62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
PINTURA CORPORAL NA SOCIEDADE AKWẼ-XERENTE
José Sousa Silva 1
Odair Giraldin 1
1. Universidade Federal do Tocantins/UFT
INTRODUÇÃO:

O povo Xerente habita atualmente uma área demarcada e homologada no município de Tocantínia-TO, composta pelas terras indígenas Xerente e Funil que foram demarcadas em momentos históricos diferentes, mas são contínuas. Falante da língua Akwẽ, da família linguística Jê, do tronco Macro Jê, este povo tem uma cultura própria. Seus aspectos culturais os distinguem tanto da sociedade envolvente quanto de outros povos indígenas, embora com semelhanças culturais com o povo Xavante, de quem se separaram provavelmente em meados do século XIX. Apesar do contato com os "brancos" desde o século XVIII, os Xerente ainda preservam sua cultura tradicional e sua identidade étnica. A pintura corporal (aspecto aqui enfatizado) é um exemplo dessa preservação. Este trabalho objetiva apresentar os padrões de cada tipo de pintura corporal no universo da organização sociocultural dessa sociedade e mostrar a importância dessa forma de organização para este povo. A pintura corporal serve como elemento identificador clânico, das metades exogâmicas, dos partidos da corrida de tora, dos cargos cerimoniais e status de idade e/ou gênero, de modo que através de sua visualização as pessoas se distinguem e se localizam no campo sociocultural.

METODOLOGIA:

A base deste trabalho está constituída tanto pela leitura da bibliografia existente sobre a temática quanto pelo trabalho de campo realizado nas aldeias. A bibliografia básica é composta de dissertações e teses, livros e artigos publicados sobre aquele povo. No trabalho de campo foram feitas observações do uso das pinturas corporais, que são realizadas mais comumente nos diversos momentos culturais, como festa de nominação, ritual funerário, casamento e também em momentos de manifestação política. Essas observações foram registradas em fotos (foram utilizadas também, como documentação, fotos mais antigas) constando dos vários tipos de pintura corporal. Além disso, foram realizados diálogos com os Wawẽ nõrĩ (Waw = "velho" ou ancião; nõrĩ = coletivizador). Essas conversas ajudam a compreender aquilo que não é possível entender somente através das observações e auxiliam também na percepção do significado da pintura corporal para os próprios Xerente. Neste trabalho foram utilizados equipamentos como: gravador de voz, máquina fotográfica e computador.

RESULTADOS:

As informações contidas na bibliografia consultada estão em certa consonância com o entendimento dos Wawẽ nõrĩ. É perceptível que, na sociedade Xerente, a pintura corporal é a forma usada (atualmente e desde os primeiros registros etnográficos, que remontam a Nimuendajú em 1930) para indicar o pertencimento de uma pessoa a uma das metades exogâmicas (Doi e Wahirê), a um dos seis clãs patrilineares ligados às duas metades (respectivamente Kuzâ, Kbazi, Krito; Krozake, Krẽprehi e Wahirê) ou a um dos partidos da corrida de tora (Htamhã e Stêromkwa), além de distinguir os ocupantes de alguns cargos cerimoniais (Danõhuĩkwa, Pẽkwa, Dakmãhrâkwa), que têm padrões próprios de pintura. Contudo, existem pinturas específicas para crianças recém-nascidas (pintura da Onça [Huku]) e para crianças de 2 a 4 anos de idade (pintura do Tamanduá [Padi]), embora, atualmente, os Xerente não as estejam usando com frequência. Segundo os anciãos, no passado existia também um tipo de pintura para moças e rapazes que ainda não tivessem tido relações sexuais. Assim, esta forma de organização social distingue as pessoas e seus cargos de modo que uma pessoa não precisa, por exemplo, sair perguntando a quais clãs as outras pertencem, pois a pintura corporal diz tudo isso quando visualizada.

CONCLUSÃO:

O intuito deste trabalho é estudar a pintura corporal em seus vários tipos e padrões e analisar sua importância e significação para os Xerente. Na leitura da bibliografia existente sobre a temática foram detectadas divergências quanto ao padrão de pintura do clã Krẽprehi. No trabalho de campo as divergências continuaram, agora entre os anciãos. Assim sendo, não foi possível eleger um padrão como verdadeiro. Portanto, conclui-se que a pintura corporal é indispensável na sociedade Akwẽ-Xerente, uma vez que divide e distingue as pessoas no campo da organização sociocultural. Dessa forma, a pintura corporal tem um significado simbólico para o povo Xerente. E, por isso, ainda é um traço cultural preservado nesta sociedade. Talvez o fato de haverem algumas divergências entre os velhos e alguns tipos de pinturas não estarem sendo mais utilizados (a pintura do Huku e as pinturas para moças e rapazes isentos de relações sexuais) esteja ligado a consequências históricas dessa sociedade. Porém, é importante ressaltar que esse povo resiste na conservação de sua cultura e tem capacidade de resgatar aspectos culturais abandonados.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Akwẽ-Xerente, Pintura Corporal, Cultura.