62ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 6. Enfermagem Psiquiátrica
DIÁLOGO EM SAÚDE MENTAL NOS CÍRCULOS DE CULTURA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Álissan Karine Lima Martins 1
Fabiane do Amaral Gubert 1
Izaildo Tavares Luna 1
Ângela Maria Alves e Souza 2
Patrícia Neyva da Costa Pinheiro 2
Neiva Francenely Cunha Vieira 2
1. Discente Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, FFOE, UFC
2. Docente Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, FFOE, UFC
INTRODUÇÃO:
O círculo de cultura constitui espaço privilegiado de trocas, utilizando-se como referências o que é comum à cultura local onde são desenvolvidas as relações de cumplicidade, relacionamento, vínculo e escuta. Com isso, possibilita-se a problematização de questões próprias da realidade e, a partir disso, realizadas reflexões sobre as possibilidades de práxis de determinadas intervenções. Em saúde mental, tem-se o redirecionamento das práticas hospitalocêntricas para as pautadas ao cuidado de base comunitária, com ênfase na inclusão, acolhimento e diálogo. Nesse contexto, a atenção básica em saúde surge como cenário propício para expansão dos modos de lidar e conviver com a pessoa em sofrimento mental, com vistas à sua reinserção e reabilitação, além do aspecto da aproximação com as demandas locais e a abertura ao acesso em saúde. Desse modo, tem-se a oportunidade do uso de tecnologias de cuidado com enfoque na promoção da saúde de modo ampliado, em particular voltadas à educação em saúde onde a enfermagem pode estar atuando como protagonista no processo enquanto facilitadora de ações consoantes com os referenciais propostos pela Estratégia Saúde da Família. Assim, o presente estudo pretende vislumbrar possibilidades de diálogos em saúde mental na atenção básica a partir do uso dos círculos de cultura.
METODOLOGIA:
Trata-se do relato de experiência da aplicação do círculo de cultura realizada em unidade básica de saúde no município de Juazeiro do Norte - CE, com ênfase nas práticas em saúde mental no período de agosto de 2009. Desse modo, participaram das atividades 22 sujeitos que compunham a equipe em saúde, entre acadêmicos e profissionais das equipes de saúde da Estratégia Saúde da Família. Com as informações identificadas no momento que antecederam os espaços da oficina em saúde mental, nas entrevistas e na observação participante por meio das visitas e inserção no campo de estudo, vislumbrando aspectos da saúde mental dentre as práticas dos profissionais, foram identificadas as chamadas palavras geradoras. A fim de reaver os aspectos da cultura e da contextualização da realidade local presentes no cotidiano das equipes de saúde, foi montado no ambiente um espaço de representação dos elementos presentes na comunidade em suas redes de articulação. Desse modo, a oficina seguiu as etapas de acolhimento, tematização, reflexão e fechamento. Houve, desse modo, o uso de técnicas de interação com o estímulo da importância do desenvolvimento do trabalho em grupo. A análise do conteúdo deu-se pela observação dos registros das falas em áudio e vídeo e descrição dos aspectos mais relevantes.
RESULTADOS:
Os participantes contextualizaram as expressões selecionadas no cenário das práticas, estabelecendo os elos entre serviços, comunidade e ambiente. A saúde evidencia-se como componente complexo, estabelecendo relações entre as várias instâncias da vida. Apesar do que hoje se tem pelo processo saúde-doença, as práticas em saúde ainda incorporam conceitos ligados ao biológico em detrimento das demais instâncias de vida dos indivíduos. Nisso, há a centralidade no profissional médico e no especialista, desfazendo as propostas de cuidado a partir da comunidade e da integração entre diferentes classes profissionais. Ainda que haja o predomínio do paradigma biológico, houve nos discursos o destaque a ações voltadas à prevenção e aos aspectos não apenas relacionados ao cuidado a clientela, mas também ao assistir a equipe do trabalho. As medidas efetuadas na Atenção Básica devem acolher aos princípios de interdisciplinaridade, as ações de promoção e a prevenção com base na demanda comunitária, mantendo o foco na família, em seu contexto ampliado de vida e relações. Desse modo, direcionava-se para o componente da promoção da saúde mental, a ser cultivada em todos os sujeitos envolvidos no processo saúde-doença mental, seja profissional, usuário, familiar ou demais membros da comunidade.
CONCLUSÃO:
A prática de atividades em grupo, tais como oficinas, espaços informativos, debates, fóruns, roda de conversas, e nesta experiência, os círculos de cultura, além do caráter educativo como tecnologias educacionais, devem conjugar esforços para a promoção da saúde daqueles envolvidos, valorizando as potencialidades de cada sujeito e permitindo espaços de expressão da escuta, cooperação e entrosamento. Em saúde mental, as relações devem buscar o destaque dos potenciais e a atuação que possibilite a expressão de ambientes saudáveis ao bem-estar. Desse modo, o trabalho em saúde mental não restringe-se apenas à aplicabilidade para a clientela-alvo das intervenções e cuidados em saúde, mas também aos produtores da assistência. Assim, deve-se valorizar dentre a equipe a promoção de espaços para a auto-valorização e o fortalecimento dos vínculos a fim de criar uma atmosfera propícia para o desenvolvimento de ações que promovam a saúde mental de modo ampliado, permitindo ganhos sensíveis e que promovam qualidade de vida a trabalhadores e à clientela acolhida pelas práticas em saúde.
Instituição de Fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior
Palavras-chave: Saúde Mental, Programa Saúde da Família, Serviços Comunitários em Saúde Mental.