62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
OPERADORES ARGUMENTATIVOS: AS RELAÇÕES DE OPOSIÇÃO NA FALA
Sammela Rejane de Jesus Andrade 1
Maria Emília de Rodat de Aguiar Barreto Barros 2
1. Núcleo de Letras, Universidade Federal de Sergipe - UFS
2. Profª. Drª. / Orientadora - Núcleo de Letras - UFS
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho consiste em uma abordagem acerca da fala, principalmente no que se refere às estratégias argumentativas desenvolvidas pelos falantes diante do uso de tais operadores. O trabalho se constitui a partir de pressupostos teóricos da Lingüística Textual, Semântica Argumentativa e da Gramática de Usos, tomando as conjunções adversativas e concessivas não apenas pela função estrutural, mas também pelo importante papel no tocante à orientação argumentativa em relação a uma determinada conclusão.

METODOLOGIA:

Para obter o corpus do trabalho, foram observados dados obtidos pelos pesquisadores do Projeto PAIRD (UFS), intitulado "O Professor de Língua Materna e as Imagens de Si". Os corpora analisados são compostos por 14 entrevistas que tiveram como informantes professores dos Ensinos Fundamental e Médio das redes pública e particular de escolas situadas nos municípios de Itabaiana e Aracaju - SE. Tal escolha teve como objetivo atender a um dos requisitos para o desenvolvimento do trabalho, que teve como alvo a fala de informantes cultos. As entrevistas em questão se deram através de uma única pergunta: Pra você, o que é ensinar Língua Portuguesa? E, a partir desse questionamento, os entrevistados tiveram até quinze minutos para exporem seu ponto de vista, por conta do amplo quadro de pesquisa daquele projeto e o pouco tempo disponível dos colaboradores da pesquisa.  A partir de tais entrevistas, foram observados em que medida os professores de língua utilizavam os operadores argumentativos com o fim de organizar a sua argumentação, mesmo no âmbito da fala. Além disso, observou-se se esses informantes faziam uso de tais operadores no sentido de instaurarem a polifonia em seu discurso. Nesse contexto, como articuladores de oposição, são tomadas as conjunções adversativas e as concessivas sob a perspectiva dos estudos feitos por Moura Neves (2000), com a Gramática de Usos; Guimarães (2002) e Koch (1996), à luz dos postulados de Ducrot (1977); além do que argumenta José Carlos Azeredo (2008).  A pesquisa se configura como qualitativa, haja vista o objeto de estudo eleito.

RESULTADOS:

Ao responder a questão proposta pela pesquisa, os entrevistados se utilizaram de argumentos a fim de defender sua opinião diante do tema proposto. Para isso, fizeram o uso de estratégias argumentativas, especialmente dos operadores argumentativos, visando dotar o discurso de maior poder. À luz dos postulados teóricos de Ducrot, Anscombre e Vogt acerca das estruturas concessivas, Koch (1996), observaram-se as estruturas "masPA", evidenciada também pela expressão "só que", a qual, por sua vez, apresenta valor igual a mas;  "embora p, q". Tal como abordado, levou-se em conta que, no jogo enunciativo, existem operadores que assinalam oposição entre elementos semânticos. Dentre tais operadores, há as estruturas concessivas (embora, apesar de, ainda que, mesmo que...), e as adversativas (mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto...), evidenciando-se dentre estas últimas o valor do morfema MAS, considerado por Ducrot como operador argumentativo por excelência.

CONCLUSÃO:

A partir da análise dos dados à luz das teorias, foi revelado que o uso dos operadores argumentativos não se limita às relações superficiais apontadas pela gramática tradicional, mas também tratam de estratégias argumentativas, em que o individuo se utiliza destas para convencer e persuadir o outro quanto a sua opinião. Ao submeter os corpora a tais teorias, foi possível detectar que a estratégia utilizada no discurso dos professores que cederam a entrevista está voltada, mesmo que eles não tenham essa consciência, para a defesa do ensino tradicional de língua em sala de aula. Nesse sentido, priorizam um programa vinculado às teorias da Gramática Tradicional. Essa estratégia só pode ser detectada devido à análise do uso dos operadores, conotando as intenções dos falantes diante do tema a que se propôs a entrevista. Além disso, retomando-se os postulados teóricos de Perelman e Tyteca (1996), observaram-se as construções de imagens entre os interlocutores, principalmente, no que diz respeito à elaboração discursiva do locutor quanto ao saber a respeito da Gramática Normativa e aos conhecimentos sociolingüísticos.

Instituição de Fomento: PIBICVOL / COPES - UFS
Palavras-chave: Operadores argumentativos, Discurso, Enunciação.