62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
AS POSSIBILIDADES DO DESENVOLVIMENTO DA AVICULTURA E AS VICISSITUDES DA PEQUENA PRODUÇÃO.
Josimar Mendes da Silva 1
José Grabois 2
Lucia Helena da Silva Cezar 3
Cátia Pereira dos Santos 4
Wallase Silva Botelho 1
Silvia Salles Neves 5
1. Graduando em Geografia pela UERJ
2. Prof. Dr. Adjunto do Departamento de Geografia Física da UERJ
3. Mestra em Geografia pela UFRJ. Pesquisadora associada
4. Mestra em Geografia pela USP. Pesquisadora associada
5. Graduada em Geografia pela PUC-RJ
INTRODUÇÃO:
Este trabalho tem por objetivo analisar o desenvolvimento da avicultura nos municípios de Bom Jardim e Duas Barras pontuando as mudanças sofridas por esta atividade. A avicultura, que nas origens visava a criação de galinhas poedeiras, estava muito ligada ao campesinato, consistindo em mais um dos elementos da policultura praticada nas pequenas propriedades. Consistiu, além da pecuária leiteira, num dos caminhos para enfrentar os efeitos das crises da economia cafeeira particularmente a de 1929 e, mais tarde, as conseqüências da política de erradicação dos cafezais improdutivos de 1961/62. A produção se amplia gradualmente na década de 1940 e nas duas décadas seguintes, ao se intensificar, transforma-se em alternativa nitidamente comercial. Na origem de caráter suplementar transformou-se em atividade principal das unidades camponesas e, ao trazer melhoria do nível de renda para estas famílias, favoreceu sua permanência. No entanto, com a expansão da avicultura no Brasil o preço dos frangos começou a cair e, simultaneamente, os custos de produção passaram a aumentar e entre 1978 e 1983 praticamente todos os pequenos produtores abandonaram a criação de aves. Hoje praticamente extinta, a avicultura foi uma das mais importantes atividades agrárias de Bom Jardim e Duas Barras.
METODOLOGIA:
De acordo com a proposta da pesquisa e apoiados nas idéias de autores como Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Maria Emília Lisboa Pacheco, Marta Inez Medeiros Marques e João Pedro Stédile sobre a permanência do trabalho camponês, abordamos a evolução econômica dos municípios e seus reflexos nas sucessivas reordenações espaciais e nas transformações sofridas pelo campesinato. Tendo em vista que o estudo geográfico permite a percepção dos termos concretos das relações sociedade-espaço, nas quais está implícita a consideração de uma perspectiva histórica e contemplando o desenvolvimento do estudo do trinômio terra-capital-trabalho, abordamos os assuntos evolução da economia, morfologia agrária, sistemas agrícolas, estrutura fundiária, relações de trabalho, comercialização e impactos ambientais. Para alcançar o que foi proposto, efetuamos inicialmente o levantamento e a análise de material bibliográfico, cartográfico e de dados secundários. Enfatizamos o trabalho de campo em diferentes etapas mediante realização de entrevistas e observação da paisagem onde se materializa o processo de produção do espaço.
RESULTADOS:
Os municípios de Bom Jardim e Duas Barras localizam-se na Serra Fluminense constituindo exemplo representativo da faixa de transição entre o Noroeste e a área nuclear da Serra Fluminense. Nesta faixa coexistem, com intensidade variável, quadros agrários específicos, ligados de um lado à história do café e, de outro, à pequena agricultura, tradicional ou modernizada. Podemos afirmar que num passado não muito remoto a participação da pequena produção camponesa na avicultura foi extremamente importante; mas, devido a falta de recursos financeiros, sofreu os impactos do mercado que findaram por mudar profundamente a sua situação no processo produtivo. Estes produtores viram-se, então, ainda mais subordinados aos grandes frigoríficos, pois não continuaram a realizar a avicultura por conta própria, mas sim financiados por estas empresas. O sistema agrário continua intensivo de trabalho e capital, agora, porém, com separação, ainda que não completa, destes fatores da produção: a mão-de-obra e despesas com equipamentos e materiais, cabem ao pequeno produtor e o capital, em grande parte, ao frigorífico.
CONCLUSÃO:
Houve inúmeras tentativas de reativação dessa atividade, porém não lograram sucesso e o que aconteceu em Bom Jardim foi a paralisação quase total da avicultura, abandonada, pela esmagadora maioria, tanto de grandes como pequenos produtores, estes, sem dúvida, os mais afetados. De quando em vez encontramos nas fazendas de gado leiteiro antigos galpões abandonados, alguns dos quais adaptados para servir como estábulos ou até mesmo, como casas de moradores. Em face desta nova conjuntura que lhe trouxe grandes prejuízos, a alternativa da pequena produção camponesa para sua permanência foi voltar seus esforços para as outras atividades existentes na propriedade, tais como o pequeno cafezal, a criação de gado leiteiro e a horticultura de caixaria. Os problemas que surgiram durante o desenvolvimento da avicultura em Bom Jardim e Duas Barras e que redundaram na sua quase total extinção têm suas raízes nas transformações da estrutura produtiva, traduzida, no caso destes municípios, na sua crescente dificuldade de competir com os grandes frigoríficos por causa da sua escala de produção.
Instituição de Fomento: CNPq - FAPERJ
Palavras-chave: AVICULTURA DE CORTE, CAMPESINATO E RELAÇÕES DE TRABALHO, REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA.