62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 14. Ensino Superior
VOZES, ESCUTA E SILÊNCIO: A COMPREENSÃO DE UMA BOA AULA SEGUNDO A AVALIAÇÃO DOS ALUNOS DE UM CURSO DE PEDAGOGIA
José Aparecido Alves Pereira 1, 2
Maria de Lourdes Rocha de Lima 2
1. Universidade do Estado da Bahia/UNEB/Campus XII/Guanambi
2. Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG
INTRODUÇÃO:
No processo de escuta, vozes e silêncio na sala de aula a prática do professor é um dos principais elementos motivacionais para a participação ou acomodação dos sujeitos. A maneira como a aula é ministrada faz o aluno despertar o desejo de ecoar sua voz, ou, simplesmente escutar e silenciar. Não que o silêncio e a escuta não devam existir, pois são comportamentos necessários ao ato de ensinar e aprender. Mas, numa relação em que há exclusividade da voz de um em detrimento do silêncio e escuta de outros, principalmente em se tratando de um curso de formação de professores, isto é questionável. O ato de falar e ouvir instaura um processo democrático em sala de aula e oportuniza o rompimento do silêncio daqueles que poucas oportunidades tiveram de ecoar suas vozes no caminhar de suas histórias de vida.
METODOLOGIA:
Na modalidade estudo de caso, numa abordagem quali-quantitativa, aplicamos questionário socioeconômico e cultural para levantar o perfil do aluno e selecionamos uma amostra de 20 sujeitos em duas turmas do 7º período do Curso de Pedagogia de uma Universidade Estadual no interior da Bahia. Nosso objetivo foi investigar a prática educativa num curso de pedagogia a partir da avaliação feita pelos alunos dentro do seu processo de escuta, silêncio e vozes para conhecer e analisar os espaços de participação político-democrático dos sujeitos na sala de aula e em outros espaços sociais de formação. Como instrumento de coleta de dados utilizamos questionário, entrevista semi-estruturada, e, análise documental do Projeto Pedagógico do Curso. O trabalho está organizado em cinco categorias de análise, e, no caso deste estudo apresentamos uma interpretação parcial de uma das categorias - a boa aula. A análise interpretativa desta categoria foi feita à luz dos pressupostos de Bakhtin (1997); Castanho (2000); Freire (1978, 1987, 1992, 1999, 2000); Libâneo (1994); Masetto (1992, 2002); e, Zabala (1998).
RESULTADOS:
A dimensão dialógica da prática educativa tem na avaliação elemento que contribui com o pensar e repensar crítico das ações do professor e alunos, pois a avaliação é da prática educativa e não dum pedaço dela. O aluno deve participar da avaliação da prática, porque é um sujeito dessa prática (FREIRE, 1982). Assim, na avaliação que fazem das aulas, os alunos demonstraram uma preocupação em participar das mesmas, porém, temem não terem suas vozes valorizadas. Para eles, uma boa aula deve ser dinâmica e interativa para envolver e motivar a turma. Não basta escutar unicamente a voz do professor na aula expositiva, reclamam e sentem necessidade de ecoarem suas próprias vozes na dinâmica de uma aula democrática e participativa. Para tanto, cabe ao professor planejar previamente as aulas e trazer novas temáticas a serem apresentadas numa visão teórica complexa e embasadas através de uma metodologia que envolva a classe nas discussões. A escuta, o silêncio e as vozes dos professores e alunos nessa concepção de boa aula devem estar em sintonia, porém, nem sempre os alunos estão preparados para lidarem com essa relação democrática em classe, pois mesmo que haja abertura para exposição de suas idéias, a timidez e/ou não domínio dos temas propostos cria barreiras à participação e diálogo.
CONCLUSÃO:
Nesta interpretação constatamos que uma boa aula para os alunos perpassa pelo planejamento, dialogo, participação e interação professor-alunos. Ultrapassa a simples transmissão de conteúdos para tornar-se um momento democrático de construção do conhecimento, embora, a timidez, falta de teoria e receio de falar sejam elementos que impedem a participação de muitos alunos. Algumas aulas apresentam um formato tradicional, mesmo assim, há abertura para diálogo e discussões gerais. Entre aqueles alunos com alguma experiência em movimentos sociais, notam-se, maiores condições e possibilidades de estruturar e expressar suas vozes em classe, ou seja, a escuta, o silêncio e vozes dos alunos em classe não se limitam ao espaço da aula e influência do professor, as experiências sociais é fator de encorajamento e envolvimento nas discussões entre sujeitos. Outro aspecto a considerar é a necessidade de criação de mecanismos de mobilização dos alunos por parte do professor para aguçar a participação e interação no sentido de transpor o silêncio, timidez e receio de ecoarem suas vozes para instaurar novas relações de aprendizagem.
Instituição de Fomento: Fundação Internacional Ford
Palavras-chave: Ensino Superior, Pedagogia, Boa Aula.