62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
DANÇA, CORPO E PROCESSOS DE CRIAÇÃO: EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS NA GAYA DANÇA CONTEMPORÂNEA
Leila Bezerra de Araújo 1
Karenine de Oliveira Porpino 2
1. Depto.de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
2. Profa. Dra./Orientadora - Depto.de Artes/UFRN
INTRODUÇÃO:
A presente pesquisa investiga o processo de criação da coreografia "A Partida" ocorrido no período de 2006 e 2007, na Gaya Dança Contemporânea, Projeto de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Temos como objetivo descrever este processo de composição coreográfica considerando os elementos cênicos significativos para seus criadores e discutir os significados desse processo como ponto de referência para novas configurações e reflexões sobre o corpo no contexto das Artes Cênicas. Para subsidiar a discussão adotamos como principais interlocutores: Ostrower (1995; 1987), para pensar a construção artística calcada nos conteúdos vividos do artista; Merleau-Ponty (2004), para trabalhar o conceito de experiência e de estética; Pavis (1999; 2005) para analisar os elementos dramatúrgicos da coreografia; Mauss (2003) para pensar sobre as técnicas do corpo; e Le Breton (2009) para refletir sobre o corpo como construção coletiva.
METODOLOGIA:
A experiência, como ato e como conceito, norteia a trajetória metodológica, com enfoque no pensamento de Merleau-Ponty discutido em Chauí (2002). Nessa perspectiva, a autora esclarece que a experiência não se trata de receber um acontecimento de forma passiva ou de fazer associações mecânicas de sentidos, mas de compreender a maneira de ser e de estar no mundo de um sujeito. A experiência se dá na relação ativa entre esse sujeito e as situações postas pelo mundo para ele (CHAUÍ, 2002). Para resgatarmos as experiências vividas na ocasião criativa de "A Partida", realizamos entrevistas individuais com os sete sujeitos envolvidos no processo: cinco bailarinas, um ator e uma diretora. A entrevista abordou quatro questões que trataram da descrição do processo de criação, da percepção do corpo nesse processo e dos significados dele advindo. Para analisarmos as narrativas utilizamos a análise temática de conteúdo proposta por Bardin (1977), seguindo três passos propostos pela autora: a pré-análise, a exploração do material, o tratamento dos resultados e a sua interpretação. A partir dos núcleos de sentido chegamos a três eixos de discussão que abordam os significados do processo de criação vivido: Histórias Reais e Fictícias, Elementos Cênicos e Linguagens Artísticas.
RESULTADOS:
A partir da análise, percebemos que os bailarinos de "A Partida" disponibilizam-se a investigar o como produzir os caminhos de expressar as suas histórias reais e fictícias problematizadas no corpo, ampliando as suas possibilidades comunicativas e também os seus repertórios técnicos individuais. Dessa maneira, compreendemos que variadas linguagens surgiram nesse processo de criação, assim como o uso de objetos cênicos, em conformidade com o desenvolvimento dos modos individuais e coletivos de expressão. Mediante as narrativas dos participantes do processo de criação em questão, compreendemos que o mesmo significou o despertar de uma reflexão sobre a construção de uma dramaturgia para a dança. Esse interesse surgiu do desejo de construir um fio interligador entre as histórias expressas individualmente, do uso de elementos cênicos e de diversos modos de expressão, para a comunicação de um dizer composto coletivamente. Foram vividas e redimensionadas histórias, gestualidades a partir de objetos e linguagens individuais diferentes com algo a dizer em comum.
CONCLUSÃO:
A análise dos dados leva a concluir que este processo de criação em dança significou para os artistas envolvidos compreender a criação artística a partir de um corpo simultaneamente individual e coletivo. Representou criar formas expressivas particulares mediante experiências pessoais para o alcance do outro e intensificar as razões que os impulsionaram a criar e a sua comunicação, através da produção e articulação de elementos cênicos, da expressão de variadas linguagens artísticas e da construção de uma dramaturgia que tem no corpo seu protagonista. Significou também viver uma experiência inédita de construção coletiva e refletir sobre a técnica e a estética do corpo que evoca a dança contemporânea. Pensamos que alguns apontamentos sobre as escolhas artísticas e estéticas do grupo e o seu fazer colaborativo no momento enfocado por esta pesquisa, podem ampliar a discussão sobre o corpo e o papel do bailarino em um processo de criação em dança destacando os temas da dramaturgia na dança, da relação entre técnica e estética e da criação coletiva. Assim, artistas, pesquisadores ou interessados por essas questões podem extrair dessa discussão uma possível resignificação de conceitos pré-estabelecidos sobre dança, processo de criação e corpo.
Instituição de Fomento: UFRN
Palavras-chave: Processo de criação, Dança, Corpo.