62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
A MERENDA ESCOLAR E O ENSINO DE CIÊNCIAS NO OITAVO ANO
Rute Alves de Sousa 1
Kátia Cilene Simões Cavalcanti Salgado 2
1. Secretaria de Educação a Distância - SEDIS / UFRN
2. Secretaria Municipal de Educação de Natal / RN
INTRODUÇÃO:
A falta de compreensão dos conteúdos trabalhados e os baixos resultados nas avaliações fazem com que muitos adolescentes sintam-se excluídos e afastem-se do ambiente escolar. As metodologias tradicionais trabalhadas na maioria das escolas também contribuem para o maior índice de evasão. O trabalho desenvolvido com 4 turmas do 8º ano da Escola Municipal Prof. Terezinha Paulino de Lima usou a merenda escolar como pano de fundo para estudar os alimentos. Essa iniciativa surgiu a partir do fato de que muitos alunos não comiam o lanche fornecido diariamente para eles. Ao invés disso preferiam gastar dinheiro comprando alimentos que, além de não possuírem os nutrientes necessários para o desenvolvimento, apresentavam corantes, aditivos químicos e gorduras prejudiciais à saúde. O diálogo com os alunos mostrou que eles possuíam concepções errôneas sobre o preparo dos alimentos e desconheciam os critérios que determinavam o cardápio semanal. Além disso, os comentários e piadas que diziam mostravam certa vergonha em consumir alimentos "doados pelo governo". Diante disso, sentiu-se a necessidade de realizar um trabalho junto aos alunos que os fizessem compreender o conteúdo trabalhado, mas também refletirem sobre suas atitudes e escolhas com relação aos alimentos consumidos.
METODOLOGIA:
Inicialmente foi realizada uma investigação sobre os conhecimentos prévios dos alunos acerca de hábitos alimentares e a partir daí os mesmos foram orientados a realizarem dois tipos de entrevistas: Os estudantes das turmas A e B entrevistaram as merendeiras sobre o cardápio do lanche escolar, para saber se era semanal, quinzenal ou mensal e quais os itens fornecidos. As turmas C e D entrevistaram os alunos das outras séries, sobre o consumo da merenda. Os alunos junto com o professor organizaram os dados das entrevistas em tabelas. Posteriormente o professor os levou a biblioteca e ao laboratório de informática da escola para pesquisarem sobre os nutrientes encontrados na merenda e no lanche comprado na cantina. Ao todo foram quatro aulas na sala de informática. Após essa etapa foi realizado um estudo dirigido com enfoque nos distúrbios alimentares (bulimia, anorexia e obesidade) e a elaboração de cardápios variados considerando-se: quantidade de calorias por alimento, necessidade diária do indivíduo de acordo com o sexo e o tipo de atividade. Por fim o projeto foi finalizado com a realização de uma mesa redonda que contou com a presença de uma nutricionista da Secretaria Municipal de Educação, do vice-diretor da escola e 4 alunos, sendo 1 representante de cada turma.
RESULTADOS:
Desde o início do trabalho percebeu-se certa resistência dos discentes em participarem das atividades propostas. Provavelmente por estarem habituados a aulas, nas quais, a única participação que tinham era transcrever para o caderno o texto copiado na lousa pelo professor. Com relação à realização das entrevistas apenas dois alunos das quatro turmas trabalhadas se recusaram a participar. Muitos apresentaram dificuldade para encontrar as informações nos livros didáticos, um sinal evidente da deficiência dos mesmos em leitura e interpretação. Na sala de informática, podem-se destacar três problemas: limitação do número de computadores; alunos que estavam tendo o primeiro contato com a máquina e alunos que estavam mais interessados no orkut e msn. Vale salientar que as aulas de informática foram as que mais despertaram interesse. A atividade em que eles tiveram de elaborar um cardápio diário considerando a necessidade de calorias de um indivíduo do sexo feminino sedentário foi muito proveitosa. No entanto, mais de 50 % dos estudantes apresentaram dificuldades na hora de somar as calorias e de selecionar alimentos nutritivos. Por fim, durante a mesa redonda os alunos participaram com sugestões de cardápios e questionamentos sobre a higiene na produção e manipulação dos alimentos.
CONCLUSÃO:
A metodologia utilizada para trabalhar os conteúdos relacionados aos alimentos permitiu que os alunos fizessem usos de competências e habilidades que normalmente não usariam nas aulas tradicionais. Tais como: capacidade de elaborar questionário que respondesse as questões levantadas durante a aula; desenvoltura para entrevistar colegas de outras turmas; habilidade de trabalhar em grupos com divisões de tarefas; organização dos dados obtidos nas pesquisas em tabelas; capacidade de buscar informações em livros e na internet. Diante dos resultados que foram obtidos pode-se dizer que o conjunto de procedimentos metodológicos utilizados durante esse trabalho desempenhou um importante papel para a formação do cidadão reflexivo e participativo na sociedade. Todavia, é importante compreender que essa formação é um processo longo, sendo necessário uma continuidade para que possa ser realmente eficaz.
Palavras-chave: Ensino fundamental, Metodologia, Alimentos .