62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA ESQUISTOSSOMOSE NO ESTADO DE SANTA CATARINA, NO PERÍODO DE 1999 A 2008.
Alcides Milton da Silva 1
Clarice Maria Oliveira de Azevedo 2
1. Depto. de Saúde Pública - UFSC, Florianópolis/SC
2. Diretoria de Vigilância Epidemiológica-DIVE / Sec. de Estado da Saúde - SES/SC
INTRODUÇÃO:

A Esquistossomose é uma doença parasitária transmissível, provocada por vermes trematódeos do gênero Schistosoma. São conhecidas seis espécies que podem provocar a doença no homem, entretanto no continente Americano existe apenas o Schistosoma mansoni. Ocorre em localidades sem saneamento ou com saneamento básico inadequado, sendo adquirida através da pele e mucosas. A Organização Mundial de Saúde estima que a doença acometa cerca 200 milhões de pessoas em 74 países. No Brasil acredita-se que seis milhões estejam infectados, encontrando-se o maior percentual na Região Nordeste do Brasil. Os primeiros casos de esquistossomose no Estado de Santa Catarina ocorreram em 1979, no município de São Francisco do Sul. Relatório elaborado em 2002, pelo Ministério da Saúde, classificou o Estado de Santa Catarina como área endêmica de transmissão focal dispersa, devido à situação epidemiológica observada nos municípios de São Francisco do Sul, Jaraguá do Sul e Guaramirim, considerada importante área de risco. Com o objetivo de estudar a ocorrência da doença em Santa Catarina no período proposto, foi observado e analisado os fatores epidemiológicos mais relevantes como distribuição geográfica, variação quanto ao gênero e faixa etária e dados relativos ao saneamento básico.

METODOLOGIA:

Foi realizado um estudo descritivo dos casos de esquistossomose ocorridos no Estado de Santa Catarina, no período do ano 2000 a 2008, analisando-se as variáveis: idade, nas faixas etárias 0 a 14; 15 a 54 e 60 anos e mais; sexo; e taxa de cobertura de saneamento básico. Considerou-se positivo o caso quando, através do método Kato-Katz, foram encontrados ovos de Schistosoma mansoni. Para o cálculo dos indicadores utilizou-se o percentual de exames realizados ante o total de exames programados em cada município; e para as taxas de prevalência o número total de casos autóctones divididos pela população exposta ao risco. A taxa de cobertura de saneamento básico foi calculada utilizando-se como numerador o total de domicílios com saneamento básico e denominador o número total de domicílios. Como fonte de dados do período de 1990 a 1999 utilizou-se os relatórios da Fundação Nacional de Saúde e no período de 2000 a 2008, o banco de dados do Sistema de Informação do Programa de Controle da Esquistossomose (SISPCE), alimentado por resultados de boletins diários de coproscopia normatizados pelo Ministério da Saúde. Estes dados foram exportados para o software Microsoft Office Excel 2003 para a construção das tabelas e gráficos dos resultados.

RESULTADOS:

Foram encontrados 44 (quarenta e quatro) casos autóctones de esquistossomose na Região Norte do Estado de Santa Catarina, constituída pelos municípios de São Francisco do Sul (11), Jaraguá do Sul (28) e Guaramirim (5). Os primeiros casos da doença, ocorreram na década de 70, em São Francisco do Sul, possivelmente por se tratar de uma cidade portuária e anos após, no município de Jaraguá do Sul junto à represa de uma indústria e em Guaramirim ocasionada pelo extravasamento do esgoto sanitário do alojamento de uma empreiteira da Petrobrás. A prevalência dos casos apresentou-se com percentual abaixo de 10% do total dos exames realizados, sendo maior no município de Jaraguá do Sul. Analisando-se a variável faixa etária, observou-se maior número de casos nas idades entre 15 e 54 anos; quanto o gênero foi maior no sexo masculino, nos três municípios. Informações semelhantes foram observadas nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, com predomínio absoluto no sexo masculino, o que pode ser explicado pela maior exposição ao risco de indivíduos que tiveram contato com coleções de águas. A taxa de cobertura de saneamento básico, no ano 2000, dos municípios de Guaramirim, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul, apresentou-se bem menor quando comparada a área total estudada.

CONCLUSÃO:
O estudo realizado no período do ano de 2000 a 2008, demonstrou que 44 (quarenta e quatro) casos autóctones de esquistossomose ocorreram na Região Norte do Estado de Santa Catarina, com uma população de 206.957 habitantes. É constituída pelos municípios de São Francisco do Sul, Jaraguá do Sul e Guaramirim, que possuem como características a movimentação portuária e agricultura com o cultivo de arroz irrigado. O maior número de casos ocorreu na faixa etária entre 15 a 54 anos do sexo masculino, apresentando uma série histórica continua de casos. O saneamento básico nos três municípios, apresenta certa fragilidade, demonstrando que as condições ambientais precárias e a presença da doença por muitas décadas refletem a ausência de políticas públicas que amenizem ou eliminem o ciclo evolutivo da esquistossomose. Importante ressaltar a descontinuidade das ações do Programa de Controle da Esquistossomose em nível municipal ocorrida com a implantação do Sistema Único de Saúde a partir do ano de 1999. Esse fato poderá estar relacionado com a sistematização adequada das atividades do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) nos municípios, evidenciadas pela alimentação periódica do Sistema de Informações do PCE(SISPCE).
Palavras-chave: Esquistossomose, Aspectos epidemiológicos, Estado de Santa Catarina..