62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 1. Sociologia da Saúde
CAPITAL SOCIAL E SAÚDE COLETIVA: O PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA COMO ESTRATÉGIA DE REORIENTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
Clidenor Barreto da Silva Filho 1
José Osimar Gomes de Lima 1
Antonia Núbia de Oliveira Alves 1
Lore Fortes 1
1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais - UFRN
INTRODUÇÃO:

O processo de redemocratização do Estado brasileiro que resultou na promulgação da Constituição Federal em 1988 provocou uma série de mudanças no contexto político e social da sociedade brasileira. Na esfera da saúde, o processo de transformação desenvolveu-se no sentido de pensar em um sistema de saúde inclusivo orientado a partir dos princípios constitucionais que advogam e asseguram a saúde como um direito social da população ratificando o dever do Estado na organização e acesso aos serviços de saúde. No que concerne ao campo da atenção básica o Sistema Único de Saúde a partir de 1990 elaborou a Estratégia Saúde da Família como cerne da política de saúde nos municípios. Neste contexto, foi implantado o Programa Saúde da Família como ferramenta instrumental desta política caracterizando-se em seu núcleo formativo por uma equipe multiprofissional. O ponto de partida da pesquisa foi a necessidade de analisar o PSF procurando observar se sua atuação prática resulta na produção de Capital Social contribuindo na compreensão efetiva da implantação e gestão das políticas públicas neste município. Nesse sentido, o conceito de Capital Social (Putnam, 2006) compreende aqui a idéia de participação, confiança e reciprocidade presentes em uma comunidade.

 

METODOLOGIA:

 A presente pesquisa trata-se de um estudo de caso acerca do Programa Saúde da Família (PSF) no bairro Vingt Rosado em Mossoró-RN no ano de 2008, cujo objetivo pautou-se em analisar o programa e sua relação com as famílias no âmbito dessa comunidade. Com uma abordagem metodológica qualitativa o estudo teve como sujeitos da pesquisa 20 famílias selecionadas utilizando-se de uma amostragem estatística não intencional. No tocante ao estudo de campo os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas e foi realizada a observação sistemática da interação destes sujeitos com os profissionais da Equipe Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde (UBS) que abrange a área do estudo. Todas as entrevistas foram realizadas a partir de um roteiro semi-estruturado e executadas nas residências dos sujeitos entrevistados, sendo gravadas em aparelho mp3. Com base na observação foi possível compreender como se estabelece as relações entre os sujeitos que buscam os serviços de saúde e os profissionais que atuam neste ambiente de trabalho. O estudo orientou-se pela técnica de análise do discurso e foi realizado a partir das categorias: confiança e participação.

 

RESULTADOS:

O Programa Saúde da Família (PSF) enquanto estratégia da política de atenção básica em saúde dispõe da complexa tarefa de viabilizar a reorientação do modelo de assistência à saúde fundamentada nas ações preventivas e educativas em um território delimitado, isto é, um bairro ou comunidade. As dificuldades de acesso aos serviços de saúde e a tênue qualidade dos serviços ofertados minam por conseguinte a confiança das famílias em relação ao programa, apontando insatisfação e o desconhecimento destas, frente às diretrizes do SUS. Por outro lado, a hegemonia da cultura da medicalização e do curativismo impregnados na mentalidade e comportamento dos profissionais de saúde e por parte das famílias constitui-se como um elemento desorientador desta estratégia reduzindo-a aos tradicionais serviços ambulatoriais. A partir das categorias analíticas participação, confiança e reciprocidade quando confrontadas com os discursos dos sujeitos da pesquisa constataram a ausência de uma rede social comunitária que dialogue concomitantemente com o PSF indicando reciprocidade mútua ancorada na confiança entre as famílias e os profissionais de saúde. Nessa perspectiva, a tríade de elementos: participação, confiança e reciprocidade quando potencializados formam o Capital Social.

 

 

CONCLUSÃO:

A resistência e indiferença dos profissionais da Equipe Saúde da Família em atuar mediante as diretrizes do SUS evidenciam o desencaixe racional entre agentes sociais e o campo institucional implicando em uma aguda contradição sistêmica. Ademais, a tênue qualificação dos profissionais em descompasso com esta política, dificulta uma possível adequação as diretrizes preconizadas pelo PSF. A análise empreendida aponta que o desengajamento político e associativo desta comunidade permeada por uma cultura não-participativa reflete no desempenho do PSF na medida em que não há uma rede de envolvimento cívico que imprima organização e, sobretudo, controle social sobre as ações desenvolvidas e normatizadas pelos profissionais de saúde. Não obstante, as ações individualizadas e desconectadas destes profissionais descaracterizam uma ação coletiva baseada na filosofia do trabalho em equipe, ao passo que obscurece a percepção dos usuários sobre a idéia de uma política de saúde direcionada para a resolução dos dilemas da saúde coletiva. A pouca confiabilidade compartilhada entre as famílias e os profissionais de saúde decorrente das dificuldades de acesso aos serviços e da tênue qualidade e desempenho do PSF indicam a ausência de Capital Social neste programa no contexto da comunidade estudada.

 

 

Instituição de Fomento: Coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior-CAPES
Palavras-chave: Capital Social, Programa Saúde da Família, Participação.