62ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 5. Teoria Literária
UMBERTO ECO E O CONCEITO DE "OBRA ABERTA"
Ana Carolina Moura Mendonça 1
Andrey Pereira de Oliveira 2
1. Depto. de Letras, Centro de Ciências Humanas Letras e Artes - UFRN
2. Prof. Dr./ Orientador - Departamento de Letras - UFRN.
INTRODUÇÃO:
Este trabalho visa a apresentar os resultados da primeira etapa de uma pesquisa que se propõe o estudo da obra teórico-crítica de Umberto Eco, buscando analisar como se desenvolvem dois de seus principais temas: a mensagem estética e a interpretação sígnica. No presente trabalho, refletir-se-á sobre o conceito de "obra aberta", primeiro conceito proposto por Eco para apreender criticamente a arte do século XX. Tal conceito define a obra de arte como algo inacabado que exigiria do receptor, no ato da fruição, uma participação bastante ativa a fim de perceber a obra como um objeto aberto a várias possibilidades interpretativas. Nesses casos, o prazer estético proviria fundamentalmente da ambigüidade, que concederia ao receptor a liberdade (limitada por uma definitude estrutural da obra) de ressignificação contínua do objeto artístico, num processo de colaboração marcado pela tensão entre abertura e definitude. Pretende-se verificar a pertinência analítica desse conceito no estudo do poema "Contribuição para um alfabeto duplo", de Décio Pignatari, e da série de esculturas "Bichos", de Ligia Clark.
METODOLOGIA:
A pesquisa desenvolveu-se a partir de leituras, interpretações e discussões críticas a respeito do conceito de obra aberta presentes no artigo "O problema da obra aberta" (ECO, 1995) e no livro Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas (ECO, 2003), publicados originalmente em 1957 e 1962. O estudo dessas fontes primárias foi acompanhado por uma bibliografia de apoio composta por trabalhos que também se debruçam sobre a produção de Umberto Eco, a exemplo de CAESAR (1999), KIRCHOF (2003) e (NÖTH, 2005). A abordagem dos textos de Eco se deu de forma comparativa, tanto em ordem sincrônica quanto diacrônica. Cada texto foi devidamente confrontado tanto com outras elaborações a ele contemporâneo quanto com textos elaborados por Eco em outras épocas, numa tentativa de observar como o conceito de obra aberta situa-se no percurso reflexivo do pensador em estudo. Na fase seguinte da pesquisa, para a averiguação da pertinência analítica do conceito de obra aberta, o poema "Contribuição para um alfabeto duplo", de Décio Pignatari, e as esculturas "Bichos", de Ligia Clark foram analisados por meio de uma abordagem imanente de suas estruturas semióticas.
RESULTADOS:
O conceito de obra aberta foi gerido como tentativa teórica de apreender as manifestações artísticas de orientação experimental freqüentes desde finais do séc. XIX e que se adensaram ao longo da primeira metade do séc. XX. Seu traço unificador foi a tendência a romper com a barreira da obviedade na arte, com o uso inovador dos materiais, métodos e técnicas. Valorizavam a combinação de gêneros, de estilos, de linguagens e de meios; diferenciavam-se da arte tradicional, sobretudo, pela tendência a fazer a experiência estética resultar não do "reconhecimento final da forma", mas sim do "reconhecimento daquele processo continuamente aberto que permite individuar sempre novos perfis e novas possibilidades de uma forma" (ECO, 2003). Entre as obras abertas típicas da contemporaneidade, Eco divisa uma categoria mais restrita: as "obras em movimento", que se caracterizam pela "capacidade de assumir diversas estruturas imprevistas, fisicamente irrealizadas". Nesse panorama, tanto o poema de Pignatari quanto as esculturas de Clark mostram-se como obras abertas, e, mais precisamente, em movimento, uma vez que suas configurações estruturais (a ambigüidade dos signos gráficos do primeiro e a mobilidade física do segundo) fazem com que eles se apresentem sempre renovados como um novo objeto a cada fruição estética.
CONCLUSÃO:
Este estudo revelou que o conceito de obra aberta é uma elaboração teórica coerente e bastante pertinente como descrição crítica de uma significativa parcela da arte e da literatura das vanguardas do século XX. Em virtude de sua aplicabilidade analítica, essa categoria proposta por Eco pode contribuir, com as necessárias adaptações, como instrumento teórico para a renovação dos debates sobre a mensagem estética, seja da literatura seja de outras manifestações artísticas, no âmbito acadêmico.
Instituição de Fomento: REUNI UFRN 2010
Palavras-chave: Obra aberta, Umberto Eco, Literatura e arte modernas.