62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
A DIVERSIDADE CULTURAL NO CONTEXO ESCOLAR: O CASO DA ESCOLA MACE & SÃO JOSÉ, NA FRONTEIRA DO BRASIL COM O PARAGUAI
Ana Cláudia Marques Pacheco 2, 1
1. Escola Franciscana Imaculada Conceição
2. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa volta-se à escolarização dos migrantes na fronteira Brasil/Paraguai, cuja educação básica tem se dado no município de Ponta Porã/Mato Grosso do Sul, fronteira com Pedro Juan Caballero/Departamento de Amambay/Paraguai. O papel das escolas implantadas em regiões de fronteira merece análise, visto que o processo denominado globalização engendra uma maior rotatividade de pessoas nos diferentes lugares do mundo, contribuindo, desta forma, para a intensificação dos movimentos migratórios, ensejando a convivência de pessoas culturalmente "diferentes" no interior da instituição escolar. Estudos que tratam de questões educacionais em área de fronteira são ainda incipientes, daí a necessidade em pesquisar sobre o tema, para, dessa forma, auxiliar outros trabalhos que contemplem a educação fronteiriça do Brasil com seus vizinhos Este estudo tem como objetivos identificar as crianças filhas de migrantes chineses, coreanos, japoneses, libaneses e outros que residem em Pedro Juan Caballero e estudam em escolas particulares no município de Ponta Porã/MS/Brasil e verificar qual o papel da educação para esses grupos migratórios, frente às perspectivas de integração regional e globalização da economia.
METODOLOGIA:
A delimitação dos sujeitos de pesquisa baseou-se no mapeamento dos estudantes migrantes realizado junto à Secretaria da Escola MACE & São José. Sendo assim, delineou-se o quadro do grupo de migrantes: chineses, japoneses, libaneses, coreanos. A escolha específica dessa escola como campo da pesquisa justifica-se, pois, após um levantamento preliminar de dados, obtivemos informações de fronteiriços, que afirmaram que os filhos dos migrantes acima mencionados frequentavam as escolas particulares de Ponta Porã/MS/Brasil, devido às melhores condições financeiras. Para atender aos objetivos do estudo, utilizamos procedimentos de entrevistas, questionários, consultas no arquivo e no jornal da escola. A realização da pesquisa de campo ocorreu em duas etapas. Na primeira realizamos pesquisa no arquivo da escola e aplicamos um questionário direcionado aos alunos dos ensinos fundamental e médio, em que objetivamos verificar qual a influência exercida pela escolarização sobre os alunos migrantes. Na segunda, aplicamos um questionário nos pais, que teve por objetivo identificar os motivos que os levavam a matricular seus filhos em escolas particulares brasileiras, e outro nos professores, em que buscamos evidenciar a maneira como eles lidam com a diversidade cultural na instituição escolar.
RESULTADOS:
Historicamente, a escola ignorou a existência de características plurais de cultura. As diferenças étnico - culturais, porém, são milenares, os modos de percebê-las e de tratá-las tem variado ao longo dos séculos. Ao se efetuarem contatos com outros povos e culturas, a racionalidade ocidental esteve sempre pautada no eurocentrismo. A educação intercultural, configura-se como a proposta mais viável respeitante à diversidade cultural encontrada no âmbito escolar, baseada na crença de que possa possibilitar a tolerância necessária para a convivência entre povos de diferentes culturas e etnias. Hoje é defendida a ideia, através da produção científica, de que a escola se mostra como campo estratégico para trabalhar a temática da diversidade cultural, pois nela convivem indivíduos de diferentes características. Assim, resgata-se o valor da educação no combate à discriminação. Sendo assim, "o que se coloca para a escola é o desafio de criar outras formas de relações sociais e interpessoais por meio da interação do trabalho educativo escolar e das questões sociais, posicionando-se crítica e responsavelmente diante delas" (PCN/Temas Transversais, 1998, p. 138).
CONCLUSÃO:
As respostas obtidas na pesquisa demonstram que os motivos que levaram os migrantes a escolherem para seus filhos a escola particular MACE & São José no município de Ponta Porã/Brasil foram os seguintes: melhores condições financeiras, crença de que estudando em escolas brasileiras seus filhos teriam mais chances no mercado de trabalho e a hegemonia brasileira na fronteira Brasil/Paraguai. Por outro lado, evidencia-se o comprometimento em assegurar as tradições, os costumes e a língua de sua descendência. Constatamos que 39% dos estudantes migrantes frequentam outras escolas, além da MACE & São José, a fim de aprenderem ou não esquecerem seu idioma, costumes e tradições. Através dos relatos dos professores, constatamos que a maior dificuldade dos migrantes é a aprendizagem do idioma, haja vista que as escolas brasileiras são ainda veiculadoras do monolinguismo. A pesquisa revelou-nos, no entanto, que nas últimas duas décadas tem havido uma tentativa de superar o passado histórico da escola monocultural em uma escola que venha a contribuir para o arrefecimento de tensões e conflitos gerados pela diversidade cultural. Neste sentido, a educação intercultural, configura-se como a proposta mais viável respeitante à diversidade cultural encontrada no âmbito escolar.
Palavras-chave: Escola, Educação Intercultural, Migrantes.