do trabalho consistiu numa seleção bibliográfica da literatura existente sobre a história da Escola de Minas, bem como da literatura sociológica relativa ao tema estudado. Em seguida, realizamos um levantamento estatístico acerca do local de formação dos professores egressos no intuito de saber a freqüência de profissionais formados na EMOP que integram atualmente o corpo docente da instituição. Em uma fase posterior, entrevistamos os professores da Escola de Minas visando compreender de que maneira o "espírito de corpo" e a endogenia presentes ao longo da história da instituição influenciaram a constituição do corpo docente da Escola. Finalmente, analisamos os dados referentes às entrevistas por meio do software QSR Nvivo 7.
RESULTADOS:
Constatamos que, atualmente, 45,19% do corpo docente efetivo da Escola de Minas é composto por ex-alunos da Escola e que ocupam o cargo de professor efetivo na Universidade, dado bastante representativo da força do "espírito de corpo" presente na instituição. Tal constatação sugere que a endogenia na Escola não só se manteve ao longo dos anos, como reforçou o "espírito de corpo". As entrevistas que realizamos também apontam para a existência de um conflito, ainda que subliminar, entre os docentes formados na EMOP e os professores vindos de outras instituições. É verdade que esse conflito já foi mais intenso no início dos anos 90, logo depois que a Constituição de 1988 instituiu a obrigatoriedade dos concursos públicos para a contratação de professores nas Instituições de Ensino Superior públicas do Brasil. Mas, com o passar do tempo, o conflito se manteve, marcando até hoje a relação entre alguns professores da Escola.
CONCLUSÃO:
Durante todo o século XX a Escola de Minas de Ouro Preto passou por crises que revelam a dificuldade de manter os propósitos de Gorceix frente à nova realidade configurada para a Educação Superior no Brasil. Apesar desses momentos críticos, a EMOP, agora parte da Universidade Federal de Ouro Preto, transformou-se sem abandonar o espírito científico de seu fundador. Enquanto hoje muito dos professores que foram ex-alunos da Escola continuam renitentes à mudança e presos ao "espírito de Gorceix", os professores recém-chegados procuram encontrar espaço em uma Instituição que ainda convive com o peso da glória do passado, para usar a expressão de José Murilo de Carvalho (2002). A esse respeito não podemos obliterar a "luta entre campos" que tem marcado o interior dos espaços institucionais da Escola. De um lado estão os "estabelecidos", adeptos do "espírito de Gorceix" que buscam preservar as tradições e a lógica de grupos que alimentou toda uma dinastia intelectual. De outro estão os "outsiders", os quais representam uma nova ordem, lutando para enquadrar a Escola dentro dos novos requisitos relativos à educação e à investigação.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG
Palavras-chave: Escola de Minas de Ouro Preto, endogenia, espírito de corpo.