62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 6. Serviço Social do Trabalho
A TENSÃO TRABALHO/FAMÍLIA E SEUS REFLEXOS ENTRE MULHERES NORDESTINAS ASSOCIADAS AO CTN GONZAGÃO EM TANGARÁ DA SERRA-MT
Juliano Luis Borges 1
Lucas Gomes de Sousa 2
1. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP
2. Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT
INTRODUÇÃO:

As transformações estruturais da economia acarretaram enormes consequências para o mercado de trabalho. O impacto nos empregos tradicionais e a perda de rendimentos masculinos têm aumentado o número de famílias que dependem do trabalho e renda femininos.  Esta realidade tem provocado inúmeras alterações no cotidiano das mulheres. Elas estão assumindo várias jornadas, pois continuam exercendo suas funções de dona de casa, esposa, mãe e, muitas vezes, o papel de chefe de família. Dadas essas modificações em relação aos papéis e funções desempenhadas pelas mulheres, entendemos ser significativo investigar como conseguem conciliar a relação trabalho/família. Assim sendo, o presente estudo analisa o enfrentamento das questões trabalho/família entre as mulheres associadas ao Centro de Tradições Nordestinas - CTN Gonzagão - em Tangará da Serra-MT. No discurso familiar existe uma resistência dissimulada à inserção produtiva das mulheres através do trabalho remunerado. Isso resulta, significativamente, na falta de condições objetivas e subjetivas de redução das desigualdades sociais e de gênero.

METODOLOGIA:

A pesquisa buscou refletir sobre as circunstâncias em que mulheres nordestinas vivem, seus problemas, suas lutas, com vistas a compreender e desvendar os entraves e obstáculos que surgem no dia-a-dia, dificultando a sua organização e interação das questões trabalho/família. O universo da pesquisa foi constituído pelas mulheres sócias do CTN Gonzagão, representado por 27 associadas (45% do total de 60 sócios). Os sujeitos dos depoimentos para esse estudo revelaram seus deveres, compromissos profissionais e institucionais da vida cotidiana, nos aspectos de sua individualidade e de sua relação familiar. Para isso, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas direcionadas ao eixo central da pesquisa, seus contornos e conexões. Considerando que a nossa intencionalidade é analisar a relação do trabalho com a família, entrevistamos também um membro de cada família das mulheres pesquisadas, para desvelar as relações familiares e fazer a correlação com a subjetividade da mulher.

RESULTADOS:
Com fundação em 1991, o CTN Gonzagão tem como objetivo reviver as tradições nordestinas fora da região Nordeste. Em 2007, ocorreu um marco em sua história, com a eleição da primeira presidente. O segmento feminino foi caracterizado quanto as variáveis de faixa etária, estado civil e escolaridade. Podemos verificar que a maior parte (33,33%) das mulheres está na faixa etária dos 29 aos 39 anos. Porém, 51,86% de sócias têm idade acima dos 40 anos. São 12 mulheres casadas (44,46%), e ainda 09 amasiadas (33,33%) e 06 solteiras (22,22%). A maioria possui, em média, de dois a três filhos. O quadro de associadas possui o ensino fundamental (40,74%), ensino médio (18,51%), ensino superior (25,92%) e especialização (14,83%). O cotidiano das associadas nos mostra uma jornada sobrecarregada de atividades, e permeada por um agravante, que é a questão de "trabalhar fora" por necessidade financeira. Neste sentido, podemos observar mais de uma jornada de trabalho. Pelas falas das entrevistadas, o fato de estarem se dedicando ao estudo tem sido motivo de desavenças e conflitos familiares. Foi possível compreender que existem resistências, dissimuladas pelo discurso no âmbito familiar, para que a mulher consiga romper certos paradigmas; isso é claro em relação ao trabalho "fora de casa".
CONCLUSÃO:

Verificamos que a mulher nordestina continua sendo articuladora, organizadora e executora das tarefas de reprodução no espaço doméstico. As informações registradas e analisadas possibilitaram destacar aspectos positivos e negativos nas relações entre trabalho e família. O trabalho e o estudo têm ocupado posição de destaque na vida cotidiana dos sujeitos de pesquisa. Isso nos leva a considerar que o trabalho é um fator de estímulo seu desenvolvimento pessoal. O estudo é uma condição que pode favorecer o seu ingresso, permanência e ascensão no mercado de trabalho. No entanto, o fato de estarem se dedicando mais ao trabalho e ao estudo tem sido motivo de problemas familiares. O homem nordestino demonstra resistência à possibilidade de trabalho fora do ambiente doméstico, o que vem causando atrito entre a necessidade financeira e o costume arraigado por várias gerações.

Palavras-chave: Mulher, Trabalho, Família.