62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
PERFIL DE USUÁRIOS DE SERVIÇO DE REPRODUÇÃO NO RIO DE JANEIRO: IDENTIFICAÇÃO DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL E/OU AMBIENTAL SUBSIDIANDO ELABORAÇÃO DE ESTRATÉGIAS EDUCATIVAS E AÇÃO PREVENTIVA E DE PROMOÇÃO DA SAÚDE REPRODUTIVA
Whitaker Jean Jaques e Silva 1
Tatiana Henriques 2
Michele Pedrosa 3
Cláudia Waimberg Goldman 3
Tonia Costa 4
Maria do Carmo Borges de Souza 3
1. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Instituto de Biologia
2. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Instituto Biomédico
3. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Instituto de Ginecologia
4. Universidade Federal do Rio de Janeiro - Faculdade de Educação
INTRODUÇÃO:
Recentemente têm crescido as preocupações sobre a interferência de fatores ambientais sobre a fertilidade humana, tais como drogas (lícitas e ilícitas), pesticidas, medicamentos, fitoestrogênios e micotoxinas, além de poluição, estresse, calor, radiação e infecções. A infertilidade é considerada, pela OMS, um problema de saúde pública. Afeta até 15% da população sexualmente ativa e em 50% dos casos o fator masculino está envolvido. Assim, questionamentos acerca da saúde reprodutiva masculina vêm crescendo na literatura. Os efeitos da exposição ocupacional e/ou ambiental sobre o sistema reprodutor masculino foram estudados por diversos autores. Mas, além de diversas substâncias, evidências de que situações e hábitos - tabagismo e abuso do álcool - são nocivos, sobretudo para o homem, ampliam a percepção sobre o risco potencial da exposição a contaminantes e mesmo das condutas para a saúde reprodutiva humana. O objetivo deste estudo foi identificar a ocorrência de exposição ocupacional e/ou ambiental em homens, parceiros de casais usuários de serviço público, referência na área de Reprodução no estado do Rio de Janeiro.
METODOLOGIA:
Estudo descritivo, transversal, de abordagem qualitativa. De janeiro de 2009 a fevereiro de 2010, 53 casais de primeira consulta consentiram em participar do estudo (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde - CONEP, 1996). Foram submetidos a questionários semi-orientados visando estabelecer seus perfis sócio-econômicos, reprodutivos e sujeição (ou não) a riscos ocupacionais e/ou ambientais à saúde reprodutiva. Paralelamente a análise dos prontuários permitiu registrar e analisar resultados de espermogramas já realizados, de acordo com a padronização da OMS 5.ª edition, 2009). Os dados dos homens, parceiros do casal em busca de tratamento para infertilidade, foram registrados e arquivados em ordem numérica, segundo a data de integração na amostra. Posteriormente integraram banco de dados no programa Excel/Office 2003 e no Special Program for Social Sciences (SPSS) versão 19,0 considerando variáveis de identificação pessoal e exposição a riscos a saúde reprodutiva, separados por tipo: ocupacional ou decorrentes do estilo de vida. Foi feita a distribuição das freqüências das variáveis para compor o perfil do paciente.
RESULTADOS:
O perfil dos homens, quanto à história de vida e exposição a fatores de risco para a saúde reprodutiva demonstrou: 83% têm entre 21 e 40 anos; 64,2% possuem renda mensal total familiar até R$ 1500,00 e 34,0% entre R$ 1501,00 e R$3500,00. 39,6% têm até nove anos de estudo, 32,1% concluíram o Ensino Médio. Cinco homens (9,4%) iniciaram o Ensino Superior e três o concluíram (5,7%). A água da torneira foi a principal fonte de consumo de 71,7%, sendo que 69,8% bebem água filtrada e 30,2% não filtrada. Sobre adicção: 41,5% usam álcool, 9,4% tabaco, 3,8% maconha, 9,4% cocaína, 1,9% (um) maconha e cocaína e 1,9% maconha e crack. 32,1% referiram exposição à fumaça de cigarros, 24,5% são ex-tabagistas. 43,4% declararam exposição química, dos quais 47,93% sem qualquer proteção. Dentre os espermogramas, 45,3% normais, 26,4% alterados e 28,3% não apresentaram resultado. Chama a atenção que 30,2% dos homens deste estudo não usem água filtrada. A adicção foi relatada por 45,28% dos integrantes do estudo, dos quais 91,67% usam álcool (24 homens ou 41,5% da amostra). Quanto à exposição química, é importante destacar que 47,93% dos expostos não usem proteção. Com relação ao espermograma, a argumentação de dificuldade de realização do exame na rede pública pode mascarar a recusa em realizá-lo.
CONCLUSÃO:
Os dados sugerem a necessidade de incluir/ampliar a discussão da relação entre saúde reprodutiva e ambiente como ação preventiva em espaços formais - escolas e cursos de formação profissional - e não formais - programas de educação em saúde - especialmente na rede pública. O percentual associado ao uso de álcool ainda recomenda a inclusão/ ampliação da discussão deste tema específico, além do preconceito e estoicismo masculino, especialmente em relação à infertilidade. A construção do perfil dos usuários de serviço público de referência em Infertilidade é mister para a adequação do atendimento e viabilização de políticas públicas concernentes ao direito reprodutivo. É confirmada, assim, uma proposta de engajamento político do desenvolvimento da ciência, vinculada ao compromisso de cidadania, agregando apropriação social do conhecimento científico e melhoria da qualidade de vida da população.
Instituição de Fomento: CNPQ/UFRJ
Palavras-chave: infertilidade masculina, fatores ambientais, exposição ocupacional.