62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
EDUCAÇÃO DE PESSOAS JOVENS E ADULTAS EM VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIA: UM ESTUDO NO CONTEXTO DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
José Jackson Reis dos Santos 1, 2
Márcia Maria Gurgel Ribeiro 2
1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
2. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
INTRODUÇÃO:

Neste trabalho, analisamos a experiência político-pedagógica da Educação de Pessoas Jovens e Adultas (EPJA) desenvolvida na rede municipal de ensino de Vitória da Conquista, Estado da Bahia, focalizando o contexto dos anos iniciais do ensino fundamental. Desde o ano de 1997, o município inaugurou uma experiência considerada inovadora nesta modalidade educacional, buscando contribuir com a diminuição dos índices de analfabetismo e, ao mesmo tempo, implementar ações educativas capazes de garantir, não somente o acesso da população à continuidade dos estudos, mas também a permanência e a aprendizagem dessas pessoas. Nesse contexto, a EPJA, anos iniciais, está organizada em quatro módulos (Módulo I, II, III e IV), correspondente, cada um deles, a um ano letivo. A pesquisa desenvolvida colabora, sobretudo, na avaliação desta política educacional, indicando possibilidades de ressignificar ações tanto no contexto da Secretaria Municipal de Educação (SMED) quanto das escolas municipais.

METODOLOGIA:

A pesquisa, desenvolvida no período de 2008 a 2009, apóia-se numa perspectiva qualitativa, envolvendo, como afirmam Lüdke e André (2005, p.13): "[...] a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes".  Desse modo, optamos por uma abordagem colaborativa de investigação (IBIAPINA; FERREIRA, 2005), envolvendo quatro partícipes e os contextos de trabalho da alfabetização de pessoas jovens e adultas. Os conceitos de reflexividade crítica e de colaboração, inerentes à abordagem escolhida, perpassaram todas as etapas de construção e recolha de dados, quais sejam:        a) entrevista coletiva; b) sessões coletivas dialógicas (incluindo sessões de estudo e sessões reflexivas); c) observações diretas em sala de aula; d) escrita de notas de campo; e) análise de documentos oficiais. Com base nesse material empírico e na abordagem teórica adotada, realizamos uma análise dialética, organizando o material em temáticas, considerando categorias como contradição e conflito (KOSIK, 1976; CHEPTULIN, 2004), tendo como objeto de estudo a experiência político-pedagógica da EPJA da rede municipal de ensino de Vitória da Conquista.

RESULTADOS:

Entre os principais temas abordados, conforme dados construídos, encontram-se: organização curricular, avaliação da aprendizagem e formação continuada das professoras e da coordenação pedagógica. O processo de organização curricular envolve diferentes momentos com todos os segmentos da escola, buscando sistematizar tema gerador e construir a rede temática para implementação no cotidiano da prática alfabetizadora. A avaliação da aprendizagem envolve conceitos como avanço e permanência. No mesmo ano letivo, o educando poderá avançar para outro módulo. Identificamos conflitos no sentido de aceitar ou não que a promoção dos educandos para o módulo seguinte seja automática. "Porque ele pode chegar até o quarto módulo sem nenhum conhecimento", ratifica Juninho (nome fictício), explicitando desacordo quanto a esse aspecto. A formação continuada, desenvolvida em momentos mensais com representantes da SMED e na própria escola, todos os dias, das 18h às 19h, apresenta também desafios em seu desenvolvimento. "São cursos, mas não são assim, propriamente capacitações, porque são quebrados", afirma Clarinha (nome fictício). E ainda: "Na escola, o tempo que sobra é apenas para preencher diários; estudar a nossa prática mesmo fica difícil", advoga Glenda (nome fictício).

CONCLUSÃO:

A título de conclusão, podemos afirmar que ainda são poucos os investimentos formativos da SMED que possibilitem um maior aprofundamento sobre o pensamento do Paulo Freire, principal referência da experiência pedagógica. Ao adotar a retenção como possibilidade de manter o estudante num mesmo módulo por mais de um ano letivo, SMED e escola reafirmam uma perspectiva de avaliação tradicional, centrada na concepção de reprovação e materializam uma concepção restrita de EPJA. De um lado, criam-se estratégias para que o educando não avance sem os conhecimentos construídos para o referido módulo; de outro, as instâncias maiores delegam a produção do fracasso escolar para o educando e não assumem, coletivamente, um trabalho de acompanhamento pedagógico ao longo do ano, no sentido que esta problemática seja enfrentada e, aos poucos, resolvida. No âmbito da formação continuada, observamos uma descontinuidade das ações formativas e estas, em geral, não focalizam o contexto das práticas docentes, principal solicitação das professoras que desenvolvem, cotidianamente, a prática alfabetizadora. As práticas formativas no interior da escola, mesmo sendo realizadas, são insuficientes diante de várias demandas solicitadas pelo cotidiano da escola.  

Instituição de Fomento: Secretaria de Administração do Estado da Bahia (Bolsa SAEB).
Palavras-chave: Educação de Pessoas Jovens e Adultas, Currículo e Avaliação, Formação Continuada.