62ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM NO SEGMENTO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: CAMPO POLÍTICO DE FORMAÇÃO E INVESTIGAÇÃO
FERDINANDO SANTOS DE MELO 1
1. Professor e Coord. Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação de Salvador/BA
INTRODUÇÃO:

Com o processo de transição do sistema seriado regular para o sistema de ciclos e estágios de aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos a partir de 2007, a Secretaria Municipal de Educação de Salvador passou oficialmente a utilizar pressupostos teórico-metodológicos, tendo como horizonte uma prática de ensino-aprendizagem que priorizasse os diversos ritmos de aprendizagem dos educandos.  Atualmente, o Sistema Municipal de Ensino de Salvador coloca como meta prioritária a construção de uma política efetiva de educação de jovens e adultos, a partir da implementação de um processo pedagógico diferenciado e adaptação às diferentes realidades. Nessa perspectiva, as estratégias de ensino demandadas devem estar sempre convergentes para a dimensão sócio-política e cultural relativa ao universo do educando e da comunidade escolar na qual o mesmo está inserido, valorizando as expressões da vida cotidiana e a construção da cidadania. Assim, este estudo buscou analisar como os professores do Segmento de Educação de Jovens e Adultos, Ciclo I - Estágios I ao IV, mediante a implantação da proposta de ciclos de aprendizagem, vem encaminhando o trabalho com o sistema de notação alfabética; como o conhecimento sobre linguagens e seus códigos vem sendo priorizado nas práticas de ensino; e qual tratamento vem sendo dado aos diferentes ritmos de aprendizagens dos alunos da EJA.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa teve como aporte teórico a Transposição Didática (Chevallard, 1985), a Apropriação dos Saberes da Ação (Chartier, 2000; Albuquerque, 2002) e  Fabricação do Cotidiano Escolar (Certeau, 1985, 1994; Ferreira, 2003) e a Pedagogia da Autonomia (Freire, 1999) com suas diferentes abordagens, mas com seus pontos de inter-relação concernentes ao tratamento dado ao saber e suas vivências na prática escolar, norteando a discussão para a interpretação da construção da aprendizagem no universo da educação de jovens e adultos. Quanto ao método empregado, utilizou a entrevista semi-estruturada e o grupo focal. Para tanto, foram entrevistados trinta professores em três escolas da rede municipal. Os grupos focais foram realizados nas mesmas unidades de ensino, com dez professores em cada grupo, com o intuito de desencadear uma discussão coletiva acerca de suas práticas de sala de aula e dos objetivos específicos da pesquisa, a partir do processo de implantação da proposta dos ciclos, entendendo o grupo focal como uma técnica que permite a obtenção de dados qualitativos acerca de questões de natureza complexa, com um grupo de discussão de tamanho reduzido, cujo intuito é obter informações de caráter qualitativo em profundidade.

RESULTADOS:

No que se refere às formas de ensino de língua portuguesa no 1º ciclo, vinte e um dos trinta professores afirmaram priorizar o ensino com textos, tendo sempre os diferentes gêneros textuais como ponto de partida, em contraposição a uma concepção didática historicamente adotada, o silabário, como principal método de alfabetização de jovens. Esse dado destaca a relevância atribuída ao texto nas aulas de língua, o qual teria passado a assumir um espaço privilegiado no encaminhamento didático dos docentes. Apesar do texto ter sido uma prioridade na prática dos professores, conforme seus depoimentos, o trabalho com produção de textos, especificamente, ocorreu como encaminhamento mais sistemático apenas na prática de seis professores dos estágios III e IV, nos quais os mesmos justificaram que os alunos nesses estágios já podiam ler, escrever e produzir textos com autonomia. Ainda nas atividades baseadas em textos, vale ressaltar que houve quatro casos nos Estágios I e II em que os professores partiam de um texto, mas em seguida, trabalhavam com palavras e letras a partir daquela unidade lingüística. Outras atividades adotadas por docentes do Estágio I foram o ditado e a lista de palavras, com vocábulos que refletiam a realidade de vida dos estudantes, a fim de que estes discutissem entre si a escrita das palavras e interagissem na resolução do que estava sendo solicitado: a grafia. Nesse caso, os professores pareciam estar mais preocupados com a construção do sistema de notação alfabética pelo aprendiz do que com a produção textual e a com a leitura de mundo. Por fim, ao abordar a heterogeneidade na sala de aula, os educadores atribuíram a mesma a diversos fatores, mais precisamente a aspectos individuais dos aprendizes e/ou extra-escolares. Não se referiram às suas práticas de ensino ou a questões da própria instituição escolar.

 

CONCLUSÃO:

Os resultados apontam que a proposta de alfabetizar e de construir conhecimentos a partir de textos e de outras atividades de letramento possibilita contribuições significativas na educação de jovens e adultos. Uma delas relaciona-se a necessidade de trabalhar os conteúdos curriculares de forma contextualizada, o que requer conhecimento e reflexão sobre a realidade social dos educandos. É importante compreender que o trabalho com conteúdos alfabéticos exige um processo sistemático de reflexão sobre suas características, suas regularidades e suas funcionalidades, uma vez que a condução desse processo, na realidade pesquisada, é atribuição de um único professor,ou seja, o docente que trabalha linguagens e seus códigos é o mesmo que ministra as demais áreas do saber até o final do primeiro ciclo, que equivale as quatro primeiras séries do ensino fundamental e tem duração de dois anos no sistema ciclado soteropolitano. A partir dos dados coletados, verificou-se que não é possível continuar tratando a construção da aprendizagem em suas diferentes áreas, dissociada dos objetos do saber, nem tampouco desconsiderar as especificidades das práticas escolares cotidianas, uma vez que são fundantes para transformar o Segmento de Educação de Jovens e Adultos num campo eminentemente político de formação e investigação, que atenda às reais necessidades do processo de ensino-aprendizagem, viabilizando, assim, o pleno êxito dos educandos.  

 

Palavras-chave: Construção da aprendizagem, Prática docente, Educação de Jovens e Adultos.