62ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 2. Serviço Social da Criança e do Adolescente
O SIGNIFICADO DE ESTUDO E TRABALHO PARA OS ADOLESCENTES DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL DO INTERIOR DO ESTADO DO CEARÁ    
Eveton Cabral Maciel 2, 1
1. Secretaria do Planejamento e Gestão - SEPLAG
2. Universidade Estadual do Ceará - UECE
INTRODUÇÃO:

A questão do adolescente de família com baixa renda é um tema complexo por abranger uma rede de relações, que perpassa as questões estruturais (economia mundial, trabalho e desemprego, pobreza...), as questões sócio-culturais (família, comunidade, instituições de apoio...) e as questões subjetivas (individualidade, processos de significação, personalidade).  No estudo sobre os processos de significação dos adolescentes, de um determinado grupo social, fez-se necessário o conhecimento dos sujeitos em seu contexto. Foi encontrada uma diversidade conceitual sobre as questões relacionadas ao adolescente, ao trabalho precoce e as comunidades de trabalhadores de baixa renda, permitindo a construção de diálogos com os autores para uma aproximação teórica com as temáticas em questão. Partindo destas discussões, o presente trabalho faz uma interpretação de forma dinâmica e contextualizada com a realidade sócio-cultural e histórica, com o objetivo de conhecer o que pensam e que significados atribuem ao trabalho e a classe social, os adolescentes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, moradores do interior do Estado do Ceará.

 

 

METODOLOGIA:

O presente trabalho trata-se de um estudo exploratório e descritivo, de natureza qualitativa, delineada a partir da pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa foi realizada no núcleo do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI, situado num bairro popular do município de Quixadá, cidade de médio porte, localizada na região central do Estado do Ceará. O núcleo do PETI foi escolhido por constituir-se de adolescentes com renda familiar per capta igual ou inferior a meio salário mínimo. No total foram entrevistados oito adolescentes, com idades entre doze e quinze anos, determinando-se a saturação teórica. Todos os entrevistados vivenciaram a realidade do trabalho precoce, ao contrário de muitos participantes do núcleo estudado. Como estratégias para a obtenção das informações, foram utilizados a entrevista, a observação participante e o diário de campo. No primeiro momento, os temas propostos na entrevista se relacionavam a vivência da adolescência, a percepção de si, os projetos e as aspirações pessoais; no segundo momento apresentamos questões relacionadas ao grupo social, o consumo, o estudo e o trabalho. Para análise dos achados trabalhamos com a análise de conteúdo.

RESULTADOS:

A partir do estudo e análise das informações percebe-se que os entrevistados começaram a desenvolver atividades geradoras de renda ainda na infância, como forma de contribuir com a manutenção do grupo familiar. Demonstram sentimentos de vergonha e de revolta, quando comentam sobre a falta de comida e sobre a impossibilidade de consumir bens socialmente considerados importantes. Estes executaram atividades que não exigiam qualificação, como empregada doméstica, lavadores de carro, carregadores de mercadorias pesadas, entre outras. A partir destas experiências percebem o trabalho como provedor de bens materiais e de sobrevivência e desejam para o futuro à conquista de ocupações que não seja necessário o uso da força física ou "trabalho pesado", fazendo referência a atividades como secretária, modelo, advogado, veterinário, gerente, entre outras. Sobre o estudo, reproduzem de forma mecânica, o discurso repassado pelas instituições sociais, fazendo referência a possibilidade de ascensão social e de conquista de um trabalho "melhor" do que as atividades já experimentadas. Os entrevistados revelam suas aspirações em relação ao estudo e ao trabalho, conseguindo fazer a relação entre ambos e aceitando estes, como a única forma de manterem seu poder de consumo e seu lugar na sociedade.

CONCLUSÃO:

O presente estudo descreve os processos de significação, sobre a realidade vivida, para os sujeitos adolescentes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, num dado contexto histórico, buscando conectar a subjetividade com a totalidade das questões que envolvem a vida social. Através dos discursos percebemos que ser filho de trabalhador de baixa renda pode ter vários significados que são construídos e moldados nas relações sócio-comunitárias, culturais e familiares, na qual convivem os membros das classes que vivem do trabalho. A participação em programas sociais, como todas as outras experiências vivenciadas, incluindo estudo e trabalho se relacionadas à sobrevivência material. Nesse sentido, o contexto histórico específico em que os sujeitos estão submetidos, (re)definem as percepções das vivências na adolescência, encontrando ainda as particularidades nas relações de vizinhança na comunidade, nos estilos de vida, na experiência da privação de bens de consumo, nas relações afetivas e familiares, na inserção precoce em atividades geradoras de renda, enfim na violência de cada dia.

Palavras-chave: Adolescência, estudo, trabalho infantil.