A falta de qualificação profissional tem-se mostrado um problema endêmico no Brasil, vários pesquisadores, como Ansarah (2000), Camargo (2005) Abaurre (2006), Ruschmann e Quadro (2008) já observaram a necessidade de uma qualificação para a hospitalidade. A ausência de qualificação profissional está presente em todos os serviços relacionados a atividade turística, no setor de alimentos e bebidas (A&B) está lacuna também se apresenta, apesar da busca pela organização do setor por meio da criação de associações que dentre outros objetivos buscam a profissionalização de seus funcionários, a exemplo da Associação Brasileira de Bares e Restaurante (ABRASEL) cujas seccionais encontram-se espalhadas por quase todo território nacional, a carência de funcionários qualificados é aparente, em especial nas capitais nordestinas onde a escolaridade e renda da população é baixa, o que dificulta ainda mais o acesso a cursos profissionalizantes. De acordo com Leal e Trigueiro (2006, p.161) são generalizadas às críticas aos serviços prestados por bares e restaurantes na Paraíba, com raríssimas exceções, está colocação pode ser corroborada por meio dos entraves notados na forma como são percebidas questões relacionadas a qualificação profissional do pessoal de atendimento do setor de A&B.

A presente pesquisa vale-se de um procedimento descritivo, através de um estudo de caso qualitativo. Segundo Gil (1987) a pesquisa descritiva objetiva a narração pormenorizada das características de determinada situação, Samarra e Barros (1994) afirmam que os estudos descritivos qualitativos têm como principal função compreender as relações entre as variáveis que compõem um fenômeno. O fenômeno estudado foi como os gerentes/ proprietários e funcionários dos restaurantes da orla pessoense observam a qualificação profissional. O recorte escolhido compreende as praias de Tambaú, Cabo Branco e Bessa, em decorrência destas apresentarem maior concentração de equipamentos turísticos, o intuito da pesquisa era estudar as relações de trabalho e qualidade no turismo, desta forma, por meio da amostragem aleatória sistemática foram selecionados os entrevistados, através da lista de associados da ABRASEL/PB, assim, contatou-se, no ano de 2007, todos os membros compreendidos dentro do recorte selecionado, os 15 restaurantes que mostraram maior disponibilidade em participar foram entrevistados, ao total 57 pessoas participaram da pesquisa, 15 proprietários/ gerentes e 42 funcionários, foram aplicados questionários com os gerentes/ proprietários e formulários com os funcionários.

A maioria dos restaurantes entrevistados,aproximadamente 60%, são classificados como de pequeno porte (11 à 20 funcionários) e familiar (por possuir nos cargos administrativos integrantes da família do proprietário). A maioria dos proprietários/gerentes, 66%, afirmou que têm dificuldade de contratar funcionários, este fato se deve a falta de qualificação dos candidatos, apesar de 71,5% dos funcionários inquiridos afirmarem que já participaram de algum curso de qualificação, mais de 80% colocam que os conhecimentos adquiridos nos cursos não são utilizados ou são pouco utilizados no cotidiano da profissão, nos atemos a entrevistar principalmente os funcionários de atendimento (52% garçons, 19% maîtres, 12% barmen, 17% outros cargos - caixa, balconista, gerente de A&B), dos funcionários que realizaram treinamento 50% o fizeram no SENAC/ PB os cursos de garçom, qualidade no atendimento e manipulação dos alimentos foram os mais citados respectivamente, outras instituições também foram citadas pelos funcionários como o SEBRAE/PB (por 20%) e a ABRASEL/PB (por 13,3%), o restante dos funcionários que realizaram algum treinamento o fizeram dentro das empresas onde trabalham ou trabalharam, no entanto, apenas 13,3% das empresas entrevistadas possuem programas de qualificação internos.

Os principais entraves para a qualificação profissional notados foram: compromisso x incentivo e a pouca aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos. Os cursos de qualificação necessitam ser reformulados, já que os conhecimentos adquiridos não se aplicam ao cotidiano de trabalho. Os proprietários/ gerentes afirmam que os funcionários não têm compromisso com o melhor desempenho das funções, já os funcionários colocam a ausência de incentivo para a qualificação. Mais de 50% dos proprietários/ gerentes entrevistados afirmaram que há necessidade do staff falar inglês, por outro lado, ao serem questionados se a empresa investe para que o funcionário aprenda a falar inglês ou mesmo se concedia algum tipo de incentivo como bônus salarial ou diminuição no horário de trabalho, todos responderam não. Muitos gerentes pensam que o aperfeiçoamento dos funcionários pode implicar na perda futura deste para uma empresa concorrente ou mesmo para outro setor de atuação, por outro lado, os funcionários, apesar de desejarem fazer cursos de qualificação não o fazem por esperar alguma bonificação de seus chefes o que demonstra uma atitude passiva, já que cursos de qualificação representam, geralmente, uma maior profissionalização que reverbera sobre a qualidade de vida do próprio funcionário.