62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
MAL ESTAR DOCENTE: OS RISCOS DO ESTRESSE E DA SÍNDROME DE burnout PARA O DESEMPENHO PROFISSIONAL DE PROFESSORES E PROFESSORAS
José Alex Soares Santos 1
1. Faculdade de Educação de Itapipoca/FACEDI
INTRODUÇÃO:

O novo milênio trouxe consigo um conjunto de mudanças para o mundo do trabalho, as quais tiveram início, ainda, na década de 1970. Tais alterações, entretanto, não alteraram substancialmente as relações sociais e as leis básicas e de longo prazo do capital. Basta considerarmos que, atualmente, um terço da força de trabalho mundial está sem emprego, sendo que outra grande parcela encontra-se como trabalhadores precarizados, terceirizados e subcontratados. A categoria docente inclusa nesse quadro desalentador que acomete todas as categorias profissionais proletárias e fazendo parte das profissões que atuam no campo das interações humanas está mais propensa e vulnerável aos sintomas do estresse e da síndrome de burnout. Os dados sobre o adoecimento físico-mental e emocional de professores e professoras em virtude do trabalho que desenvolvem fizeram com que a Organização Internacional do Trabalho (OIT), considerasse a docência como "profissão de risco físico e mental". Tal realidade nos levou analisar a precarização do trabalho no contexto da reestruturação produtiva, mas com o foco no labor professoral e os desgastes para a saúde do docente, especificamente nos riscos que o estresse e a síndrome de burnout causam ao seu desempenho profissional, físico, emocional e mental.

METODOLOGIA:

Inicialmente realizamos diálogo com autores que analisam a precarização do trabalho e com teóricos que abordam o mal-estar docente e os fatores associados ao estresse e a síndrome de burnout. Com base nesse estudo identificamos os tipos de estresse e classificamos os fatores multidimensionais e individuais da síndrome de burnout. Após essa tipificação, identificação e taxionomia desenvolvemos estudo exploratório em uma organização sindical que representa os servidores municipais (inclusa a categoria docente) de três municípios do norte cearense, no intuito de coletar dados sobre o adoecimento de professores e professoras, motivado pelas variantes do estresse e da síndrome de burnout. A pesquisa foi realizada entre abril e novembro de 2009. A escolha da organização sindical baseou-se no controle que esta faz dos pedidos de afastamento do trabalho pelos servidores públicos municipais por motivo de saúde, bem como possuir os registros com reclamações ou denúncias feitas por estes sobre as condições de trabalho. Com base nos dados coletados realizamos entrevistas com cinco professoras que se encontravam afastadas das funções por motivo de saúde, associado a problemas emocionais, sendo que frequentavam o Centro de Atenção Psicossocial para tratamento psiquiátrico e psicológico.

RESULTADOS:

Um dos aspectos substanciais do estudo compreende a elaboração de síntese das características sobre o fenômeno da precarização da docência e que contribuem para o adoecimento de professores e professoras, tais como alto número de alunos por professor; escassas condições de trabalho pedagógico; baixos pisos salariais e ínfima existência de plano de carreira profissional que contemplem os interesses da categoria; saúde debilitada com alto índice de enfermidades laborais. Essas características estão associadas à variante do estresse denominada de distress - estresse negativo que, dependendo de sua intensidade pode causar um mal estar no corpo do trabalhador e abrir caminho para o desencadeamento dos sintomas da síndrome de burnout. A taxionomia dos fatores de tal síndrome compreende uma ordem multidimensional: exaustão emocional, distanciamento afetivo ou despersonalização, baixa realização profissional; e individual: indivíduos pessimistas, perfeccionistas, com grande expectativa e idealismo em relação à profissão, controladores, passivos dentre outros. No Brasil, os estudos de Codo (1999) indicam que 48% dos professores e professoras das escolas estaduais apresentam estresse e sintomas parciais da síndrome de burnout, sendo que 25% enquadram-se no diagnóstico completo.

CONCLUSÃO:

A sistematização e análise dos dados evidenciam a existência de uma forte tendência à precarização do labor professoral, principalmente em virtude da desvalorização do trabalho docente, por exemplo, os baixos salários, péssimas condições de trabalho pedagógico, grande número de alunos por sala, características presentes nos três municípios em que a organização sindical (lócus da pesquisa) representa estes profissionais. É perceptível no discurso das professoras entrevistadas uma substancial desmotivação em relação a profissão que empurra parte da categoria para o que vem sendo denominado de "insalubridade docente". Esse quadro de adversidades tem como consequência o desenvolvimento de alta carga de distress que dependendo de sua intensidade gera-se os sintomas da síndrome de burnout. Salientamos que estes sintomas ao se desenvolverem nos (as) professores (as) afeta o ambiente educacional e interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando estes profissionais a um processo de alienação, desumanização e apatia no trabalho, bem como a problemas de saúde, absentismo e intenção de abandonar a profissão. A pesquisa possibilitou elaboração de cartilha com informações sobre os riscos do estresse e da burnout para a saúde docente, com sugestões que podem auxiliar na sua prevenção.

Palavras-chave: Precarização do trabalho, Mal estar docente, Estresse e burnout.