62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura
EXPERIÊNCIAS DE INVERNO: SABER POPULAR ANTIGO REATUALIZADO
Marcos Antônio da Silva 1
Vanize Pereira de Medeiros 2
1. Faculdades Integradas de Patos (FIP)
2. Orientador
INTRODUÇÃO:
Esse trabalho aborda a temática das experiências de inverno: um saber popular vivenciado no cotidiano de homens e mulheres que vivem na zona rural dos municípios de São Vicente, Tenente Laurentino Cruz e Lagoa Nova (municípios potiguares). Estes sertanejos têm assumido a função de prever as chuvas através do uso da experiência adquirida oralmente e diante da observação da natureza, utilizam um saber popular antigo transmitido de geração em geração, procurando decifrar os sinais do tempo. São os chamados "Profetas de Inverno", pois suas vozes proclamam, ou não, uma vindoura fartura. Neste sentido, objetivou-se com este trabalho analisar a existência histórica e cultural destas "experiências de inverno" em um tempo em que as "comunidades de massa" propagam um discurso científico. Para isso fez-se uma investigação da existência, na contemporaneidade, de uma memória histórica acerca das experiências de inverno no sertão do Rio Grande do Norte. Finalmente, concluir-se que o referido trabalho contribuiu significativamente para o avanço dos estudos referentes à temática abordada, sendo uma relevante contribuição no campo da história cultural para a historiografia seridoense que naturalmente já é muito rica.
METODOLOGIA:
Como suportes teóricos principais foram usados às teorizações de Michel de Certeau em A Invenção do Cotidiano e Roger Chartier com a obra Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico. A princípio, realizou-se a leitura bibliográfica e/ou historiográfica relacionada ao tema. Usou-se também da literatura regional como forma de produção que permite compreender a paisagem da natureza regional e sua leitura como texto. Foi escolhido como base metodológica à história oral, tendo como principal documento à "memória" de pessoas que realizam estas experiências, chamadas "Profetas de Inverno". Assim, trabalhou-se com narrativas de dez sujeitos históricos, moradores dos sítios Zé Antônio, zona rural de Tenente Laurentino Cruz; Baixa do Sítio, zona rural de São Vicente; e Barro Branco, no município de Lagoa Nova. A escolha destes narradores partiu do grau de envolvimento desses sujeitos históricos na manutenção das "experiências de inverno" e da leitura que eles fazem da natureza como uma memória histórica, objeto sobre o qual se investe este estudo
RESULTADOS:
Mediante a realização da pesquisa, constatou-se que o conhecimento popular/tradicional adquirido através da oralidade e repassado de geração em geração - exemplificado nas experiências de inverno praticadas por uma parte dos sertanejos seridoenses - vive um processo de esquecimento, num movimento onde se suprime as tradições, costumes, modos de vida ditos "antigos" em conseqüência do avanço desenfreado e necessário das novas tecnologias da informação. Em síntese, um movimento de negação de um mundo marcado pela memória coletiva, em razão da construção de uma cultura da "não memória".Percebe-se ainda, mediante a análise da fala dos entrevistados um forte choque de concepções existente entre a mentalidade popular (típica de alguns homens e mulheres sertanejas) e a visão científica apresentada diariamente nos telejornais. Dante desse quadro emblemático (o universo tradicional versos a modernidade/pós-modernidade) a saída que lhe parece mais viável é confiar nas suas tradições e desacreditar, quando lhe contradiz, dos estudos meteorológicos. De fato, é aquilo que lhe é próprio, ao contrário das previsões da televisão ditas por pessoas distantes e sem experiência.
CONCLUSÃO:

Considerando o objetivo inicial deste trabalho que era historiar sobre as "experiências de inverno" praticadas nos dias de hoje, época pautada no desenvolvimento tecnológico e cientifico e diante dos resultados da pesquisa foi possível perceber que, embora marginalizado pela ordem social dominante, os sertanejos não são passivos, mas protagonistas de múltiplas "histórias originais", encontrando na natureza referencias de uma memória histórica, que lhes permite construir um cotidiano em meio a uma terra seca. Assim, adentrar no universo do mundo rural possibilitou conhecer a visão que os sertanejos têm a respeito da natureza e, da leitura desta, como "tática" de sobrevivência encontrada pelos homens e mulheres do campo para conviver com longos períodos de estiagem, comum no sertão potiguar. Pois, ao contrário do que se pensava anteriormente, a história não é feita apenas por homens de brasão, citadinos, grandes heróis de armas e espadas, mas pelos "heróis anônimos", que pouco a pouco, vão ocupando o centro das cenas científicas.

Palavras-chave: Experiências de inverno, profetas de inverno, cultura popular.