62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 7. Economia Regional e Urbana
SELETIVIDADE POR SEXO NA INDÚSTRIA TÊXTIL CEARENSE E NORTE-RIO-GRANDENSE: AVALIAÇÃO EMPÍRICA NOS ANOS DE 1998/2008
Luís Abel da Silva Filho 1
Silvana Nunes de Queiroz 2
1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2. Universidade Estadual de Campinas
INTRODUÇÃO:
As transformações políticas e macroeconômicas pelos quais passou a economia mundial e nacional, nos anos 1990, causaram profundos impactos nas atividades mais tradicionais. Setores da indústria que não contavam com o seu parque industrial tecnologicamente estruturado, capaz de concorrer em preço e qualidade com os produtos importados - foram os mais afetados com o processo de abertura econômica. Nesse cenário, foi condição necessária ou de sobrevivência para a indústria têxtil brasileira, notadamente a de grande porte, inovar o seu parque industrial, adotar novas formas de organização da produção e deslocar as suas plantas produtivas, especialmente do Sudeste para o Nordeste brasileiro, tradicional lócus dessa atividade econômica. A "preferência" pelos estados nordestinos justifica-se em função dos incentivos fiscais, mão-de-obra barata, abundante e disciplinada, além de sindicatos menos combativos. Assim, desde a década de 1990, o Nordeste vem recebendo grande quantidade de estabelecimentos têxteis, com destaque para o Ceará e o Rio Grande do Norte, maiores empregadores da região. Posto isto, o trabalho se propõe analisar e comparar a dinâmica industrial e o perfil da mão-de-obra formal empregada na indústria têxtil, no Ceará e no Rio Grande do Norte, nos anos de 1998 e de 2008.
METODOLOGIA:
Para a elaboração do trabalho utilizou-se como fonte de dados secundários a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE). O tratamento estatístico das informações foi feito de forma on-line, no site do MTE; em seguida os mesmos foram transferidos para a planilha de cálculo do Excel, onde foram construídas as tabelas da pesquisa. Os dados foram tabulados para os anos de 1998/2008, procurando captar a evolução nas estruturas produtivas e no emprego formal da indústria têxtil, no período referenciado, para os estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A escolha desses estados ocorre pelo fato dos mesmos terem o maior contingente de mão-de-obra empregada nesse setor de atividade econômica, dentre os estado do Nordeste. Em 2008, o Ceará ocupava a primeira posição na geração de empregos formais na indústria têxtil, seguido do Rio Grande do Norte. Destaca-se que, nessa pesquisa, abordam-se variáveis como: número de estabelecimentos; tamanho dos estabelecimentos, número de trabalhadores, sexo; idade; nível de escolaridade; faixa de remuneração; tempo de permanências nos postos de trabalho, dentre outras.
RESULTADOS:
Utilizando os dados da RAIS/MTE para o ano de 2008, observa-se que dos 8.120 estabelecimentos industriais do setor têxtil no Nordeste, 2.982 localizam-se no Ceará (36,72%), e 522 no Rio Grande do Norte (6,43%). Dentre todas as atividades econômicas a indústria têxtil é a que mais emprega nos dois estados. Sendo que dos 162.092 funcionários em tal atividade no Nordeste, 62.706 estavam no Ceará (38,69%) e 29.478 no Rio Grande do Norte (18,19%). Nesse segmento o maior número de trabalhadores encontra-se na faixa etária de 30 a 39 anos, com predominância da mão-de-obra feminina. Elas ainda apresentam melhor nível de escolaridade do que os homens em todos os anos analisados. Todavia, em 2008, no Ceará (55,12%) e no Rio Grande do Norte (48,67%), as mulheres concentram-se em sua grande maioria ganhando até 2 SM, contra 33,4% dos homens, no Ceará, e 34,81%, no Rio Grande do Norte. Ainda observou-se alta rotatividade, com 38,08%, no Ceará, e 30,50%, no Rio Grande do Norte, permanecendo empregado por menos de 1 ano. Os resultados mostram a importância, da indústria têxtil, na geração de empregos, no Ceará e no Rio Grande do Norte. Por outro lado, sinaliza para a precarização do emprego a partir da alta rotatividade, baixos salários e acima de tudo seletividade por sexo e idade.
CONCLUSÃO:
O objetivo deste artigo foi analisar, a partir da revisão da literatura sobre o processo de reestruturação produtiva da indústria têxtil brasileira, os seus impactos na geração e qualidade dos empregos formais na indústria têxtil nordestina, com foco para o Ceará e o Rio Grande do Norte, nos anos de 1998 e de 2008. Os dados da RAIS/MTE mostram que entre 1998 e 2008, tanto o Ceará quanto o Rio Grande do Norte apresentaram significativo crescimento na geração de postos de trabalhos no setor têxtil. Contudo, os empregos criados, em ambos os estados, são precários, caracterizados por alta rotatividade da mão-de-obra e baixos salários, ainda que diante da melhora expressiva no nível de escolaridade dos seus trabalhadores, com destaque para a mão-obra feminina. Assim, foi possível captar seletividade no mercado de trabalho por idade e sexo. Apesar de as mulheres serem a maioria nessa atividade e possuírem mais anos de estudos quando comparado aos homens, às mesmas auferem os menores rendimentos em relação aqueles. Nesse sentido, faz-se necessário o desenvolvimento de políticas e estudos aprofundados, que considere os possíveis fatores que levam a essa diferença salarial, com homens e mulheres exercendo as mesmas atividades e que ainda persiste na indústria têxtil cearense e potiguar.
Palavras-chave: Ceará, Rio Grande do Norte, Indústria Têxtil.