62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil
CAMINHANTES DOS SERTÕES: MOTRICIDADE E CORPOREIDADE NA COLONIZAÇÃO DO BRASIL
Manuel Pacheco Neto 1
1. Universidade Federal da Grande Dourados - UFGD, Faculdade de Educação.
INTRODUÇÃO:
No Brasil Colonial a vivência da motricidade corporal foi cotidiana. Bandeirantes, índios e jesuítas deslocavam-se pelos sertões, buscando atingir seus objetivos específicos. A mobilidade das bandeiras, cujos integrantes marchavam a pé, tornou-se notória pela escravização de índios, pela descoberta de riquezas minerais e pela expansão territorial. O presente estudo busca evidenciar as implicações referentes ao desempenho físico dos bandeirantes, entendido como conseqüência histórica da carestia da vila de São Paulo. Distâncias muito grandes, de até doze mil quilômetros, foram cumpridas por estes desbravadores. Buscamos analisar também o desempenho físico dos índios, que demonstraram múltiplas habilidades corporais, que envolviam técnicas de caça e de procura de alimentos. Engajados nas expedições bandeirantes, muitos indígenas contribuíram para que pontos desconhecidos dos colonizadores fossem alcançados. Debruçamo-nos também sobre as extensas jornadas dos jesuítas, que foram empreendidas visando a evangelizar índios ou mesmo ajudá-los a fugir dos desbravadores que os caçavam.
METODOLOGIA:
Este estudo desenvolveu-se sob um viés eminentemente bibliográfico, envolvendo obras de duas áreas distintas: a História e a Educação Física. Desta forma, constituiu-se numa abordagem historiográfica interdisciplinar, que naturalmente orientou-se pelas diretrizes da História Nova. Procedemos a leitura investigativa dos autores considerados como referências da historiografia do Brasil Colonial, visando a encontrar, na amplidão deste universo bibliográfico, as menções e os trechos que revelavam, intencionalmente ou não, a significativa motricidade e o nada desprezível desempenho físico dos personagens históricos que tínhamos como objeto: bandeirantes, índios e jesuítas. Dentre estes autores, figuravam Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Capistrano de Abreu, Basílio de Magalhães, Affonso de Taunay, John Manuel Monteiro e Manoel Bonfim. O trabalho foi construído, portanto, na perspectiva de postulação do relevante papel desempenhado pela motricidade humana no processo de formação do Brasil.
RESULTADOS:
Motricidade intensa, desempenho corporal, fadiga, exaustão, fome, doença e combates com silvícolas propiciaram uma situação germinal, que atingiria sua culminância na verdadeira metamorfose demográfico-política, observada no contexto do Brasil Colonial. A intensa migração para as regiões mineiras teve como causa primordial as marchas sertanistas. A acentuada mudança na configuração contextual do Brasil Colonial ocorreu em conseqüência das expedições rumo ao interior. A herança dessa transformação é atualmente por nós vivenciada, como o atesta a densa demografia da região Sudeste. A frequente motricidade dos expedicionários caminhantes foi uma das causas principais da transferência do poder político colonial, da Bahia para o Rio de Janeiro, que era mais próximo das minas. As jornadas sertanejas dos caminhantes coloniais mudaram a face do país e os ecos dessa mudança reverberam até hoje, como o atesta a densamente povoada região sudeste. O que é o progresso de São Paulo atualmente senão um de "los llegados tarde a la historia?" (PRIETO, 1995, p. 112). Embora evidente, o papel da motricidade humana carece de contornos mais nítidos na historiografia, que lhe confiram a justa e merecida relevância.
CONCLUSÃO:
A história do Brasil Colonial é profusamente pontilhada por intensa motricidade humana, configurando-se como uma extensa crônica de corpos em movimento. Paulistas caçando índios e procurando ouro. Índios guiando paulistas e fugindo deles. Jesuítas pamilhando o sertão, evangelizando índios e arrebatando-os para o catolicismo, guiando-os para fugir dos paulistas. Este quadro envolveu muita atividade corpóreo-motora. Amplas distâncias foram vencidas a pé. Situações distintas em empresas distintas, mas com a predominância evidente da motricidade corporal. No Brasil Colonial, atores históricos diferentes se movimentaram intensamente por motivações diferentes, vivenciando aspectos específicos da corporeidade humana. Noutros termos, a motricidade foi uma característica importante do Brasil Colonial, envolvendo homens de grupos e motivações distintas, tendo contribuído ainda para a nova orientação sócio-econômica brasileira, que subtraiu do nordeste a hegemônica prosperidade de seu parque açucareiro, que era caracterizada pelo antônimo do movimento: o sedentarismo. Elemento fundamental da história do Brasil Colonial, a motricidade humana oferta ainda um universo incomensurável de possibilidades na historiografia, abrindo perspectivas múltiplas de investigação.
Palavras-chave: Motricidade, Corporeidade, Brasil Colonial.