62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 8. Educação Matemática
Diálogos e interações entre alunos estudando matemática em uma situação arranjada
Melânia Bulcão Almeida 1
Pedro Lúcio Barbosa 2
1. Depto. de Matemática, Estatística e Computação / UEPB
2. Prof. Ms./Orientador - Depto. de Matemática Estatística e Computação / UEPB
INTRODUÇÃO:

Nesta pesquisa, investigamos como ocorrem os diálogos e interações produzidos pelos alunos estudando matemática em uma situação arranjada. Os diálogos entre alunos e professores é uma das principais formas de interação em sala de aula e podem ser realizados levando-se em conta questões como as regras estabelecidas pela norma culta, linguagem cotidiana, linguagem matemática e suas formalidades e, ainda, a linguagem das diversas culturas presentes na sala de aula. Isso é essencial para um bom entendimento do que está sendo proposto pelo professor. O que acontece em termos de interações sociais entre os alunos, quando estudam em grupo, em geral, é considerado essencial para a aprendizagem por diversos estudiosos. Entendemos aprendizagem como Alro & Skovsmose (2006) - como um processo de interação entre várias pessoas, o que pressupõe comunicação e diálogo. Entre outros aspectos relevantes desta pesquisa, ela caracteriza-se na linha dos estudos que buscam compreender como os alunos aprendem, o que continua a ser um dos grandes desafios postos para os educadores e pesquisadores.

METODOLOGIA:

Neste estudo, adotamos o método qualitativo. A abordagem qualitativa pode ser caracterizada como sendo uma tentativa de explicar em profundidade o significado e as características das informações obtidas em campo. Para a obtenção dos dados, foram feitas gravações de áudio durante cinco encontros, em uma situação arranjada, com alunos do 7° Ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual da cidade de Campina Grande. "Situação arranjada", neste estudo, nada mais é do que um encontro para o qual os alunos foram convidados a participar, a fim de juntos formarem um grupo de estudo e resolverem atividades referentes aos conteúdos de matemática estudados na escola dos mesmos. Participaram dos encontros, inicialmente, três estudantes, mas por desistência de um dos integrantes do grupo, os encontros seguiram-se com apenas duas alunas. Esses encontros aconteceram uma vez por semana. Eles respondiam, em conjunto, às atividades de equações do 1º grau e quadriláteros do livro didático adotado pela escola. Essas atividades eram solicitadas pela professora de matemática da escola. Inicialmente, a ideia era a de que não houvesse intervenção da pesquisadora, mas devido à dificuldade enfrentada pelos alunos, durante a realização das atividades, esta intervenção foi inevitável.

RESULTADOS:

Analisando os dados, notamos que os alunos trabalhando em conjunto para resolver as atividades, conseguem obter maior êxito do que se estivessem trabalhando sozinhos. O apoio e as ideias trocadas entre os mesmos são de grande utilidade para a conclusão da atividade. Percebemos um tipo de interação denominado por "Co-elaboração por co-construção" (GILLY, FRAISSE E ROUX, 1988, apud CARVALHO, 2005, p. 20). Nesse tipo de interação, os alunos "se aproveitam" das ideias uns dos outros para concluírem as suas. Notamos, também, o que Carvalho (2005, p.30), citando Skemp (1978), denomina de "Conhecimento Instrumental". Nesse tipo de conhecimento, os alunos dominam apenas um tipo limitado de métodos, mas que tem pouca utilidade, pois permite solucionar, um também limitado, tipo de problemas. Devido a isso, os alunos possuem pouca autonomia para solucionar os problemas com que se deparam. Outro ponto observado, talvez em virtude dessa falta de autonomia, é que os alunos, por diversas vezes, não levam adiante as suas constatações. Eles as descartam com a mesma rapidez em que pensam, e isso, sem sequer analisar se são válidas, ou não. Isso está relacionado aos padrões de comunicação identificados por Alro & Skovsmose (2006, p. 89) que atrapalham a cooperação no trabalho em conjunto.

CONCLUSÃO:

Os alunos, em boa parte dos momentos, não conseguem, por si sós, levar as atividades requisitadas adiante, necessitando de uma intervenção maior. Essa intervenção, provavelmente, é feita pelo professor ou por alguém que compreenda o assunto e possa orientá-los. Normalmente, conseguem apenas resolver questões com contextos semelhantes e limitam-se a aplicar os métodos que já conhecem. Não analisam o que, de fato, é solicitado, e inevitavelmente, acabam por descobrir que o que fizeram não é o que foi pedido. Por outro lado, o fato de estarem a trabalhar em conjunto facilita a realização do trabalho, pois a troca de informações ocorrida entre os mesmos durante a realização das atividades cria um clima de cooperação, permitindo a continuidade da tarefa. Algumas dessas dificuldades encontradas pelos alunos em conseguir resolver as atividades se deve a não aprendizagem de conteúdos anteriores e à falta de conhecimento de alguns conceitos essenciais para a resolução das atividades. Esses, por sua vez, são alguns dos fatores que contribuem para o fracasso escolar no ensino da matemática nas escolas públicas do país.

Palavras-chave: Diálogos, Interações, Situação arranjada.