62ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 12. Neurociências e Comportamento - 1. Neurociências e Comportamento
EFEITOS DO ALCOOLISMO NA SENSIBILIDADE AO CONTRASTE PARA GRADES RADIAIS
Rosália Carmen de Lima Freire 1
Ellen Dias Nicácio da Cruz 1
Cibele Siebra Soares 1
Olívia Dayse Leite Ferreira 1
Natanael Antonio dos Santos 2
1. Lab. Percepção, Neurociências e Comportamento, Universidade Federal da Paraíba
2. Prof. Dr./Orientador - Lab. Percepção, Neurociências e Comportamento, UFPB
INTRODUÇÃO:
O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e se não tratada, potencialmente fatal, sendo caracterizada por uma incapacidade do indivíduo de limitar ou controlar a ingestão de álcool. Ela afeta pessoas de diferentes faixas etárias e classes sociais, e está associada a uma série de consequências negativas, sejam elas físicas, psicológicas ou sociais. No Brasil, estima-se que cerca de 12,3% da população adulta seja dependente de álcool. Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar a percepção visual de contraste de indivíduos alcoolistas, que já tinham superado o período de abstinência, utilizando para tanto a Função de Sensibilidade ao Contraste (FSC). A Mensuração da FSC permite avaliar o limiar ou a quantidade mínima de contraste que o sistema visual humano necessita para detectar uma grade de frequência espacial específica. O aumento do limiar sensório, ou seja, a necessidade do aumento de contraste para detecção dos estímulos visuais pode indicar possíveis alterações que podem ser consequentes de fatores psicológicos, fisiológicos ou sociais. Deste modo, a FSC torna-se eficiente para avaliar o prejuízo do sistema visual provocado por várias doenças.
METODOLOGIA:
Participaram dos experimentos doze voluntários de ambos os sexos, com acuidade visual normal ou corrigida e livres de patologias oculares identificáveis. Seis voluntários eram alcoolistas em recuperação, constituindo o grupo experimental (GE). Os outros seis voluntários não possuíam qualquer outra patologia que afetasse o sistema nervoso central e não apresentavam histórico de abuso de álcool, formando assim o grupo controle (GC). Para a realização dos experimentos foi utilizado um monitor de vídeo LG de 19 polegadas, de alta resolução (1280 x 1024), conectado a um processador de vídeo digital Bits ++ (Cambridge Research Systems, Rochester, Kent, England). O Bits ++ tem a função de aumentar a resolução da tela de 8 para 14 bits, possibilitando a geração de estímulos com melhor definição. A mensuração da FSC de todos os participantes foi estimada com o método psicofísico da escolha forçada, no qual o voluntário tinha que escolher qual, dentre dois estímulos, continha o estímulo teste, que no caso deste estudo foi o estímulo do tipo grade radial. Todas as medidas foram realizadas a distância de 150 cm do monitor, binocularmente, e com luminância média de 42,6 cd/ m2. As frequências de teste utilizadas foram de 0,25; 1,0; 2,0 e 8,0 ciclos por grau de ângulo visual (cpg).
RESULTADOS:
Ao final de cada sessão experimental, o computador gerou uma folha de resposta com os valores de contraste máximos e mínimos obtidos. Estes valores foram agrupados em planilhas de acordo com as frequências e com o grupo dos participantes (GE e GC). A grande média foi utilizada como estimativa do limiar de contraste em função da frequência radial. As análises com a ANOVA para medidas repetidas mostraram diferenças significativas entre os grupos [F(4, 235) = 32,58; p < 0,05]. Já a análise com o teste post-hoc Tukey HSD mostrou diferenças significativas em todas as frequências (p < 0,05). Assim, a sensibilidade ao contraste do GE foi menor em todas as frequências, sendo que os participantes precisaram da ordem de 1,37; 1,46; 1,9 e 1,64 mais contraste para perceberem as frequências de 0,25; 1,0; 2,0; e 8,0 cpg respectivamente. Os resultados deste estudo sugerem que o uso crônico de álcool pode afetar a sensibilidade ao contraste. Estas alterações podem ser devido ao grande tempo pelo qual os participantes ingeriram o álcool abusivamente, e indicam que mesmo com a abstinência alcoólica, as alterações visuais são marcantes.
CONCLUSÃO:
A realização de pesquisas com pacientes alcoolistas é importante, visto que contribui para a caracterização dos mecanismos cognitivos, neurobiológicos e comportamentais relacionados a esta patologia. A investigação destes aspectos pode, por sua vez, ajudar no desenvolvimento de diagnósticos e tratamentos mais eficazes, podendo contribuir também para o entendimento de como se dá a ação desta patologia no organismo humano. A partir dos resultados deste estudo conclui-se que as alterações visuais podem se constituir num aspecto importante no alcoolismo crônico. Ainda que os participantes alcoolistas estivessem em abstinência alcoólica à no mínimo um ano, as alterações encontradas na sensibilidade ao contraste destes foram marcantes. Estas alterações podem ser devido ao grande tempo pelo qual os participantes ingeriram o álcool abusivamente (em média vinte anos), o que pode ter causado tanto lesões nos primeiros estágios do processamento da informação visual (ainda na retina), ou ainda lesões em áreas de processamento visual mais elevadas, como a área V4 e o córtex IT.
Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Palavras-chave: Sensibilidade ao contraste, Alcoolismo, Estímulo radial.