62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia
DIAGNÓSTICO SITUACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NA COMUNIDADE CAMPO DA TUCA: ESTUDO PILOTO.
Ana Carolina Lima Cirino 1
Paulo Vinicius Nascimento Fontanive 2
Tarciana Lima Cirino 3
1. Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul/ESP-RS
2. Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS
3. Universidade Federal de Pernambuco/UFPE
INTRODUÇÃO:
O nível de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) está relacionado ao grau de cumprimento do Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), integrante dos direitos humanos universais (Brasil, 2004). A SAN abrange questões como condições desiguais de comercialização; privatização dos recursos ambientais e da base genética do sistema agro-alimentar; uso indiscriminado de agrotóxicos; problemas ambientais gerados pelo processo produtivo; desperdício de alimentos; riscos sanitários; desigualdades de acesso à terra, à água, à renda, ao emprego, a serviços públicos e suas implicações no acesso à alimentação e na vulnerabilidade socioeconômica de determinados segmentos populacionais (Brasil, 2006). No plano internacional, propôs-se um conjunto de indicadores para monitorar a situação de SAN, incluindo dados sobre disponibilidade de alimentos; estado de saúde e nutrição; condições de moradia; saneamento, etc. Conhecer a situação de SAN é de suma importância para avaliação das condições de vida e, conseqüentemente, para o planejamento de políticas públicas e comparações regionais, nacionais e internacionais (Segall-Corrêa et al., 2008). O presente estudo tem por objetivo identificar os níveis e fatores determinantes de SAN na comunidade Campo da Tuca, Porto Alegre-RS.
METODOLOGIA:
Estudo descritivo, transversal, desenvolvido através da aplicação do Questionário de Avaliação Familiar de Segurança Alimentar (Unicamp, 2003), entre maio e outubro de 2009. Com base na área adscrita da comunidade Campo da Tuca (IBGE, 2001), sortearam-se 8 setores censitários por amostragem aleatória simples (alfa = 0.05). Com base no desvio de 0.3, a amostra totalizou 161 domicílios. Na segunda etapa, para identificação dos domicílios a serem visitados, adotou-se uma amostragem por conveniência. O entrevistador foi submetido a um treinamento prévio para abordagem dos sujeitos e não houve referência a qualquer programa governamental ou de natureza assistencial. Os dados coletados foram transcritos para meio eletrônico e analisados através dos softwares EXCELL e PSSC 16.0. Para as condições associadas à insegurança alimentar, foram produzidas estatísticas descritivas e utilizado, para o desfecho dicotômico, o modelo de regressão de Poisson, SPSS 16 e Stata 9.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ESP-RS em maio de 2009, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Devido a dificuldades operacionais e cronológicas, o estudo foi reduzido à amostra de 50 domicílios, compondo um estudo piloto.
RESULTADOS:
52% dos domicílios apresentaram SAN, condição de acesso à alimentação em quantidade suficiente e qualidade percebida como adequada. 36% apresentaram insegurança alimentar (IA) leve, quando há redução na qualidade da dieta, na busca de se manter uma quantidade necessária de alimentos. IA moderada, em 10% da amostra, constituiu a proporção de domicílios com insuficiência quantitativa de alimentos. Já a IA grave, expressa em 2%, revela situação de penúria alimentar. A prevalência de SAN encontrada em chefes de família do sexo masculino (72%) foi pouco mais que o dobro quando comparado ao feminino (34%) (p=0,77). Segundo etnia auto-declarada, a IA, em ordem decrescente, é mais prevalente em outras etnias, brancos, pardos/mulatos e negros (p=0,08). A renda familiar apresentou correlação com IA estatisticamente significativa (p=0,046): observa-se decréscimo da situação de IA a partir da renda familiar mensal de 1500 até 3000 reais, quando há 100% SAN. Em contrapartida, não há SAN quando a família dispõe de 500 reais ou menos por mês. Os resultados referentes à freqüência diária de alimentos/grupos de alimentos apontam tendências desfavoráveis associadas a dietas de alta densidade energética, escassez de fibras e micronutrientes e excesso de gorduras em geral.
CONCLUSÃO:
As condições de saúde da população guardam estreita relação com as condições socioeconômicas e puderam ser evidenciadas a partir da alta prevalência de insegurança alimentar das famílias de baixa renda inseridas na comunidade Campo da Tuca, revelando subgrupos mais vulneráveis às condições de vida desfavoráveis, e reforçando a situação de iniquidade já enfaticamente relatada em estudos epidemiológicos. Os determinantes da insegurança alimentar, analisados neste trabalho, permitem explicar, em geral, as grandes variações observadas na probabilidade de insegurança alimentar. O determinante isolado mais importante foi, sem dúvida, a renda domiciliar. São necessárias, pois, ações intersetoriais envolvendo políticas públicas que contemplem o acesso a uma alimentação suficiente e saudável.
Instituição de Fomento: Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: fome, segurança alimentar e nutricional, análise alimentar e nutricional de população.