62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
UM ESTUDO DA CRIATIVIDADE NA LICENCIATURA EM BIOLOGIA NO CAMPUS MACAU - IFRN: UMA INVESTIGAÇÃO DAS CRENÇAS DOS ALUNOS SOBRE A CRIATIVIDADE NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL
Fábio Alexandre Araújo dos Santos 1
Andrezza Maria Batista do Nascimento Tavares 1
Cícero Eduardo de Oliveira Rocha 1
Ivanice Torres Rocha 1
Lílian Miranda do Nascimento 1
Maria Irani Macedo de Souza 1
1. IFRN
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa tem o objetivo de investigar sobre as crenças dos alunos em formação inicial no Curso de Biologia no Campus Macau - IFRN a respeito da criatividade enquanto potencialidade inata ou adquirida. A criatividade vem sendo objeto de estudo no universo científico e acadêmico desde meados da metade do século passado. Durante o desenvolvimento acerca das compreensões da referida temática, percebeu-se, e ainda, percebe-se, crenças da maioria das pessoas em relação à criatividade como um "dom", algo inato, ou seja, o ser humano já nasceria com tal potencialidade, independente, do desenvolvimento da mesma nas dimensões sócio-culturais (VYGOTSKY, 2000). Diante dessas discussões sobre o inatismo e/ou a condição de aquisição da criatividade ao longo da vida, sobretudo, no desenvolvimento desta no contexto de escolarização e/ou formação profissional, esta pesquisa faz-se necessária, pois a identificação das crenças servirá como ponto de partida para refletir a criatividade como potencialidade a ser desenvolvida em todos os sujeitos e praticar atividades criativas como conjunto de metodologias a ser vivenciada na sua formação a partir da perspectiva integral. Sendo assim, a questão norteadora configura-se em como os alunos do Curso de Licenciatura em Biologia, do Campus Macau da referida instituição concebem a criatividade? No sentido do "dom", de um fenômeno inato ou no sentido de um fenômeno adquirido ou vir-a-ser. A importância do estudo sobre essa temática se refere ao fato de que, na contemporaneidade, a educação visa o sujeito em sua inteireza, e "negar", seja por ausência de saber aprofundado, ou por não crer na criatividade como um fenômeno adquirido por cada um dos sujeitos, torna-se contraditório à formação do aluno tendo como eixo norteador, a visão integral e transdisciplinar do conhecimento. Portanto, é de suma importância desmistificar alguns conceitos sobre a supracitada temática no intuito de que professores e alunos possam educar-se na perspectiva integral e do desenvolvimento humano e social, e por fim, acreditar no desenvolvimento de sua potencialidade criativa no processo de formação escolar e acadêmica. Para a fundamentação do diálogo científico, vários autores colaboraram com as perspectivas teórico-metodológicas intrínsecas neste trabalho: Alencar (2003), Bauer (2007), Barreiras (1994), Betancourt (1983), Cardoso (2003), Fedman (2001), Fleith (2005), Galperin (1988), Ibáñez (1981), Lakatos (1999), Llantada (2005), Mitján (1995), Nakano (2007), Ramalho, Nuñez e Gauthier (2003), Oliveira (2001), Sternberg (2010), Torrance (2000), Torre (2008), Vygotsky (2000), Wechsler (2007), dentre outros. A referida pesquisa está vinculada ao GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA EM LINGUAGENS, FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE E INCLUSÃO SOCIAL (GELFOPIS) pertencente ao Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) em Macau-RN, sendo discutida na linha de pesquisa políticas educacionais, formação docente e inclusão social, certificado pelo CNPQ.

 

 

METODOLOGIA:

A natureza da pesquisa consistiu em uma pesquisa fundamental. O tipo de pesquisa foi classificado em explicativa e exploratória. A abordagem do problema deu-se na perspectiva qualitativa (LAKATOS, 1999). O público-alvo consistiu em 80 alunos do 1º e 2 semestres do Curso de Licenciatura em Biologia. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada, o questionário contendo perguntas abertas e o uso de testes criativos (TORRANCE, 2000; WECHSLER, 2007), mas especificamente, os testes figurais no intuito de analisar o conjunto quantitativo de respostas a um mesmo problema. Na análise dos dados, delineou-se um quadro comparativo entre os alunos do primeiro ano e do segundo ano do referido curso sobre a criatividade inata e/ou adquirida nos processos de ensino-aprendizagem e suas contribuições para a formação profissional. A compreensão dos dados da pesquisa deu-se de pela análise de conteúdo de qualidade temática. O presente trabalho registrou dois momentos importantes no tocante a sua execução, foram eles: observação inicial em sala de aula em diversas disciplinas, cuja ocasião foi aplicada um questionário sobre o(s) conceito(s) de criatividade, as características de uma pessoa criativa, os impactos de metodologias criativas nos processos de ensino-aprendizagem, a figura do professor criativo, o ambiente de aprendizagem criativa bem como sua importância para a formação profissional contemporânea; num segundo momento foram feitas as entrevistas com os alunos das duas turmas do mesmo curso com o objetivo de extrair mais e melhores informações dos sujeitos de pesquisa sobre a temática em destaque; num terceiro momento, foram realizados testes de criatividade figurais buscando o aluno refletir sobre suas compreensões acerca do potencial criativo, de sua relação com o sujeito, ou seja, da sua inerência ao ser humano, e por fim, compreender sua condição de ser criativo em potencial, isto é, que dispõe de tal potencial, porém, necessita ser estimulado de forma adequada, onde aspectos individuais (nos níveis biológico e psicológico), os aspectos histórico-culturais, a motivação intrínseca sinergética e o ambiente pedagógico criativo constituem-se em elementos importantes na formação de um sujeito ativo, crítico e criativo e, posteriormente, foi feita a análise de dados de forma coletiva entre os alunos colaboradores da pesquisa e seus orientadores.

RESULTADOS:

Sendo assim, a partir das análises dos dados da pesquisa, abstraiu-se a necessidade de se discutir, sobretudo, de implementar práticas pedagógicas criativas com o fito de esclarecer no âmbito teórico-metodológico, a importância da criatividade na formação do aluno e na sua formação profissional. A análise dos dados foi feita com base na análise temática de conteúdo (BAUER, 2007) ao refletir de forma sistemática por meio das sínteses dos discursos dos sujeitos de pesquisa, entretanto, sem perder a essência dos conteúdos de cada discurso. Vislumbra-se então, a necessidade de preenchimento de lacunas na formação inicial quanto à ausência, na maioria das vezes, de práticas que fomentem atividades fundamentadas na criatividade humana. Os alunos, por vezes, chegam a desconhecer e identificar semelhanças entre a criatividade e a inteligência, o que, atualmente, tais relações não são tão discutidas, por pesquisas revelarem que apesar das duas dimensões citadas fazerem parte do ser humano, estas possuem natureza e características distintas. Se parte do princípio, então, que a criatividade é uma faculdade ou capacidade inata a todos os seres humanos, mesmo que para a sua ativação, seja necessário um ambiente rico em possibilidades de experimentação, métodos diferenciados para situações específicas, mediadores (professor) capazes de atuar sob esse foco em prol do desenvolvimento criativo do aluno no processo educativo, sobretudo, como afirmou (BARRERAS, 1994) em relação ao professor com capacidades criativas. Como desdobramento desta pesquisa, uma questão, dentre várias, emergiu: como propor práticas de formação orientadas sob a criatividade que nãos se tornem apenas modelos de aplicação e que os professores formados por esses processos sejam realmente estimulados a não copiarem, mas sim, a se apropriarem e transferirem de forma contextualizada, significativa para os processos de ensino-aprendizagem? A respeito deste questionamento, (MITJÁNS, 1995) enfatiza que seu sistema didático deverá ter como objetivo o trabalha coletivo (professores e alunos) e a favor da criatividade, desde a seleção e elaboração dos objetivos dos processos docente; a redução dos conteúdos para um "mínimo indispensável"; métodos produtivos de ensino; organização do processo docente, a natureza das tarefas docentes e extra-docentes e orientações e natureza bibliográfica em função da criatividade. Em consonância com a autora supracitada (CARDOSO, 2003) explicita que o professor deverá ser inovador no processo educativo como parte do sistema educativo criativo. Realmente, para que o ensino criativo aconteça, faz-se necessário que o professor também acredite na criatividade como elemento-chave para uma educação que fomente as características criativas que todos os seres humanos possuem. A análise dos dados revelou a mistificação em relação os conceitos sobre a criatividade da maioria dos estudantes que participaram desta pesquisa. A mistificação dos conceitos emerge, principalmente, quando existe certo desconhecimento ou um conhecimento pouco aprofundado, neste caso, da criatividade. A partir desse comprometimento conceitual, os demais fatores da criatividade são comprometidos também no tocante a sua importância na formação profissional do licenciando em Biologia (recorte do campo de pesquisa). Os dados obtidos por meio das entrevistas e questionários mostraram-se bastante restrita e, mais direcionada para a concepção de criatividade como fenômeno inato, isto é, nos questionários e entrevistas os alunos se mostraram com compreensões da criatividade como algo inacabado, porém, determinado biologicamente. Algumas pessoas a desenvolveriam porque eram aptos biologicamente. Diante desses resultados, uma compreensão estava de acordo com as premissas sobre a criatividade na contemporaneidade (TORRE, 2008), ou seja, a idéia de que a mesma estaria num processo continuum.

CONCLUSÃO:

Faz-se relevante em meio aos desafios de uma educação mais humanizante, que promova habilidades (GALPERIN, 1988) criativas e não somente as habilidades em níveis técnicos, ou por vezes, apenas informações superficiais, sem conexão com os saberes do alunado e os saberes sociais importantes na formação profissional. Como afirmam autores de renome nacional e internacional sobre a respectiva temática, criatividade constitui-se em um bem cultural, sendo este bem necessário a sua formação integral e para a promoção do bem-estar individual/social. Surge então, a necessidade de propor metodologias criativas e programas de formação (MITJÁNS,1995) que auxiliem o professor e o aluno na compreensão sobre a criatividade, sobre a personalidade criadora (ALENCAR E FLEITH, 2007), sobre os ambientes e métodos criativos, sobretudo, que se apropriem de conhecimentos teórico-metodológicos para realizar a transferência didático-pedagógica, ou seja, que saibam transferir as capacidades adquiridas ao longo de suas formações na perspectiva da criatividade nos processos de ensino-aprendizagem para outros campos sociais. Há um trabalho árduo, mas gratificante nesta década da criatividade, ou melhor, no "Século da Criatividade" (TORRE, 2008) com o fito de resgatar o potencial criativo, na maioria das vezes, "adormecido" ou a não crença de que cada um é um ser criativo em potencial e que ela esta, realmente, por vir, embora, necessariamente, deva ser permanentemente estimulada, não somente pelas instituição fomentadoras de conhecimento (escolas e instituições de ensino superior e de formação profissional) mas também em espaços não escolares em busca de uma educação social e humanizadora. Como destaca Feldman (2001) não existe reforma educativa significativa sem levar em consideração o que os professores e alunos pensam sobre o processo de ensino-aprendizagem. É a partir do professor que as mudanças qualitativas acontecem no cenário socioeducacional. Significa pensar o sujeito com a condição de se entender no processo e como parte do processo, e, por conseguinte, é valorizado como partícipe do processo em transformação.

Instituição de Fomento: CAPES - PIBID
Palavras-chave: Criatividade , Formação docente inicial , Processos de ensino-aprendizagem.