62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 2. Currículo
TRABAHO DOCENTE E RESSIGNIFICAÇÃO DISCURSIVA DA DINÂMICA CURRICULAR
Rosimeri dos Santos Silva 1
Renaly de Aquino Silva 1
Arlete Pereira Moura 1
1. Depto. de Educação, UEPB, Campina Grande/PB
INTRODUÇÃO:
Este trabalho resulta de uma pesquisa, que estuda o impacto da "flexibilidade" gerencial e das políticas neoliberais na descentralização educacional e na organização do trabalho de docentes do ensino fundamental. Sob os discursos da "flexibilidade" e da descentralização, desenvolvem-se posicionamentos contraditórios relativamente à gestão pedagógica das instituições escolares: possibilidade de vivência de práticas curriculares democráticas e mecanismo de controle dos resultados do trabalho educacional. Para o estudo dessa ambigüidade discursiva, definimos como objetivos: analisar mudanças e inovações implantadas na organização e na dinâmica do trabalho escolar; analisar a autonomia dos docentes na implantação de mudanças e inovações pedagógicas. Fundamentamos a investigação em autores que abordam a democracia e o controle do trabalho. Tocqueville (2001) e Castoriadis (2007) concebem a participação e a autonomia como procedimentos imprescindíveis à vivência democrática e Ball (2008) analisa os efeitos da "lógica da performatividade" sobre a subjetividade docente. A relevância dessa investigação reside, sobretudo, na possibilidade de contextualização e de questionamento dos discursos curriculares  que incidem sobre a prática dos/das docentes. 
METODOLOGIA:
Como abordagem metodológica, utilizamos a análise do discurso, conforme Fairclough (2001, p. 90), que concebe a "linguagem como prática social e não como atividade puramente individual ou reflexa de variáveis situacionais". O autor utiliza a análise tridimensional do discurso, que envolve o texto, a prática discursiva e a prática social. A prática discursiva faz a mediação entre o texto e a prática social. Do universo da pesquisa, escolas das redes de ensino estadual e municipal de Campina Grande-PB, selecionamos 8 (oito) escolas do ensino fundamental, por atenderem aos critérios estabelecidos: manterem, em seu quadro de funcionamento, supervisores/orientadores educacionais e disporem de projetos pedagógicos elaborados com a participação de docentes. Entre outros procedimentos, utilizamos a análise de documentos escolares, entrevistas com gestores/as e técnicos/as educacionais e com líderes de sindicatos docentes. As informações coletadas foram sistematizadas em categorias, pondo em destaque a participação e a autonomia docentes, na organização do trabalho escolar.
RESULTADOS:
As dificuldades constatadas na fase de realização das entrevistas com gestores/as e técnicos/as educacionais (paralisação dos/as professores/as, formulação de respostas lacônicas pelos/as entrevistados/as e tentativa de controle das informações disponibilizadas), a forma de organização do trabalho escolar e de significação do currículo suscitaram indagações quanto ao nível de autonomia e quanto à participação dos segmentos envolvidos na dinâmica institucional. Ao mesmo tempo em que questionamos a democracia educacional, a incidência de textos diversificados sobre a prática docente revelou ordens discursivas e significações diferenciadas acerca do currículo.
CONCLUSÃO:

O conflito dos discursos (democrático e de controle) na prática docente parece ter efeitos sobre o resultado do trabalho escolar. De um lado, hibridizam-se o "habitus" do ofício de mestre e os atos instituídos pelas mudanças em curso. De outro lado, e à medida que aumenta o controle sobre os resultados da educação escolar, sem a contrapartida de valorização real dos/das docentes, a escola parece transformar-se numa "arena contestada", onde não há espaço para um trabalho comprometido com a qualidade social. 

 

Palavras-chave: Descentralização educacional, Políticas curriculares, Trabalho docente..