62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
APEGO RELIGIOSO COMO APOIO AO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DO DEPENDENTE.
Rita de Souza Tomás Falcão 1
Violante Augusta Batista Braga 1
Layana de Paula Cavalcante 1
Natália Iara Rodrigues de Araújo 1
Jaqueline Queiroz de Macedo 1
Angélica Mota Marinho 1
1. Depto. de Enfermagem - Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem - UFC
INTRODUÇÃO:
As redes de apoio social são suportes importantes no tratamento do dependente químico, colaborando no processo de recuperação. Entre estes dispositivos de apoio encontra-se a religião, com suas várias formas de manifestações de dogmas e ritos. Comumente ouvimos dependentes químicos relatando que, após passar por diversos tipos de tratamento, conseguiram abster-se das drogas ao freqüentar comunidades religiosas. Porém, poucas pesquisas analisam a influencia da religiosidade no tratamento de drogaditos, fato que nos instiga a estudar esse fenômeno. Este estudo, que tem como objetivos analisar de que modo a crença religiosa influencia no padrão de uso de drogas, identificando a importância da religiosidade no tratamento da dependência química.
METODOLOGIA:

Estudo exploratório, de abordagem qualitativa, desenvolvido com vinte usuários assistidos em um Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Outras Drogas (CAPSad) de Fortaleza. Para seleção dos sujeitos do estudo foi definido os seguintes critérios: ter idade superior a dezoito anos; estar em acompanhamento no CAPSad superior há dois meses; aceitar participar assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram coletados através de roteiros de entrevistas semi-estruturadas, contendo questões fechadas para caracterização sociodemográfica e de uso de drogas e questões norteadores relacionadas com a religiosidade.  A coleta de dados se deu no período de janeiro e fevereiro de 2010. Os resultados foram agrupados, apresentados em gráficos e tabelas e analisados com base na literatura pertinente. Antes da coleta de dados, este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Ceará.

RESULTADOS:

Grupo formado por vinte pessoas de ambos os sexos, apresentando, em sua maioria, as seguintes características: 90% do sexo masculino, com idades entre 18-54 anos. Quanto à religião: onze são católicos, sete evangélicos e dois não tem crença religiosa; todos declararam acreditar em Deus e dois dos entrevistados declararam que Deus não ajudava de forma alguma no seu tratamento; cinco usuários passaram a ter ou mudaram de religião após o início do tratamento. Nenhum dos entrevistados associou o uso de drogas a qualquer rito religioso. Dos quinze que não mudaram de religião, onze eram católicos, três eram evangélicos e apenas um permaneceu sem crença religiosa. Percebe-se que os seguidores de uma prática religiosa têm mais compromisso com o tratamento que os demais, o que já foi comprovado por estudos em que se observa uma relação inversa entre a religiosidade e o uso de substâncias psicotrópicas e apontam para um efeito positivo da religião na recuperação dos dependentes. A religiosidade tem uma dimensão central na vida de uma grande parte das pessoas e o aumento da espiritualidade é importante suporte emocional, com repercussões na saúde mental. A crença em uma força superior e, possivelmente, o acolhimento dos pregadores das doutrinas podem se constituir em um apoio importante e, muito vezes, no único existente no universo vivido pelo drogadito.

CONCLUSÃO:
A dependência química se constituiu como problema de saúde, apresentando-se de modo multifacetado e exigindo ações diversas e intersetoriais. Para atender a esta demanda muitas têm sido as estratégias que buscam envolver os vários segmentos da sociedade, desde a definição de políticas publicas à criação e utilização de dispositivos sociais de assistência e apoio. O apoio social é um processo que envolve interações com outras pessoas e que facilita o enfrentamento do estresse e outros estímulos aversivos. Entre esses dispositivos de apoio social merece destaque a instituição igreja, cada vez mais presente na sociedade atual, materializada em várias formas de ritos e dogmas. Nessa perspectiva, merece destaque o efeito positivo produzido pela religião na recuperação dos dependentes químicos. Com este estudo foi possível nos aproximarmos um pouco da realidade referente à relação entre dependência química e religiosidade. Nosso resultado aponta para a importância da religião como dispositivo de apoio social ao usuário de drogas em tratamento.  Através dele podemos inferir que o fato de ter uma prática religiosa, independente de qual seja, não só, mostra-se com um apoio importante no processo tratamento da dependência, mas, também, é buscado pela maioria dos pesquisados.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Apoio social, Transtornos relacionados ao uso de substâncias, Religião.