62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 5. Serviço Social da Saúde
OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE COMO INIBIDORES NO PROCESSO DE ADESÃO AO TRATAMENTO ANTI-AIDS
Sayonara de Azevedo Gomes Campos 1
Luciana Batista de Oliveira Cantalice 2, 1
Mário Milcíades Martins Meira Neto 1
1. Universidade Federal da Paraíba/UFPB
2. Departamento de Serviço Social
INTRODUÇÃO:

Passadas quase três décadas desde que a notificação do primeiro caso de AIDS no Brasil, verifica-se uma alteração do perfil epidemiológico nos últimos anos. A pandemia tem mantido a tendência à pauperização e à interiorização afetando aquelas frações da sociedade que se encontra em situação de vulnerabilidade econômica. Assim, a pesquisa objetivou problematizar a relação entre os determinantes sociais da saúde e o processo de adesão ao tratamento anti-AIDS, tendo como representação de tais determinantes a categoria trabalho. Dessa forma, configuram objetivos da pesquisa avaliar a relação da pessoa que vive com HIV/AIDS com o mercado de trabalho; as condições de acesso dos usuários que residem no interior do Estado ao SEVIH nos dias de consulta e o impacto do diagnóstico no contexto familiar. A pesquisa então se torna de extrema relevância, pois pôde identificar o perfil dos usuários do serviço através dos determinantes sociais da saúde, o que contribui no processo de adesão ao tratamento os portadores de HIV/AIDS.

METODOLOGIA:

Na fase de coleta de dados foram entrevistados, através de um roteiro semi-estruturado, dezessete usuários do Serviço Especializado do Portador de HIV - SEVIH, tidos como os sujeitos da pesquisa e a quantidade como a amostra, o qual funciona no Hospital Universitário Lauro Wanderley - HULW/UFPB. A mesma foi caracterizada como uma pesquisa quanti-qualitativa e utilizou-se para organização dos dados a tabulação e gráficos. Devido às circunstâncias socioeconômicas adversas dos sujeitos entrevistados e a imprecisão de quantos estariam presentes (por também atender a demanda espontânea), a coleta dos dados se fez de acordo com a acessibilidade, ou seja, foram entrevistados os usuários em tratamento com antirretrovirais presentes nos dias das consultas. A análise dos dados foi auxiliada pelo recorte teórico-metodológico dialético-marxista, por considerarmos que a relação direta entre os fenômenos sociais e a influência que estes têm sobre a situação de saúde da população podem ser melhor analisados a partir da totalidade apresentada.

RESULTADOS:

Em termos de resultados, a pesquisa apresentou dados quanto a inserção no mundo do trabalho (com 29% afirmando não trabalhar), renda familiar (em que a minoria 6% sendo de menos de um salário mínimo), número de membros por domicilio, satisfação das necessidades básicas através da renda, acesso a algum benefício assistencial do governo, fatores que dificultam a acessibilidade ao SEVIH, e impacto do diagnóstico sobre o contexto familiar. Os dados possibilitaram observar que o contexto socioeconômico em que se insere a pessoa vivendo com HIV/AIDS tem direta relação com a qualidade do tratamento, ou seja, para que se atinjam resultados positivos na adesão, seria necessário mais do que distribuição universal de medicamentos na rede pública de saúde, pois na realidade analisada os usuários com baixa renda são relevantes (34%), oriundos de municípios com insuficiência na relação ao tratamento anti-aids, forçando os usuários a deslocar para a capital nos dias de consulta. Em assim sendo, constata-se uma deficiência na oferta de assistência para 35% dos entrevistados moradores de municípios circunvizinhos da capital.

CONCLUSÃO:

É notório que a epidemia de AIDS vem atingindo paulatinamente as populações em desvantagem socioeconômica. Por este motivo a abordagem da adesão ao tratamento deve ampliar o debate para além do acesso universal e gratuito aos medicamentos como se este representasse o principal fundamento para se garantir a qualidade de vida e saúde da pessoa com HIV/AIDS. Não levar em consideração o atual perfil epidemiológico, composto por milhares de pessoas em situação de vulnerabilidade social com sérios obstáculos para acessar os serviços de saúde especializados na assistência em HIV/AIDS, é atribuir à Política Nacional de Distribuição de ARVS um caráter reducionista e fragmentado incapaz de identificar as conexões existentes entre a doença e as transformações societárias que incidem sobre a situação de saúde dos indivíduos em geral e, especialmente, daqueles que vivem com a doença. Por ser uma questão de saúde pública, a AIDS merece uma abordagem que observe sua sinergia com a pobreza e as iniqüidades sociais que se expressam no padrão de saúde da população pobre para que sejam elaboradas formas de ação mais adequadas à realidade e ao contexto nos quais as pessoas doentes desenvolvem seu tratamento.

Palavras-chave: Determinantes Sociais da Saúde, Adesão, HIV/AIDS.