Estudar os vínculos intrínsecos entre as relações interpessoais de professores e alunos na sala de aula e o desenvolvimento da autonomia de alunos do 5º ano do Ensino Fundamental de uma Escola Pública do Município de Natal/RN. O objetivo é explicitar o ambiente sociomoral estabelecido na sala de aula, construído por intermédio das relações interpessoais entre professor e alunos, e analisar as respectivas influências destas no desenvolvimento da autonomia das crianças através do estudo do juízo moral. Apreciam-se os fatores inerentes ao próprio desenvolvimento moral do educando, bem como os de caráter social e específicos que intervém nesse desenvolvimento, ou seja, a interação do sujeito com o meio social ao qual está inserido. Evidenciar os objetivos da presente pesquisa torna-se cada vez mais necessários na medida em que tanto as políticas públicas educacionais brasileiras quanto o modelo familiar contemporâneo apontam para uma intensificação do acesso escolar e de uma consequente valorização dos relacionamentos sociais provenientes do ambiente escolar. É neste ambiente particular que as crianças passam grande parte do seu tempo e constroem boa parte de sua vida moral.

A pesquisa fundamenta-se em múltiplos estudos e abordagens a dispor da moralidade e, especialmente, nos estudos da Epistemologia Genética de Jean Piaget sobre o juízo moral de crianças. A parte empírica consiste em pesquisa etnográfica na Escola, com enfoque na sala de aula. Buscou-se evidenciar o cotidiano da instituição por meio de observações, conversas e entrevistas. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com o corpo docente (dois professores), a direção da Escola (diretor, vice-diretor), 01 (um) coordenador pedagógico e 10 (dez) alunos do 5º ano do Ensino Fundamental, além de diversas observações em sala de aula e análise documental da Escola (relatórios, atas e projeto político pedagógico). Utilizou-se o método clínico de Jean Piaget no exame do juízo moral das crianças.

A análise de documentos oficiais da instituição proveu informações acerca dos objetivos, normas e procedimentos da Escola. As observações em sala de aula, assim como as entrevistas semi-estruturadas, propiciaram a elaboração de categorias de análise do ambiente sociomoral de cada sala sob os pontos de vista da abordagem de conteúdos, do ambiente social, das práticas pedagógicas e, essencialmente, das relações entre professor e aluno. O uso do método clínico de Jean Piaget no exame do juízo moral das crianças descreveu as tendências gerais do desenvolvimento moral nesse ambiente sociomoral específico (sala de aula), privilegiando-se as relações interpessoais dos alunos com os seus respectivos professores.

Os resultados da pesquisa apontam o progresso da autonomia moral das crianças em função de um ambiente socialmente cooperativo em sala de aula. Esse ambiente é construído através das relações interpessoais entre professores e alunos e favorecem o desenvolvimento da moralidade dos discentes na medida em que se privilegiam relações de respeito, igualdade e cooperação. O desenvolvimento da autonomia moral do aluno é favorecido com uma prática educativa que se volte ao próprio educando enquanto sujeito ativo e atuante na construção do conhecimento e da moralidade. Portanto, as relações interpessoais entre professores e alunos na sala de aula constituem como fatores decisivos e determinantes na busca do pensamento e da ação autônoma dos alunos e, especialmente, na qualidade da construção da moralidade dos educandos.